
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
A vanguarda marinista

O complexo de vira-latas do estadão
Vejamos em que se baseia o jornalão para fazer essa avaliação tão negativa da política externa do governo Lula.
Segundo o estadão, “O apoio de Lula ao presidente iraniano foi desastroso perante a imprensa americana”. Aí eu pegunto: E daí? Será que o Barack Obama está preocupado com o que pensa a imprensa brasileira a respeito de sua administração? Será que a imprensa americana se interessa pelo que a imprensa brasileira pensa do seu presidente?
Outra coisa que, segundo o Estado de São Paulo, tem levado o Brasil a ficar em maus lençóis perante os EUA é a insistência do patropi em querer defender pontos de vistas diferentes dos “dos caras”: “Lula também foi criticado pela imprensa americana e por analistas qualificados por se meter na política centro-americana sem saber o bastante sobre a região. Sua intervenção em Honduras foi vista como um obstáculo à solução da crise - erro agravado com a insistência em não reconhecer a legitimidade das eleições.” ( Note a reverência com que o jornal brasileiro trata a imprensa americana. Será que o NY Times já ouviu falar do estadão?) Ora, primeiro, Lula não se meteu na história, meteram ele nela. Segundo, em que momento o suposto desconhecimento da região por parte de Lula afetou a reação do Brasil ao golpe de Estado? Qual foi a intervenção do Brasil em Honduras, a não ser abrir as portas para que o presidente constitucional de Honduras não fosse preso ou assassinado? Por que haveria o Brasil de reconhecer, logo assim de cara, uma eleição que foi conduzida por um governo golpista? Considero a atuação do Brasil no caso irretocável! E pouco me importa o que a imprensa americana acha disso.
“Para Moisés Naim, editor da revista Foreign Policy, "o Brasil se comporta como um país em desenvolvimento imaturo e ressentido"” E eu considero os EUA um país imperialista e arrogante, e daí? Seria a mesma coisa do Mario Sabino, editor da VEJA, dizer que acha os EUA feios e bobos e o, sei lá, Chicago Tribune achar importantíssima essa declaração, a ponto de reproduzi-la em seu editorial.
Aí, o estadão fecha o editorial com chave do ouro: “Para ter influência global, comentou o Washington Post, o Brasil teria de abandonar o terceiro-mundismo de sua política externa. Não é provável que isso aconteça com o Itamaraty sob o domínio ideológico dos atuais formuladores da política externa.” Para começo de conversa, a política externa de Lula pode ser acusada de excesso de pragmatismo, nunca de excessivamente ideológica. Ora, é justamente essa estratégia de independência adotada pelo governo Lula e pelo Itamaraty que fez com que tantas portas se abrissem para o Brasil, inclusive ampliando o nosso leque de parceiros comerciais, o que, sem dúvida, foi muito importante no enfrentamento da crise. Ou será que o estadão queria que o Brasil fosse o Robin do Batman EUA? Quem sabe eles preferissem que ainda fôssemos um país-capacho, cujo chanceler tirasse os sapatos para qualquer funcionário da alfândega americana que o olhasse com cara feia...
Se seguíssemos as opiniões da grande imprensa brasileira, estariamos ainda longe de vencer nosso complexo de vira-latas.
domingo, 13 de dezembro de 2009
Contradições e pragmatismo
Estive refletindo muito sobre esse aparente paradoxo em conversas, no twitter e em comentários em blogs, com o Hugo, a Flávia e o Alexandre. De fato, meu coração pulsa socialista. E também petista. E apesar de não ter superado o capitalismo (para Delfim Neto, Lula salvou o capitalismo), considero o governo Lula muito bom. Excelente até, em algumas áreas. Quando se compara com os anteriores os feitos de Lula ficam ainda mais extraordinários. Tenho uma admiração muito grande por ele, donde alguns podem me considerar lulista.
Em minha opinião, não se pode pretender implantar o socialismo, nem que seja o do “século XXI”, de cima para baixo. Poder, pode. O problema é mantê-lo depois sem um nível de autoritarismo muito acima do aceitável. E mesmo assim a chance de dar com os burros n’água é muito grande. Como diz o Hobsbawm: “(...) só o poder ilimitado não podia suplantar as vantagens e habilidades da autoridade: um senso público de legitimidade, um grau de apoio popular ativo, a capacidade de dividir e dominar e – sobretudo em tempos de crise - a disposição dos cidadãos a obedecer.(...) o século XX mostrou que se pode governar contra todas as pessoas por algum tempo, contra algumas pessoas por todo o tempo, mas não contra todas as pessoas todo o tempo”. Portanto, é preciso que as pessoas estejam convencidas de que há uma alternativa melhor que o capitalismo. Isso exige, no mínimo, que as pessoas sejam politizadas, que elas entendam que a política pode realmente interferir nas suas vidas, e que ela não é apenas disputas que alguns espertos travam para ver quem vai ter o direito de roubar o dinheiro público. A melhor estratégia que eu conheço para isso é a gramsciana de ocupar os espaços burgueses (e a internet, claro!) e criar uma nova hegemonia. Essa estratégia, no entanto, é sobremaneira dificultada pelo aburguesamento (Lênin já alertava para esse perigo no começo do século passado) e alienação progressiva da nossa classe trabalhadora.
O caminho, portanto, para se chegar a uma sociedade socialista “sustentável” pode ser longo, incerto e propenso a idas e vindas. Enquanto a revolução não chega, as pessoas precisam comer, ter acesso à saúde, ao lazer etc. Chegamos onde eu queria. A superação do capitalismo ainda não parece iminente, duas forças políticas disputam palmo a palmo poder no Brasil nas duas últimas décadas, o que fazer? Chorar e fazer biquinho? Apoiar uma “terceira via” fadada ao fracasso? Ou lutar para que o pólo de centro-esquerda vença o de direita e consolide as formidáveis conquistas dos anos Lula?
Fico com a última opção, claro. E é assim que lido com essa minha aparente contradição. Acho que a social-democracia não deve ser encarada como o inimigo a ser batido, como foi no passado (com razão, diga-se). Ela é aliada na medida em que é a única alternativa atualmente viável ao neoliberalismo. Além disso, vem mostrando resultados bastante razoáveis nos últimos 7 anos.
Resumindo: meu coração é socialista, petista e lulista. E não considero isso um paradoxo. É questão de estratégia e, claro, pragmatismo.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Wordpress?
Pretendo manter este blog aqui até o fim do ano e o primeiro post de 2010 já seria no blog novo. Manterei o mesmo nome do blog atual e deixarei este aqui, como registro do que escrevi até hoje.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Estreia no Amálgama
domingo, 29 de novembro de 2009
Abaixo do fundo do poço
Pode-se esperar que um ressentido, com conhecido histórico de problemas de ordem psicológica escreva um artigo nojento desses. Mas o que leva um jornal a publicá-lo? Não só isso, a Folha parece que preparou o terreno para a “notícia” bombástica. Sem mais nem menos, dedicou litros de tinta para falar de “Lula, o filho do Brasil”, sem que nada de novo tenha ocorrido: a apresentação do filme no festival de Cinema de Brasília já tinha sido há mais de uma semana, não houve ainda estreia oficial nos cinemas...E foi com a desculpa de fazer uma crítica ao filme que Cesinha escreveu o texto infame. A Folha não é inocente, ela tem consciência da repercussão que uma “revelação” dessas teria, mas mesmo assim ela resolveu publicar o artigo contendo essa acusação gravíssima contra o presidente da República, sem ao menos procurar Paulo de Tarso, o publicitário que César Benjamin apontou como testemunha da conversa. Mais um exemplo típico de “jornalismo cafajeste” praticado pela Folha de S. Paulo nos últimos anos. Então cabe perguntar: a quem interessa o jogo jogado nesse nível? Hum, deixa eu pensar... Parece que tem um governador, pré-candidato a presidente, muito admirado pelos Frias, que não andou tendo boas notícias nos últimos dias... E é triste que, mais uma vez, segmentos da esquerda façam o trabalho sujo para a direita.
Resumindo: a Folha pegou um artigo nojento escrito por um perdedor desequilibrado, afirmando que, há 15 anos, o presidente da república confessou ter tentado praticar um crime em 1980. Pouco verossímil, para dizer o mínimo. Por que então Cesinha, tão zeloso, não contou essa história antes? Por que não a revelou, por exemplo, em 2006, quando formou a chapa moralista com Heloísa Helena? Por que, até a publicação do artigo, ninguém ficara sabendo dessa história tão cabeluda envolvendo uma pessoa que está em evidência no Brasil há mais de 30 anos?
