quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O complexo de vira-latas do estadão

O editorial de anteontem do estadão é uma pérola. Intitulado “Lula não é mais ‘o cara’”, ele faz eco a um monte de ressalvas que os EUA fariam à política externa do governo brasileiro, que eu considero uma de suas áreas de maior sucesso.

Vejamos em que se baseia o jornalão para fazer essa avaliação tão negativa da política externa do governo Lula.

Segundo o estadão, “O apoio de Lula ao presidente iraniano foi desastroso perante a imprensa americana”. Aí eu pegunto: E daí? Será que o Barack Obama está preocupado com o que pensa a imprensa brasileira a respeito de sua administração? Será que a imprensa americana se interessa pelo que a imprensa brasileira pensa do seu presidente?

Outra coisa que, segundo o Estado de São Paulo, tem levado o Brasil a ficar em maus lençóis perante os EUA é a insistência do patropi em querer defender pontos de vistas diferentes dos “dos caras”: “Lula também foi criticado pela imprensa americana e por analistas qualificados por se meter na política centro-americana sem saber o bastante sobre a região. Sua intervenção em Honduras foi vista como um obstáculo à solução da crise - erro agravado com a insistência em não reconhecer a legitimidade das eleições.” ( Note a reverência com que o jornal brasileiro trata a imprensa americana. Será que o NY Times já ouviu falar do estadão?) Ora, primeiro, Lula não se meteu na história, meteram ele nela. Segundo, em que momento o suposto desconhecimento da região por parte de Lula afetou a reação do Brasil ao golpe de Estado? Qual foi a intervenção do Brasil em Honduras, a não ser abrir as portas para que o presidente constitucional de Honduras não fosse preso ou assassinado? Por que haveria o Brasil de reconhecer, logo assim de cara, uma eleição que foi conduzida por um governo golpista? Considero a atuação do Brasil no caso irretocável! E pouco me importa o que a imprensa americana acha disso.

Para Moisés Naim, editor da revista Foreign Policy, "o Brasil se comporta como um país em desenvolvimento imaturo e ressentido"” E eu considero os EUA um país imperialista e arrogante, e daí? Seria a mesma coisa do Mario Sabino, editor da VEJA, dizer que acha os EUA feios e bobos e o, sei lá, Chicago Tribune achar importantíssima essa declaração, a ponto de reproduzi-la em seu editorial.

Aí, o estadão fecha o editorial com chave do ouro: “Para ter influência global, comentou o Washington Post, o Brasil teria de abandonar o terceiro-mundismo de sua política externa. Não é provável que isso aconteça com o Itamaraty sob o domínio ideológico dos atuais formuladores da política externa.” Para começo de conversa, a política externa de Lula pode ser acusada de excesso de pragmatismo, nunca de excessivamente ideológica. Ora, é justamente essa estratégia de independência adotada pelo governo Lula e pelo Itamaraty que fez com que tantas portas se abrissem para o Brasil, inclusive ampliando o nosso leque de parceiros comerciais, o que, sem dúvida, foi muito importante no enfrentamento da crise. Ou será que o estadão queria que o Brasil fosse o Robin do Batman EUA? Quem sabe eles preferissem que ainda fôssemos um país-capacho, cujo chanceler tirasse os sapatos para qualquer funcionário da alfândega americana que o olhasse com cara feia...

Se seguíssemos as opiniões da grande imprensa brasileira, estariamos ainda longe de vencer nosso complexo de vira-latas.

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