segunda-feira, 27 de julho de 2009

Há 43 anos

Veja a transcrição de um trecho do discurso de posse de José Sarney ao assumir o governo do estado do Maranhão em 1966. Nesta eleição, Sarney, com apoio entusiasmado do governo do Marechal Castello Branco, derrubou a oligarquia Victorino Freire, o homem que introduziu o futuro presidente na política. Sarney, membro da ala "bossa nova" da UDN, prometia o "Maranhão Novo", moderno e industrializado em contraposição ao Maranhão "atrasado" e "arcaico" representado pelo victorinismo. Sabemos como terminou isso...

"Recebo na praça pública o direito de governar o Maranhão. Direito que me foi dado pela vontade soberana do povo. O nosso céu e nossa terra testemunharam os longos heróicos e ásperos caminhos que nos conduziram a essa tarde, a essa solenidade e a esse instante. O mandato que venho receber tem a marca da luta e a chama da mais autêntica vontade popular, da liberdade de escolher e preferir, da consciência das opções.

O Maranhão não suportava mais nem queria o contraste de suas terras férteis, de seus vales úmidos, de seus babaçuais ondulantes, de suas fabulosas riquezas potenciais com a miséria, com a angústia, com a fome, com o desespero das corridas que não levam a lugar nenhum senão ao estágio do que o homem de carne e osso é o bicho de carne e osso.

O Maranhão não quer a desonestidade do governo, a corrupção nas repartições e nos espaços (públicos). O Maranhão não quer a violência como instrumento da política para banir direitos os mais sagrados que são o da pessoa humana, com a impunidade dos assassinos garantida pelos delegados e a liberdade garantida apenas como uma oportunidade para abastardar os homens.

O Maranhão não quer mais a coletoria como uma caixa privada a angariar dízimos inexistentes para inexistentes arcas reais que não são inexistentes (!) porque se podem pronunciar os nomes dos beneficiários identificados ao longo desses anos de corrupção.

O Maranhão não quer a miséria, a fome, o analfabetismo e as altas taxas de mortalidade infantil - de tuberculose, de malária, de esquistossomose - como um exercício do cotidiano.

O Maranhão não quer e não quis morrer sem gritar, não quis morrer estático de olhos parados e ficar caudatário marginal do progresso, olhando o Brasil e o nordeste progredirem, enquanto nossa terra mergulhava na podridão e não podia marchar nem caminhar".

* Fonte: documentário "Maranhão 66: posse do governador José Sarney", de Glauber Rocha.

PS: Recomendo a leitura do artigo Do ""Maranhão Novo" ao "Novo Tempo": a trajetória da oligarquia Sarney no Maranhão", de Wagner Cabral da Costa.

3 comentários:

André disse...

Cara, excelente! É isso mesmo: acabou com uma dinastia e começou outra.

Bruno disse...

Pois é.

Albérico disse...

Como se pode comprovar, este discurso demagógico dele é bem antigo ! E vem enganando e manipulando muitos maranhenses e parlamentares de outros partidos há DÉCADAS ! ABSURDO !