Paulo de Tarso negou que tivesse havido tal conversa; o cineasta Sílvio Tendler, também presente à reunião, disse que Lula fizera uma brincadeira, “como outras 300”, que qualquer um entenderia como tal, menos o Cesinha, que a transformou num drama; José Maria, ex-candidato e presidente pelo PSTU e companheiro de cela de Lula, disse que César Benjamin “viajou na maionese”, que essa história simplesmente não aconteceu e não poderia ter acontecido; Romeu Tuma, comandante do DOPS à época, e o delegado Panichi, responsável por vigiar Lula na prisão, disseram o mesmo, assim como as outras pessoas que dividiram a cela com Lula; até o tal “menino do MEP” disse que isso é uma mar de lama e “quem escreveu essa história, que a comprove”... Ou seja, ninguém corroborou com a história do Cesinha. Isso dá margem para muita especulação: desequilíbrio mental do autor, dinheiro na jogada... Sei lá, só sei que isso não está cheirando bem e que o jogo jogado nesse nível interessa a uma pessoa, e vocês sabem quem.
PS: O interessante é que até agora ninguém da oposição bateu tambor para essa “notícia”. Por que será?
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
domingo, 22 de novembro de 2009
Lula, el hijo del Brasil
Veja esse trecho de um pequeno documentário (em 8 partes), realizado pela televisão pública argentina ,sobre Lula, esse cara que cada dia mais me enche de orgulho de nele ter votado todas as vezes que votei para presidente - em 1998, 2002 e 2006.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
A última dos patetas da oposição
Não tardou para que a oposição chiasse. “É um claro instrumento de promoção eleitoral, para Lula e para quem mais ele quiser”, disse José Agripino Maia. Representantes da oposição têm dito que o filme tem caráter eleitoreiro.
Como disse a ministra Dilma Rousseff, essa turma é patética, não é? Ora, primeiro, Lula, a pessoa que é retratada no filme, não é candidato, a candidata é a ministra. Segundo, não foi usado um tostão de dinheiro público, nem sequer por meio de incentivos fiscais, para a realização do filme. Por que então seria ele eleitoreiro? Por um acaso a oposição, tão defensora do livre-mercado e da livre-iniciativa, gostaria de censurar uma obra realizada cem por cento com dinheiro privado? A oposição acha que os realizadores têm que pedir permissão para alguém para retratar quem quer que seja num filme? Eles não acham que as pessoas têm direito escrever, filmar, encenar o que elas quiserem? Eles agora são favoráveis ao "dirigismo cultural"?
Ora, o filme poderia ser considerado eleitoreiro se víssemos o seguinte cartaz por aí:
Petrobrás, Eletrobrás, BNDES e Banco do Brasil
apresentam:
Dilma, a mãe do PAC
Como não é esse o caso, nem vem que não tem.
Para a oposição não ficar chupando o dedo, aqui vão algumas sugestões de filmes que eles poderiam tentar produzir e que certamente seriam um sucesso de público:
“FHC, o filho da Sorbonne” (via Hermenauta)
“Os Maias”, sobre a fascinante trajetória de César e Rodrigo Maia (idéia do ministro Paulo Bernardo)
"José Serra, o vampiro do Brasil"
"Agripino, o filhote da ditadura do Brasil"
"FHC, o conquistador brasileiro" ou "FHC, o homem que amava as mulheres"
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
As pessoas e os indivíduos
Neste livro, o autor apresenta a tese de que há uma diferença básica na constituição das sociedades tradicionais e das sociedades modernas burguesas. Aquelas são constituídas por pessoas, estas, por indivíduos.
Numa tribo indígena, um cara que nasceu filho do pajé não é tratado da mesma forma que o filho de um guerreiro. Na Índia, a lei que vale para um Dalit não é a mesma que vale para um Brâmane. Nestas sociedades tradicionais, existem pessoas que, juntas, formam o todo. Já nas sociedades modernas burguesas espera-se que todos os indivíduos sejam submetidos às mesmas leis, independentemente se ele é filho do Sarney ou se tem um carro do ano.
Claro que essa divisão não é uma coisa tão rígida assim. No Brasil, por exemplo, a dialética indivíduo-pessoa ocorre a todo momento. Veja, quando estou em casa, eu sou uma pessoa: o filho, o pai, o irmão... Ao colocar os pés na rua, imediatamente me torno um indivíduo. Num ônibus lotado sou um indivíduo ladeado por outros tantos iguais a mim; quando chego ao meu trabalho, sou tratado como uma pessoa. No jargão policial: “O indivíduo roubou o carro e fugiu”. Mas quando o bandido é um banqueiro ninguém diz que um indivíduo tentou subornar um policial federal. Os exemplos abundam. A pessoa tem relações, privilégios, um papel definido e não está submetida às mesmas leis que os indivíduos. “No Brasil, (...) o sistema é dual: de um lado, existe o conjunto de relações pessoais estruturais, sem as quais ninguém pode existir como ser humano completo; de outro, há um sistema legal, moderno, individualista (ou melhor: fundado no indivíduo), modelado e inspirado na ideologia liberal e burguesa. É esse sistema de leis, feito por quem tem relações poderosas, que submete as massas”, diz Roberto Damatta.
***
No dia 2 de outubro, dia em que o Rio venceu a disputa para sediar os jogos olímpicos de 2016, na hora do anúncio, eu estava no aeroporto de Brasília, vidrado na televisão. Ao meu lado, uma multidão se aglomerava na ala de alimentação do aeroporto.
Lula deu uma linda entrevista ao repórter Pedro Bassan da Globo. Todos, emocionados, ficaram em silêncio para ouvir o presidente. Muitos com lágrimas nos olhos, inclusive eu.
A certa altura, o presidente disse: “Esses país...”. Um engraçadinho não perdeu a oportunidade de espezinhar: “hahaha. Esses país! Não é esses países, não, gente. É “esses país”. Esse é o nosso presidente!”
Ninguém deu muita bola a esse comentário, a não ser um garoto mal saído das fraldas, que deu uma risadinha. Mas eu fiquei com aquilo na cabeça. Por que será que alguém, num momento daquele, faria aquele comentário? Não fazia sentido. Todos emocionados, comemorando, felizes, e o cara resolve fazer uma piadinha com um banal erro de português do presidente!?
Note que ele fez questão de dizer: “Não é esses países, não, gente. É ‘esses país’”, como que dizendo: veja como eu sei como é o certo.
Pareceu-me que, na esteira do preconceito lingüístico, o subtexto da piadinha do cara era: Eu sou uma pessoa, não um indivíduo, um pé-rapado gentinha que vota nesse analfabeto. Quando confrontado por qualquer porteirozinho de prédio, eu posso dizer: “Você sabe com quem está falando?” Sou cunhado do chefe de gabinete do deputado fulano, sou chamado de doutor, o gerente do meu banco me conhece pelo nome. Uma pena que um monte de indivíduos vote nesse cara que não sabe que o certo é “esses países”...
Como todos nós sabemos, o preconceito lingüístico é primo-irmão do preconceito social. Só pobres, favelados, Zé manés dizem “esses país”. E devem ser ridicularizados por isso, esses indivíduos.
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
"Perdi a parada, mas fico contente"

Valor: Como é sua avaliação do governo Lula?
Conceição: Muito boa. Esta é a minha avaliação e de 70% da população. Na verdade, só a classe média dita ilustrada e a grande imprensa são contra. Contra também não sei o quê. Caiu a inflação. Portanto, mantiveram a política econômica dura que diziam que não iam manter, mas mantiveram. Contra meu ponto de vista. Perdi a parada, mas fico contente que tenha perdido, porque naquela altura ia ser complicado. Como estava tudo fora do lugar, era muito ousado fazer uma política alternativa no início do primeiro mandato. Do ponto de vista da política macro, eles começaram a fazer coisas no segundo mandato. Mas não creio que vão terminar. Fizeram o correto na infraestrutura, contemplando obras nas regiões Norte e Nordeste, como a ferrovia Transnordestina, a Norte-Sul, a transposição do rio São Francisco e portos. O PAC é uma seleção de projetos muito pesada e muito boa, de que não convém desviar. Também acertaram na política social, com o Bolsa Família. O governo Lula está tocando três coisas importantes: crescimento, distribuição de renda e incorporação social. E ainda por cima fez uma política externa independente. Por que acha que ganhamos a Olimpíada? [a escolha do Rio de Janeiro para sede dos jogos, em 2016]. Porque passamos a ter prestígio de fato lá fora.
Aqui a entevista completa.
sábado, 31 de outubro de 2009
A sucessão de tempos presentes
Esse belo trecho foi retirado do livro “O tempo e o cão”, de Maria Rita Kehl. E serve como uma luva para explicar o meu sumiço. Tenho tido tantos compromissos, tantas responsabilidades, tantas demandas a atender que simplesmente não tem sobrado tempo para cuidar deste blog. Ora, manter um blog não é só escrever qualquer besteira só pra falar que escreveu. Se for para ser assim eu não quero. É preciso despender um mínimo de tempo para elaborar e escrever alguma coisa que valha a pena ler. Pois é, mas "a sucessão de tempos presentes” que foram minhas últimas semanas fez com que eu não conseguisse nem esse mínimo de tempo e que, consequentemente, este blog ficasse meio abandonado. Mas esse hiato teve um ponto muito positivo: percebi o quanto eu gosto de manter este blog, o quanto ele é importante para mim. É aqui que eu procuro distender o tempo, refletir, fugir um pouco da opressão do dia-a-dia. E isso me faz tão bem, é quase uma terapia...
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
João Gilberto no "Ídolos"

João Gilberto entrou timidamente, muito sério, e se encaminhou ao centro do palco, onde tinha um banquinho, conforme solicitado à direção do programa. Ele se sentou, acomodou seu violão sobre a coxa direita e iniciou a interpretação da canção "Besame Mucho". Ao fim, foi julgado pelos jurados do programa:
Luiz Calainho: "Querido, vamos começar pelo figurino. Não gostei! Não acho que terno seja a roupa adequada para alguém que pretende ser o novo ídolo do Brasil se apresentar. E, convenhamos, você não está usando nenhum Amani, né? Esses óculos, não sei, não lhe caem bem. São muito pesados, te deixam com a expressão carregada... E acho que você não conseguiu passar emoção aqui pros jurados e pro público de casa... Você cantou só pra você, pra dentro... Ficou só olhando pro violão... Faltou soltar mais a franga! Não senti sua energia."
Paula Lima: "Sei lá, achei que você teve muita personalidade para escolher essa música! Bacana, um artista tem que ter personalidade. Mas faltou uma pimentinha aí... Talvez você estivesse nervoso, porque você, hum, desafinou um pouco. Algumas vezes a nota que você cantava não correspondia à nota que você tocava no violão, sabe? Sua voz ora se adiantava, ora se atrasava em relação à batida do seu instrumento. Você precisa trabalhar isso melhor. Se liga nisso, João! Faltou também mais comunicação com o público. Tem que se entregar, João! Soltar a voz! O público quer ouvir a sua voz!"
Marco Camargo: "De artista você não tem nada. Não consigo imaginar um cantor consagrado chamado João Gilberto e usando esses óculos que parecem com os que meu avô usava! Além disso, você escolheu muito mal a sua canção. Ela é muito morna, meio brega e, João, você não conseguiu mostrar a potência vocal que essa música permite. Ou seja, ela não combina com você, não bate, entende? Você fez tudo errado: escolheu mal a música, ficou estático, olhando pro violão o tempo todo, desafinou, não dançou...Parece que você se esconde atrás do seu instrumento e fica lá, cochichando. Desse jeito você não vai longe. Definitivamente você não serve para ser o novo ídolo do Brasil!"
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
O IPEA, o antropólogo e o capitalismo de compadres
É aquela velha história: o problema do pobre é que seu amigo também é pobre.
Esse estudo do IPEA confirma com números o que Roberto DaMatta teorizou me “Carnavais, Malandros e Heróis”: “No Brasil, o ato de individualizar-se pode ser equivalente a uma renúncia do mundo, mas (...) o indivíduo é também aquela entidade social que pertence ao mundo anônimo das massas. (...) Trata-se (...) de recusar um poderoso sistema de relações pessoais. E isso, no caso brasileiro, conduz à rejeição da família, do compadrio, da amizade e do parentesco, deixando quem assim procede na situação de certos migrantes nossos conhecidos: inteiramente submetidos às leis impessoais da exploração do trabalho e ainda aos decretos e regulamentos que governam as massas que não têm nenhuma relação. Por serem assim é que podem ser exploradas através de um conjunto de leis impessoais. Quando se trata de rejeitar o mundo, rejeita-se no Brasil o universo das relações pessoais, para cair de quatro no universo das leis impessoais, essas regras que esfolam e submetem todos os desprotegidos (ou seja, gente sem relações, gente indivisa)”. E continua: “No Brasil, (...) o sistema é dual: de um lado, existe o conjunto de relações pessoais estruturais, sem as quais ninguém pode existir como ser humano completo; de outro, há um sistema legal, moderno, individualista (ou melhor: fundado no indivíduo), modelado e inspirado na ideologia liberal e burguesa. É esse sistema de leis, feito por quem tem relações poderosas, que submete as massas. (...) A consequência disso é uma estrutura dual que tende a autoalimentar-se na dialética da lei draconiana e impessoal e do sistema de relações pessoais que permite, por causa disso mesmo, saltar a regra e o decreto. Daí a profunda verdade sociológica do ditado: “Aos inimigos, a lei; aos amigos, tudo!” Dir-se-ia (...) que: “aos bem relacionados, tudo; aos indivíduos (os que não tem relações), a lei””.
Meus amigos, vamos trocar tudo isso em miúdos: o estudo do IPEA confirma o que escreveu Damatta há mais de três décadas e prova por A + B que nosso capitalismo é realmente de compadres.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Uma espécie decadente: a velha classe média
Bom, tudo explicadinho nos seus miiiiiínimos detalhes, vamos ao que interessa.
Neste fim de semana estive em Brasília e trouxe para vocês um exemplo de um espécime que abunda na asa sul do plano piloto e na região do Savassi e Belvedere, aqui em BH. Lendo uma revista semanal distribuída gratuitamente na Capital Federal, deparei-me com essa "carta ao editor":
"Lula se dispõe a fazer compra faraônica de armamento antibélico para defender nossas riquezas de invejosos inimigos hipotéticos.
Bilhões serão gastos e debitados nas contas de todos nós...
Bem mais modesta, só quero poder comprar uma caixinha de Tamiflu para defender meus netos de um inimigo certo e conhecido, e não posso.
Dinheiro para isto eu tenho... não consigo é o remédio, para tê-lo em casa e assim garantir que não vou chorar a perda irreparável de um ente querido (...)"
Veja que gracinha, ela quer só comprar um remedinho pra estocar em casa e usar na eventualidade de um netinho precisar... Dinheiro para isso ela tem, ora essa! Não importam os outros, "a gentinha e a gentalha", o que interessa é ELA se sentir segura.
Notem, esse discurso comprova que o Ministério da Saúde acertou ao comprar todo o estoque de Tamiflu que a Roche ofereceu ao Brasil e manter essa medicação disponível somente no serviço público de Saúde, onde TODOS têm acesso (ter urticária de enfrentar fila ao lado de "gentinha e gentalha" é outra história). Se o MS liberasse a venda de parte do estoque nas farmácias e a pandemia de gripe suína fosse tão catastrófica como alguns apregoavam, certamente faltaria medicação para a população mais pobre, já que, por causa do alarmismo causado pela imprensa, ocorreria uma "corrida às farmácias"e esse Tamiflu seria estocado pela turma do "dinheiro para isso eu tenho".
Este humilde blog gostaria, portanto, de parabenizar o ministro José Gomes Temporão e o Ministério da Saúde por ter tido coragem de enfrentar a imprensa oposicionista e a parte da população por ela doutrinada e, sem populismo, ter feito a coisa certa.
***
Como eu disse, estive em Brasília neste fim de semana. Estava acertando algumas coisas, pois planejava me mudar para lá no início do ano que vem. Como fiquei sabendo anteontem que fui aprovado no concorrido concurso do Hospital das Forças Armadas, esse resto de ano vou ficar na ponte aérea BH-BSB.
Pois bem, na sexta a noite fui jantar com um dos meus futuros patrões e sua esposa. Na mesa, além deles, estávamos eu, minha esposa, meu pai e minha mãe. Conversa vai, conversa vem, eles começaram a falar de política.
Então a esposa do meu futuro patrão começou a destilar aquela velha cantilena: "Eu fiquei sabendo, por fonte segura, que Lula vive bêbado"; "Você acha que eu votaria em quem não estudou? Assim eu desvalorizaria o meu currículo"; "Você viu aquela reportagem da Veja? Aquela sobre MST, que foi capa da revista? Pois é, um absurdo esses vagabundos..."; "O bolsa família só serviu para deixar os pobres preguiçosos."... E por aí foi. Eu fiquei calado, muito incomodado com aquilo, mas fingindo que não estava ouvindo. Então ela se virou para minha esposa e perguntou:
-Você vai votar na Dilma?
-Vou - respondeu a minha esposa.
-E você? - perguntou para mim.
- Também - respondi convicto.
Então ela percebeu que o terreno não lhe era inteiramente favorável, mas mesmo assim ela tentou uma cartada final:
- Você viu o que a Dilma fez com aquela moça da Receita? Você viu que absurdo? Você viu?
- Não, não vi. O que ela fez? - eu disse ironicamente.
- A a a... e e e.. ( gaguejando) Dilma pressionou ela... Você não viu isso?
- Você caiu nessa? Dilma e Lina não estavam na mesma cidade no dia que ela alega ter se encontrado com a ministra. Você acha que Dilma e Lula a desafiariam tão enfaticamente se não tivessem certeza?
- Não sabia desse negócio de que elas não estavam na mesma cidade... Mas tem muita corrupção por aí... Bom, é melhor pararmos de falar nisso , pois nós nunca entraremos num acordo - disse ela.
O assunto acabou aí. Não foi muito prudente eu ter contestado a mulher do meu futuro patrão, mas, vocês hão de convir, foi ela que puxou a conversa comigo.
***
Quando ouço discursos como aquele da "carta ao editor" e esse da leitora da Veja, eu fico extremamente desanimado. Fico realmente abatido, triste. Mas é só eu parar para pensar um pouco e logo me animo. Penso que essa velha classe média fala muito alto, faz barulho, mas é minoritária, não apita mais nada. Eles são o quê? 5? 3? 8% da população brasileira?
Está cada dia mais evidente, apesar de muitos ainda não terem notado, que os 8 anos de governo Lula mudaram a composição da sociedade brasileira. A expansão do crédito consignado, o ProUni, o aumento real do salário mínimo e o Bolsa Família proporcionaram a ascensão de uma nova classe média, a "nova elite morena", como diz Mangabeira Unger. Ela é mais numerosa do que a velha classe média, não tem os seus preconceitos e reconhece os avanços do Brasil durante os anos Lula. Ela não é ouvida pela mídia corporativa, mas sua voz é sussurrada nas esquinas e nos bares. Então, aquele negócio de que a decisão do voto sai lá do andar de cima e vai formando a opinião da turma da base da pirâmide já era. A nova classe média funciona como uma barragem e ela vai ser determinante para a inevitável vitória de Dilma. Ou alguém acha que a base da pirâmide engole o papo da elite e da velha classe média?
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
O ministro que está se saindo melhor que a encomenda
Veja aí o vídeo em que o Ministro do Meio-Ambiente Carlos Minc defende, pra lá de descontraidamente, durante um show da banda Tribo de Jah, uma bandeira pela qual este que vos escreve já se bateu muito: a descriminalização do usuário de maconha. Na verdade, eu sou a favor da legalização e normatização da sua comercialização, mas a descriminalização já seria um ótimo começo.
Ah, e antes que alguém venha me chamar de maconheiro, eu já me adianto: "fumei, mas não traguei" ;-)
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Já era hora: minha opinião sobre a candidatura Marina Silva
Flávia,
Você tocou em tantos pontos interessantes aqui que eu não sei se vou conseguir comentar todos, e esse assunto Marina rende tanto...
Antes de qualquer coisa, gostaria de saber se, para você, essa mudança de paradigma que representaria a candidatura Marina seria devido à candidatura em si, ao seu discurso e tal, ou a um eventual governo verde?
Bom, Flávia, a mensagem principal que você me passou aqui é que você acha que algumas críticas à candidatura Marina são precipitadas e que seria necessário dar mais tempo ao tempo pra saber qualé a dela. So far...
Quando surgiu esse papo de que Marina sairia do PT rumo ao PV pra se candidatar à presidência, logo me vieram à cabeça dois nomes: Soninha Francine e Ralph Nader. A primeira pelo fato de ter abandonado seu partido de origem e ingressado em outro com posições políticas duvidosas, após ter recebido a promessa de que seria candidata a um cargo majoritário, o que não ocorreria no partido que ela deixou; o segundo por ter sido um candidato com discurso bonitinho, bacaninha e moderninho que acabou servindo à direita, como disse o Maurício aí acima. Têm elementos que a aproximam desses dois personagens - esses que apontei acima - como têm também outros que a diferenciam. O lance dela com o PV é muito diferente do de Soninha com o PPS, pois ela terá metade dos votos do diretório do partido (e além do mais, Marina não é Soninha, vamos combinar) . E, no Brasil, temos segundo turno, o que não acontece nos EUA. Então, mesmo que a candidatura de Marina sirva, à primeira vista, muito mais à direita do que à esquerda, o voto que ela roubaria de Dilma no primeiro turno, voltaria para a petista no segundo (e eu não sei se será de Dilma que ela roubará mais votos.Eu tenho dito e apostado que Heloísa Helena será quem mais perderá votos: parte do eleitorado desiludido, do indignado, do "cansado" e do evangélico). Isso está muito claro pra mim.
Vamos à prática. Se Marina for candidata sem uma aliança surpreendente (sei lá, vai que ela seduz o PMDB, já pensou? Ou se alie ao PSDB e vai ela na cabeça da chapa e Aécio de vice. Convenhamos que essas hipóteses são pra lá de inverossímeis) ela terá 2 minutos diários de tempo de TV, pouco dinheiro e pouca estrutura partidária – embora sua candidatura possa empolgar militantes -, o que significa que não irá para o segundo turno. Somando isso ao fato de que o segundo turno ocorreria de todo modo, entre Serra e um candidato governista, provavelmente Dilma, eu concluo que estamos gastando tempo, energia, tinta e bytes com um assunto que não terá tanta importância prática assim. Aliás, terá, indiretamente, se essa candidatura for o que faltava para estimular Ciro a concorrer à presidência. Aí sim terá importância, só não tenho certeza se isso será bom ou ruim para Lula e o PT.
Do ponto de vista prático, acho que a única importância que ela teria seria essa, mas, obviamente, do ponto de vista simbólico são outros quinhentos, como você e o Alexandre (naquele post que você linkou) bem disseram. O respeito ao meio ambiente e reflexões sobre os modos de produção e consumo (o desenvolvimento sustentável e tudo o mais) entrarão na agenda e deverão constar do programa de todos os candidatos. Mas não acredito que em curto prazo esses assuntos sejam enfrentados, pois acho que os anos Lula abriram portas que levam o Brasil para outra direção: expansão econômica baseada em crescimento do mercado interno, em decorrência do aumento real do salário mínimo, em programas de distribuição de renda e em crédito consignado (tudo isso com não desprezível impacto na diminuição das desigualdades sociais); aumento da importância do petróleo na nossa economia; crescimento das exportações (espero que o próximo governo dê preferência à agricultura familiar em detrimento do agronegócio)...
Bom, pra finalizar esse meu comentário tão grande quanto confuso, a minha torcida é para que essa candidatura Marina sirva para lançar ideias “verdes” que sejam utilizadas por Dilma em seu governo. Mas não acredito em grandes mudanças (de paradigma) enquanto o quadro político-partidário continuar o mesmo. Podemos ter melhoras, ajustes, mas não superação do nosso modo de produção e consumo. Acho que isto é o máximo que a esquerda pode esperar, pelo menos a curto prazo, de herança da candidatura de Marina Silva: alguns tons verdes em um governo vermelho desbotado. Mas isso não é motivo pra muita tristeza: a outra opção é muito pior.
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Os fanzocas do Agripino e a dissolução da ideia de raças
Não que lá também não sejam possíveis discussões proveitosas. Embora mais superficiais e fragamentadas, são possíveis e frequentes, lógico que dependendo de quem são seus interlocutores. Neste fim de semana, por exemplo, eu participei de vários debates interessantes: sobre sexismo, religião, política, sobre o papel que Marina Silva desempenhará em 2010... Mas não vou falar aqui sobre nenhum desses, falarei sobre outro, que envolveu a @equipeagripino.
Por causa da oposição do DEM à aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, os fanzocas do senador José Agripino Maia foram provocados via twitter e tiveram que sair em defesa do seu partido. Primeiro tuitaram isso: "Somos biologicamente iguais. O DEM acredita ser erro dividir país em raças (conceito ultrapassado). Defende cotas sociais." Claramente preocupados com a soberania nacional, afirmaram: "O conceito de raças é uma criação de colonizadores europeus. Geneticamente somos iguais: é o que diz a ciência atual." Então, várias pessoas contestaram: biologicamente não existe divisão racial, mas culturalmente sim. O racismo está aí, o que o DEM sugere? A @equipeagripino respondeu "brilhantemente" a esses questionamentos: "Preferimos tentar dissolver a ideia de raças", e acrescentou, dando prova irrefutável de que as cotas raciais não estão com nada: "Obama não precisou de contas raciais". E, aos que discordaram de suas opiniões, sugeriu a leitura de "Ironia, Contingência e Solidariedade", de Richard Rorty, autor que é radicalmente a favor das cotas raciais, como prontamente nos lembrou Idelber Avelar.
Se prevalecerem as ideias do DEM, resta-nos torcer para que daqui a trezentos anos a ideia de raça se dissolva e, assim, finalmente, logremos a democracia racial, a mais brasileira das utopias. E até lá, como ficam os negros? Sei lá, pergunta pro pessoal do DEM, a grande novidade do quadro partidário brasileiro e, evidentemente, um partido muito comprometido com a defesa dos direitos das minorias, como comprova esta declaração de José Bezerra Júnior, suplente de José Agripino Maia (DEM/RN), sobre o ministro do Meio Ambiente Carlos Minc: "Minha família tem 250 anos de tradição na pecuária desse país e hoje chega um maconheiro, travestido de ministro, vestido como gay para chamar os criadores de vigaristas e marginais."
terça-feira, 25 de agosto de 2009
O especialista
A revista Época tem um blog chamado "Mulher 7X7", que, obviamente, é escrito por sete mulheres. Ontem, a diretora da revista no Rio, Ruth Aquino, achou que tinha material para um post bacanérrimo. Na pesquisa do Datafolha, Dilma permaneceu onde estava, é óbvio que é por conta da imagem dela, deve ter pensado a jornalista. Ela era carrancuda e agora vive sorrindo... Ah, isso é muita falsidade. Vou comprovar isso chamando um especialista em psicanálise que tope endossar a minha tese. Deixa eu ver aqui na minha agenda...peraí.. Achei, tá aqui, o Francisco Daudt. Pronto, agora é só escrever o post e correr para o abraço.
Bom, aí ela escreveu aquele post cheio de bobagens e análises primárias que nem um primeiro anista de faculdade de jornalismo toparia assinar. Não vou me estender analisando o post, pois a Flávia e o Maurício Caleiro já o fizeram muito bem. Meu objetivo aqui é lembrá-los de uma coisa: quem é o psicanalista Francisco Daudt, o tal especialista chamado por Ruth Aquino para avalizar sua tese estapafúrdia.
"Gostaria imensamente de ter minha dor amenizada por uma manchete que estampasse, em letras garrafais, "GOVERNO ASSASSINA MAIS DE 200 PESSOAS". O assassino não é só aquele que enfia a faca, mas o que, sabendo que o crime vai ocorrer, nada faz para impedi-lo. O que ocorreu não pode ser chamado de acidente, vamos dar o nome certo: crime." Essas palavras foram estampadas na primeira página da Folha de S.Paulo "com a fumaça ainda enevoando a tragédia", nas palavras do então ombudsman do jornal Mário Magalhães. Demonstrando furor midiático e precipitação infantil, quem assinou essas palavras foi o mesmíssimo Francisco Daudt que deu as seguintes declarações a Ruth Aquino, no post 'bacanérrimo' do blog da revista Época:
Ruth Aquino - O que revela o rosto de Dilma?
Francisco Daudt – Antes dos 40, temos a cara que Deus nos deu. Depois dos 40, temos a cara que nós merecemos: nosso caráter marca nossa expressão facial. Dilma fez a mesma coisa que Zé Dirceu. Ela se disfarçou. Dirceu fez plástica quando caiu na clandestinidade, para se esconder. Dilma fez plástica porque a cara que ela tinha antes da plástica era assustadora, era a cara de uma pessoa agressiva, autoritária, impositiva, de dar medo. Hoje em dia você olha fotos dela e é capaz de achar até agradável, mas esta não é a Dilma Rousseff.
Ruth Aquino - E o dedo para o alto? Isso a plástica não resolve. O que representa esse dedo erguido, a mão crispada?
Francisco Daudt - Há vários tipos de dedo em riste. Há o dedo na cara do outro, que é insultuoso. O dedo levemente inclinado para trás pede a atenção para um determinado ponto de vista ou um momento em silêncio. O dedo cujas costas da mão estão viradas para o interlocutor, enquanto os outros estão fechados, é um gesto stalinista, reflete o desejo de impor uma opinião. Somente um treinamento intensivo pode substituir a pele verdadeira por uma pele de cordeiro. O dedo erguido é quase um lembrete: olhe, a anágua está aparecendo. Mas alguém já deve ter dito isso para ela, porque a Dilma anda mais econômica nos gestos ultimamente.
Pois é, esse é um dos especialistas mais frequentemente consultados pela nossa grande imprensa (não tanto quanto Marco Antônio Villa, Raul Velloso e Roberto Romano, é claro, mas pode ser considerado um habitué das páginas das revistas e dos jornais brasileiros). Ele está sempre disposto a endossar as mais bizarras das teses, desde que, lógico, isso lhe renda uma boa exposição. É uma troca, deve pensar ele, eu falo asneiras que agradam a mídia e, como recompensa, apareço nas primeiras páginas dos jornais. Vejam como eu sou esperto...
domingo, 23 de agosto de 2009
Desmistificando a gripe suína - parte 1
Comecemos então conhecendo as principais características de uma pandemia por Influenza. São cinco:
1 - Mudança do subtipo do vírus
2 - Maiores taxas de mortalidade em pessoas jovens
3 - Ondas pandêmicas sucessivas
4 - Maior transmissibilidade que a gripe sazonal
5 -Impactos diferentes em diferentes regiões geográficas.
No século passado tivemos 3 Pandemias de Influenza: a de 1918-19 ( gripe espanhola), causada pelo A/H1N1; a de 1957-63, pelo A/H2N2; a de 1968-70, pelo A/H2N3. Todas elas apresentaram as características que citei acima, mas tiveram comportamentos bastante diferentes (falarei mais sobre isso na parte 2 dessa série)
Vamos nos ater um pouco no A/H1N1. Acredita-se que as aves são os reservatórios naturais desse subtipo de Influenza. Em 1918, esse vírus apareceu simultaneamente em humanos e porcos. Matou de 40 a 50 milhões de pessoas e uma balaiada de suínos. Esse vírus circulou até 1957, quando abruptamente desapareceu. Um novo vírus, que combinava genes do H1N1 de 1918 com outros originários do vírus de fonte aviária, surgiu, causou uma nova pandemia e, por motivos que não totalmente esclarecidos, tirou de circulação o vírus de 1918.
O A/H1N1, então, ficou sumido do mapa até 1976, quando aconteceu um caso muito,muito interessante. Houve um surto de gripe suína em janeiro desse ano na base militar de Fort Dix, em Nova Jersey. As autoridades determinaram que os homens ficassem ilhados na base militar até o fim do surto, o que fez com que o vírus não contaminasse civis. Esse vírus, no entanto, tinha uma taxa de transmissibilidade muito baixa, inferior à da gripe sazonal, portanto, provavelmente, ele não teria forçar para causar uma pandemia. Pelo sim, pelo não, o governo americano achou por bem iniciar uma vacinação em massa da sua população, que resultou em 532 casos de síndrome de Guillain-Barré e 32 mortes.
Apesar do sucesso na contenção do vírus de Fort Dix, o danado reapareceu em novembro de 1977, na União Soviética, em Hong Kong e na China, muito provavelmente em decorrência de um acidente de laboratório. O vírus que causa a atual pandemia é uma recombinação de genes desse vírus eurasiano com de vírus de origem suína.
Nós vimos aqui como se comportou o vírus H1N1 ao longo da história, desde 1918. Quando eu tiver tempo - e disposição -, pretendo escrever as outras partes dessa série que se chamará "desmistificando a gripe suína" ( eu acho que a melhor maneira de desmistificar alguma coisa é a conhecendo). Na próxima parte, falarei um pouco mais das pandemias causadas pelo vírus Influenza no século passado.
*** As principais fontes que usei para fazer esse post foram estes 3 belos artigos publicados na New England Journal of Medicine e este outro, do British Journal of Medicine.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Bruno, o comunista
“Sinto muito, tem MILHÕES de argumentos pra defender políticas assistencialistas de governo, mas ESSE foi o mais burro que eu já vi!”
“Acho que o Bruno faz é inglês, mas ficou com medo da patrulha. Inglês é a língua do dominador, não é gente?"
“Até me pergunto, por que ele não disse que estava na aula de coreano?”
“Sou o Bruno não comunista, só pra constar...”
“Jamais operaria com você. A única operação que faria com você seria a OBAN. E eu com o bisturi.”
Com adversários como esses, acho que posso até dar folga para os meus aliados, vocês não concordam?
domingo, 16 de agosto de 2009
Não existe almoço grátis, a não ser que seja para mim
Então eu contra-argumentei e a discussão se prolongou até o final da aula, claro que sem levar a lugar nenhum, pois são inconciliáveis visões de mundo tão diferentes como a minha e a dela. Mas esse papo me deixou muito irritado, vocês podem imaginar.
Aí, finda a aula, a professora perguntou:
- Bruno, você é urologista, né?
- Quase, sou residente ainda..., eu respondi.
- Ah tá, é que eu tô com um cálculo no rim, tenho até um raio-X aqui comigo... Quer dar uma olhada?
Eu pensei: "olha, não existe almoço grátis...", mas respondi: "claro, pega lá, deixa eu dar uma olhada".
Aí eu olhei o raio-X, fiz as orientações e disse: "acho que você deveria fazer um ultrassom, mas já te adianto que provavelmente você vai ter que operar". E ela: " É, eu já sabia, meu médico disse a mesma coisa que você" e depois perguntou:
- Você opera pelo SUS?
- Eu só atendo e opero pelo SUS.
- Tem como eu marcar uma consulta com você?
Eu quase falei: "Uai, mas o Estado não é feio, bobo e tem cabeça de melão?", mas disse: "Claro" e a orientei sobre o que ela teria que fazer para marcar a consulta.
***
Essa historinha é só para ilustrar o espírito da nossa classe média. Ela pensa, normalmente papagaiando o que lê nos jornalões ou na Veja, que o Estado é a encarnação do mal. Acha que políticas de distribuição de renda só servem para "criar vagabundos" e são o "maior programa de compra de votos do mundo"; que trabalha muito para sustentar um Governo gastador; que o Estado é essencialmente corrupto, então sonegar impostos passa a ser defensável ("Vou pagar imposto pra quê? Para eles roubarem?)... Mas, curiosamente, acha que o Estado deixa de ter cabeça de melão quando oferece a ela alguma bolsa de estudos ou quando precisa usar serviços do SUS, por exemplo (tenho uma colega que é neoliberal militante, participou até de passeata pelo fim da CPMF, e não se constrange em pegar medicações fornecidas pelo SUS para tratar sua hepatite C crônica. Com isso ela economiza mais ou menos 2 mil reais por mês. Afinal, "o Estado tem que servir para alguma coisa, né?") . E mesmo pede mais Estado quando é assaltada ("Tem que investir mais em segurança!") ou quando seu filho se forma e não encontra trabalho ("Pô, será que não vão abrir outro concurso público?").
Essa é a nossa classe média e eis o seu lema: não existe almoço grátis, a não ser que seja para mim.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
terça-feira, 11 de agosto de 2009
É hora de assimilarmos o golpe
No entanto, essa notícia é bastante triste pra nós leitores. Eu, que sou um leitor assíduo d'O biscoito desde 2006, sentirei muita falta. Como disse o Alexandre, Idelber é o primeiro intelectual brasileiro a entender a internet e usar todas as suas potencialidades. Durante quase cinco anos ele editou o, sem dúvida, melhor blog do Brasil. E de graça, independente. Que baita colher de chá para nós leitores, não é mesmo? O seu modo de blogar - democrático, sanguíneo, apaixonado, erudito sem ser pedante, dialético, sempre compartilhando o conhecimento e as informações - inspirou muitos dos atuais blogueiros brasileiros. E é engraçado, parece que muita gente teve uma experiência inicial n'O biscoito parecida com a minha. Eu também, quando visitei o blog pelas primeiras vezes, me senti intimidado. Pensava: "Pô, o cara é um intelectual, professor titular lá nos States, não vou eu me meter a dar pitaco aqui..." Aí, um dia teve um post sobre futebol e eu me senti mais à vontade para comentar, pois eu sou um aficionado por esporte. Depois desse dia, passei a comentar com frequência lá e fui me tornando cada vez mais abusado e comecei a palpitar sobre tudo que é assunto... E, não sei se vocês sabem, eu cheguei a ganhar um livro dele. Ele fez um desafio sobre futebol no blog e eu acertei. E, acreditem, sem olhar no google. Então, em dezembro do ano passado, numa butecada entre blogueiros de BH, ele me deu o livro prometido, o "White Noise", de Don Delillo.
Maurício Caleiro disse uma verdade incontestável: "...ao criar e manter, por cinco anos, um blog independente - visceral em suas posições, na crítica à mídia, na defesa lúcida dos pontos de vista da esquerda - e fazer dele uma referência política e cultural para milhares de pessoas, Idelber provou que uma nova mídia, não-corporativa, democrática, feita com parcos recursos mas com inteligência é possível". E eu pergunto: e agora? O que vai ser da blogosfera brasileira?
Os blogs como canal para manifestação das opiniões de seus autores e como instrumento para a democratização da informação continua na mesma, nada muda. A ferramenta está aí, gratuita, para quem quiser usá-la. Mas a interrupção da publicação de posts d'O biscoito deixa a blogosfera muito mais pobre, pois não se perdem "só o próprio blog e suas caixas de comentários, mas toda a rede que ajudou a construir". Ou melhor, se desarticulam essas redes, ou pelo menos algumas delas. É natural que os leitores de blogs e os blogueiros de esquerda se sintam um pouco órfãos, um pouco sem rumo. Após esse choque da notícia, é obvio que veio um momento de atordoamento, que é o que está rolando agora, depois terá que vir um período de acomodação e reorganização, quando novas redes que possibilitem o debate de qualidade deverão ser criadas, e acho que os clubes de leitura do Consenso, só no paredão sinalizam um bom caminho.
Bom, resta-nos desejar-lhe boa sorte e sucesso e torcer para que ele volte em breve.
PS: Ótimos posts sobre o mesmo assunto foram escritos pelo Hugo, pelo Maurício, pelo NPTO, pelo Alexandre Nodari e pelo João Villaverde.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Machismo explícito no Senado Federal

Ouvindo esse amontoado de barbaridades, me pus a pensar e tuitei algo a respeito. E se não fosse uma governadora que estivesse à frente do estado do Pará mas um governador, será que estaria tudo bem ir a bares à noite beber com os amigos? Suponhamos que em vez de Ana Julia Carepa (PT) o governador do Pará fosse o segundo colocado na eleição de 2006, o tucano Almir Gabriel, será que algum tresloucado senador se acharia no direito de fazer um discurso desse? Alexandre Nodari tuitou uma resposta bem humorada às minhas indagações: “Se fosse governador, ele estaria socializando com o eleitorado, ora essa...” E eu acrescentei: “Depois os ‘neocools’ dizem que o machismo é um problema marginal no Brasil...” Se um senador acha natural cometer esse tipo de, para ser brando, deselegância na tribuna do Senado Federal, com transmissão ao vivo, imagina o que não acontece privadamente... Mas para os neocools de plantão, os descolados que acham que “o politicamente correto está deixando as pessoas idiotas”, machismo, racismo, homofobia são assuntos que não devem fazer parte da agenda de discussões no Brasil, afinal, “nós não somos racistas” (nem homofóbicos, nem machistas...), não é mesmo?
Felizmente, a senadora Fátima Cleide (PT/RO) não deixou o exaltado senador tucano destilar o seu machismo sem resposta: “Ouvi todas as suas grosserias e estou apelando para que o senhor peça desculpa ao povo do Pará e à Governadora Ana Júlia.” O senador Mario Couto tentou retrucar, mas a senadora manteve-se firme: “Eu só espero respeito, principalmente com a mulher brasileira, que hoje é representada pela Governadora Ana Júlia.”
Senadora Fátima Cleide, vossa excelência lavou a minha alma!
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Os tempos mudaram

quarta-feira, 29 de julho de 2009
Curtinhas
PS: Sobre a "subjugação pelo riso" , leia o artigo acadêmico "A mediação do riso na expressão e consolidação racismo no Brasil", de Sandra Leal de Melo Dahia. Aí vai um trechinho da introdução: "O discurso jocoso parece ser uma das possibilidades peculiares ao brasileiro de resolver conflitos identitários na vivência de suas relações raciais. Por meio do riso, o brasileiro encontra uma via intermediária para extravasar seu racismo latente, contornando a censura e a reflexão crítica sobre seu conteúdo e sobre o alcance de satisfação simbólica que o riso propicia, ao mesmo tempo em que ele não compromete sua auto-representação de não racista". Taí, perfeito.
(Sugestão aos parlamentares que forem entrevistados por Danilo Gentili: http://migre.me/4kos)
***
Tuitei ontem uma afirmação muito interessante de Bernardo Kucinski sobre a imprensa brasileira: "A elite dominante é, ao mesmo tempo, a fonte, a protagonista e a leitora das notícias; uma circularidade que exclui a massa da população da dimensão escrita do espaço público", sugada de um artigo de Venício A. de Lima publicado no Observatório da Imprensa (via Blog do Nassif).
***
Quem me conhece sabe o quanto eu sou tímido. Não chego a ser um bicho do mato, mas sou realmente tímido. Isso me traz uma série de problemas, mas também pelo menos uma vantagem: isso me faz um cara muito observador, o que sempre me rende algum "causo".
Domingo passado eu estava no aeroporto de Goiânia e, na minha frente na fila do check-in, duas meninas de uns 10 ou 11 anos estavam conversando sobre uma outra garota mais ou menos da idade delas que estava no saguão:
- Olha lá que ridícula!
- Nossa, nada a ver: calça de moleton rosa e bota com plataforma!
- Horrível!
- Totalmente out.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Há 43 anos
"Recebo na praça pública o direito de governar o Maranhão. Direito que me foi dado pela vontade soberana do povo. O nosso céu e nossa terra testemunharam os longos heróicos e ásperos caminhos que nos conduziram a essa tarde, a essa solenidade e a esse instante. O mandato que venho receber tem a marca da luta e a chama da mais autêntica vontade popular, da liberdade de escolher e preferir, da consciência das opções.
O Maranhão não suportava mais nem queria o contraste de suas terras férteis, de seus vales úmidos, de seus babaçuais ondulantes, de suas fabulosas riquezas potenciais com a miséria, com a angústia, com a fome, com o desespero das corridas que não levam a lugar nenhum senão ao estágio do que o homem de carne e osso é o bicho de carne e osso.
O Maranhão não quer a desonestidade do governo, a corrupção nas repartições e nos espaços (públicos). O Maranhão não quer a violência como instrumento da política para banir direitos os mais sagrados que são o da pessoa humana, com a impunidade dos assassinos garantida pelos delegados e a liberdade garantida apenas como uma oportunidade para abastardar os homens.
O Maranhão não quer mais a coletoria como uma caixa privada a angariar dízimos inexistentes para inexistentes arcas reais que não são inexistentes (!) porque se podem pronunciar os nomes dos beneficiários identificados ao longo desses anos de corrupção.
O Maranhão não quer a miséria, a fome, o analfabetismo e as altas taxas de mortalidade infantil - de tuberculose, de malária, de esquistossomose - como um exercício do cotidiano.
O Maranhão não quer e não quis morrer sem gritar, não quis morrer estático de olhos parados e ficar caudatário marginal do progresso, olhando o Brasil e o nordeste progredirem, enquanto nossa terra mergulhava na podridão e não podia marchar nem caminhar".
* Fonte: documentário "Maranhão 66: posse do governador José Sarney", de Glauber Rocha.
PS: Recomendo a leitura do artigo Do ""Maranhão Novo" ao "Novo Tempo": a trajetória da oligarquia Sarney no Maranhão", de Wagner Cabral da Costa.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
O inconveniente

Sem chance, né? Mudança de planos.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Capitalismo de acesso
O Alexandre fez um belo resumo do livro. Agora eu acho que nós poderíamos falar um pouco mais dos conceitos mais interessantes abordados pelo livro, além do de “guerra cosmopolita”, sobre o qual o Hugo escreveu muito bem, o de “capitalismo de acesso” e “crony capitalism”.
No início do capítulo “A viagem redonda do capitalismo de acesso”, Paulo Arantes resvala no debate sobre software livre e propriedade intelectual - pena que não se aprofundou nesse tema – e faz uma afirmação instigante, citando “um estudioso dessa fronteira da acumulação baseada na tecnociência”: “ a ambição maior da nova economia é controlar o acesso à dimensão virtual da realidade, apropriar-se do futuro, em suma”. E faz um link interessante entre esse movimento de “antecipação que caracteriza a dinâmica da aceleração total da economia de acesso”- a apropriação do acesso à informação seria uma das novas formas de acumulação primitiva - e a estratégia americana de guerra preventiva, que, ao fim e ao cabo, nada mais é do que uma “questão de direito de acesso resolvida manu militari”. Acesso ao petróleo iraquiano, a novas oportunidades de negócio etc.
Essas oportunidades de negócios, obviamente, foram oferecidas aos velhos amigos da família Bush, no melhor estilo “capitalismo de compadres”. Uma perversão do livre mercado. Aqui, uns são mais livres que os outros. Os que têm acesso, os insiders, levaram a melhor parte do espólio iraquiano. São os “velhos amigos ajudando-se uns aos outros, como sempre, acionando a velha porta giratória do circuito público-privado”.
Isso me remeteu a uma cena do filme "Fahrenheit 9/11", de Michael Moore, em que o jovem Bush Jr fala a possíveis futuros clientes: “eu não tenho poder, mas tenho acesso a ele”. Estávamos sob administração Bush pai. O “capitalismo de compadres” com a “porta giratória público-privada” acionada não é privilégio do império, na periferia ele também está mais do que presente. Veja o caso de Malan, ex-ministro da fazenda e agora alto executivo do Unibanco, só para ficar num exemplo.
Resumindo, e usando uma frase feliz do Paulo Arantes, “a viagem redonda do capitalismo de acesso vem a ser esse retorno da Acumulação Primitiva”
Como disse o Hugo aí em cima, esse livro “levanta várias bolas” e deixa alguns “fios soltos”. Eu tentei puxar um desses fios aí...
Vá lá ao Consenso, só no paredão. Mesmo que você não tenha lido o livro, vale muito a pena acompanhar a discussão de altíssimo nível que está rolando.
terça-feira, 14 de julho de 2009
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Critérios de relevância do Estado de Minas
Mais feia ainda foi a posição tomada pelo jornal Estado de Minas, também conhecido como assessoria de imprensa de Aécio Neves. O jornalão mineiro não só não escreveu uma linha sequer sobre esta premiação, como colocou na primeira página uma foto do presidente Lula tropeçando ao sair de um encontro com o presidente francês Nicolas Sarkozy. Quais serão os critérios de relevância utilizados pelo jornal, hein?


EUA, Brasil, Madoff e Dantas
Comentário de Mino Carta na CartaCapital desta semana: "Talvez falte nos Estados Unidos um Gilmar Mendes para disciplinar a juizada de primeira instância que teima em condenar gente da estirpe de Madoff e os policiais que insistem em mantê-la algemada".
terça-feira, 7 de julho de 2009
Mais uma da loiríssima Catanhêde
No início do artigo, a loiríssima Catanhêde fala sobre a grande exposição de Lula na mídia. Diz ela que Lula está o tempo todo sob os holofotes da mídia tradicional e, além disso, tem o "café com o presidente", a coluna no jornal que estreará hoje e o site da presidência. Como se não bastasse, está programado o lançamento do blog e do twitter do presidente. Essa gentinha não sabe mesmo o seu lugar, né, Eliane?
Bom, aí, para encerrar com chave de ouro o seu "brilhante" artigo, a loiríssima escreveu: "Para isso existe e resiste a imprensa independente, que mantém espaços de opinião, ao lado do farto noticiário diário sobre o presidente, para trazer ao debate a crítica, o contraponto, o questionamento real, a saudável provocação. É claro que Lula e os lulistas não gostam, como FHC e os tucanos não gostavam. Mas é democrático, funciona como contrapeso e alerta. Ainda mais quando o presidente se coloca acima do bem e do mal. E sonha com a unanimidade".
Após ler isso, eu respirei aliviado. Ainda bem que existem a Folha, o Estadão, o Globo e a Veja e seus bravos jornalistas, como a Eliane, para serem os guardiões da nossa democracia e impedirem que essa gentinha tome conta de tudo.
Desejo e perigo

A ação do filme acontece na China ocupada pelos japoneses durante a segunda guerra mundial. Um grupo de amigos decide que não pode ficar de braços cruzados vendo a pátria ser humilhada. Planejam então assassinar um desconfiado e bem-protegido chinês do alto escalão do governo colaboracionista, o Sr Yee. A linda estudante Wang Jiazhi é escalada para tentar se infiltrar na casa dele e descobrir detalhes sobre os seus hábitos e mais algumas informações que pudessem ser útil à resistência. E ela consegue muitos destes objetivos ao ganhar a confiança do Sr e da Sra Yee e passar a freqüentar a sua casa com constância, porém sob o disfarce de uma rica esposa de um empresário chinês. Para tentar se aproximar ainda mais do Sr Yee, Wang o seduz. As cenas de intimidade entre os dois, a angustia e olhar distante durante o sexo e os pequenos gestos que deixam transparecer algo semelhante a afeto são os pontos altos do filme.
Mais não vou contar. Desejo e Perigo tem figurinos e fotografia lindos, atuações impecáveis, principalmente de Wei Tang (Wang Jiazhi) e Tony Leung Chiu Wai (Sr Yee) e é muito bem dirigido. Veja o filme, você terá quase três horas de puro deleite.
Mas não era sobre este filme que eu iria falar hoje, era sobre Stella, um dos melhores que eu vi este ano. Outro dia eu faço um post sobre ele.
(Fazia tempo que eu não escrevia sobre cinema, né?)
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Federer fez história no All England Club

Antes do início da partida, eu tinha certeza de que seria um jogo para cumprir tabela, pois Federer venceria por 3 sets a 0. Eu estava,como de costume, redondamente enganado. O adversário da final, o freguês Andy Roddick, jogou um tênis de altíssimo nível. Eu acho que nunca vi um tenista sacar tão bem durante tantos games. O suíço precisou jogar 75 games até conseguir quebrar um serviço de Roddick, no último game do jogo. Uma coisa impressionante, acho que um recorde. E a partida foi vencida por Federer por 3 sets a 2, com 16X14 no quinto set (o quinto set mais longo da história das decisões de simples de grand slam).
Roddick, que é conhecido por pipocar diante de Federer, mudou seu estilo de jogo e obrigou o suíço a utilizar todo o seu vasto arsenal de golpes e jogar o seu melhor tênis para vencer a partida. Roddick esteve impressionantemente consistente no fundo de quadra, cometendo pouquíssimos erros não-forçados. Estava muito concentrado, trocando bolas com paciência, sem a afobação que lhe é característica.Isto, associado a seu saque, fizeram com que ele fosse um tenista quase imbatível ontem. Se do outro lado da rede não estivesse Federer mas outro tenista qualquer, ele teria sido o campeão.
Em minha opinião, o que de mais impressionante fez o Roddick na partida, além do saque, foi ter se perdoado por ter perdido o segundo set. Ele tinha vencido o primeiro e vencia por 6x2 no tie-break do segundo. Teve pelo menos uma chance clara de fechar o set, mas desperdiçou um voleio fácil de esquerda quando estava vencendo por 6x5, e permitiu a virada de Federer, que venceu o tie-break por 8x6. Foi o único vacilo de Roddick durante toda a partida. Depois de tomar essa virada, era de se esperar que o americano não conseguisse se concentrar novamente para manter o equilibrio do jogo, mas ele continuou como se nada tivesse acontecido, lutando com muita garra. Roddick teve o mérito de ter tornado esta a segunda melhor final de Wimbedon da década. A melhor da década, e talvez da história, foi a do ano passado entre Federer e Nadal.
Bom, Federer venceu seu décimo-quinto grand slam e se tornou o tenista mais vitorioso da história. É o sexto tenista da história a vencer todos o quatro grand slam. O quarto tenista na era aberta a vencer Roland Garros e Wimbledon no mesmo ano ( os outros 3 são: Rod Laver, Bjorn Borg e Rafael Nadal, no ano passado). O tenista que mais vezes disputou finais de grand slam, 20. Enquanto Sampras levou 13 anos para ganhar 14 títulos, Federer precisou de apenas 7 para vencer 15. Ou seja, são tantos recordes que nem cabem aqui.
Com todos estes números é possível dizer que Federer é o maior tenista da história? Eu já disse aqui que acho complicado comparar tenistas de eras tão diferentes, mas vejamos o que as próprias lendas dizem a respeito:
Pete Sampras: "No meu livro, ele é o maior de todos os tempos. Seus críticos e outras pessoas apontam para o fato de Rafael Nadal derrotá-lo, mas para mim ele é o maior. Ele é uma lenda e um ícone". E disse mais: "Ele é um grande campeão e um bom sujeito. Ele é muito humilde, e eu gosto disso". E ainda completou: "Ele não faz esforço quando joga. Saca bem, tem um forehand ótimo e o backhand também. Sou fã da maneira como ele joga, da pessoa que é. Federer é um sujeito de classe dentro e fora da quadra. É divertido vê-lo jogar. Só por sua habilidade atlética, pelo que ele é capaz de fazer na troca de bola. Acho que ele pode e vai quebrar todos os recordes do tênis que existem". E ao ser peguntado se Federer poderia ser considerado o maior de todos os tempos, respondeu: "Eu tenho que dizer que sim".
Rod Laver:"Acho que o público deveria olhar apenas para os seus pés. Olhar só para Roger e não a bola. Aí, verão como ele é um bom jogador e como faz tantas boas jogadas. Sua habilidade é maravilhosa" Disse também:"Roger é um daqueles jogadores que mantém a bola no jogo, tem forehands e backhands miraculosos".
Andre Agassi: "Isso encerra a discussão sobre o lugar que ele ocupa na história do esporte".
Bjorn Borg: "Ele pode jogar por mais três anos, pelo menos. Se ele não se machucar e continuar com vontade de vencer, ainda haverá muitas finais. Ele simplesmente não tem mais nenhum ponto fraco. É um grande prazer vê-lo jogar. Para mim, Roger Federer é o modelo certo para qualquer um que deseje se tornar um jogador de tênis ".
Bom, se são as lendas que estão dizendo... Então fica combinado: Federer é o maior tenista da história. Ponto Final.
(na segunda foto, perfilados os 4 maiores tenistas de todos os tempos. Da esquerda para a direita: Bjorn Borg, Pete Sampras, Roger Federer e Rod Laver. Este último merece um capítulo à parte. Ele foi o último homem a vencer o true grand slam. E o ganhou por 2 vezes. Sobre ele, o único que pode aspirar ser comparado a Federer, escreverei outro dia)
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Flashes de Wimbledon II

Na primeira semifinal Roger Federer pegou Tommy Haas. Este havia dado um trabalho danado pra aquele nas quartas-de-final de Roland Garros deste ano. Em Paris o alemão chegou a estar vencendo por 2 sets a 0, mas amarelou e permitiu a virada do suíço. O jogo de hoje não lembrou em nada aquele de semanas atrás. Federer dominou a partida do começo ao fim, como o esperado, e venceu por 3x0.
... que será Andy Roddick. O americano surpreendeu o escocês Andy Murray, o grande favorito para este confronto, ao fazer um jogo muito consistente e agressivo de fundo de quadra, com pouquíssimos erros não-forçados e constantes e eficientes subidas à rede. Murray tentava usar a tática que sempre deu certo contra Roddick: passava a bolinha para o outro lado e esperava que o americano forçasse e errasse ou que encurtasse a bola, propiciando o contra-ataque. Usou a tática certa, só faltou combinar com Roddick.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Flashes de Wimbledon

Na próxima rodada ele enfrenta Soderling, seu adversário na final de Roland Garros.
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Andy Murray, a grande aposta britânica, também tem vencido com facilidade os seus jogos. Ele é capaz de jogar muito bem na grama, mas creio que ele não tem punch o suficiente para vencer Federer e a pressão da torcida britânica, que há 73 anos não vê um compatriota vencendo este torneio, numa eventual final.
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A grande surpresa do torneio até aqui é a vitória do chatinho Lleyton Hewitt sobre o número cinco do mundo Del Potro. Lembrando: Hewitt já venceu este torneio em 2003. Ele pode dar trabalho na chave de cima.
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Djokovic também está vivo no torneio. Mas acredito que não se manterá assim até a final, até porque ele está na chave de Roger Federer.
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Karlovic meteu 46 aces no Tsonga e venceu por 3X1. Ele é um daqueles caras que apostam todas as suas fichas no saque. Essa estratégia costuma dar mais certo em Wimbledon do que em outros grand slams, mas acredito que não o levará além das quartas-de-final. Ele pegará agora, e provavelmente vencerá, o espanhol Fernando Verdasco, mas depois poderá enfrentar Federer e aí...
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Outro candidato a frustrar os sonhos de Murray é o norte-americano Andy Roddick. Eles podem se cruzar nas semifinais.
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Está rolando um babado lá em Wimbledon. Veja você que Dinara Safina, número 1 do mundo ( e a minha queridinha), Serena Williams, número 2 ( e minha segunda queridinha) e Venus Williams, atual campeã do torneio, fizeram seus jogos na quadra 2, conhecida como The Graveyard of Champions. Normalmente tenistas deste calibre são colocadas para jogar na quadra central ou na quadra 1. Elas, com razão, se sentiram desrespeitadas e reclamaram.
Venus, quando foi informada da quadra em que jogaria, não acreditou, achou que a direção do torneio havia se enganado.
Safina, quando perguntada se estava chateada com a escalação da sua partida para uma quadra secundária, respondeu ponderadamente: "Hopefully next match I'll play on a bigger court. Of course it's not fair, but I'm not doing the schedule. If tournament directors or whatever, referees, think this way ... I just thought if I win the match, I have next day the chance to play on a bigger court".
E Serena foi além: "Well, I'm happy to have gotten my match over and to have won. I always play on Court No2 — it's not a court for Roger [Federer], but it's definitely a court for me". E depois completou ironicamente: "But I haven't won Wimbledon five times".
A direção do torneio vai ter que rever os seus critérios. Tanto Safina quanto as irmãs Williams têm que jogar nas quadras principais. Elas e o público merecem.
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A final feminina será jogada no dia em que o primeiro título de simples em Wimbledon da brasileira Maria Esther Bueno completa 50 anos. A Sportv noticiou que a direção do torneio está preparando uma homenagem para ela. Tomara, seria emocionante.