quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Cada um com o seu líder
terça-feira, 28 de outubro de 2008
A hora da engenharia de obra feita - BH
Mas para quem gosta de política como eu, o período eleitoral é um prato cheio. E eu não poderia deixar de fazer a minha análise, por mais desnecessária que seja a essa altura do campeonato, quando quase tudo já foi dito.
Em Belo Horizonte , Marcio Lacerda, apoiado por Fernando Pimentel e Aécio Neves, foi o eleito. Mas a parada foi muito mais difícil do que os seus padrinhos e apoiadores esperavam.
A campanha, que foi dura e marcada por reviravoltas, desaguou num segundo turno digno dos maiores pesadelos dos eleitores belorizontinos de esquerda. Ficamos entre a cruz e a caldeira. E optamos pelo mal menor.
No primeiro turno, após o início da propaganda eleitoral gratuita, aproveitando o enorme tempo de TV que sua extensa aliança lhe proporcionou, Lacerda teve uma arrancada espetacular. Muitos esperavam que ele vencesse na primeira etapa. Aí, o poste sentou-se na cadeira de prefeito antes da hora, não participou de debates organizados por entidades de classe e viu todos os seus adversários se unindo para atacá-lo.
Nesse meio tempo, Jô Moraes, a minha candidata, que representava a esquerda descontente com a união PT-PSDB, começou a perder espaço. Ela tinha pouco dinheiro e pouquíssimo tempo de televisão, que além disso foi muito mal aproveitado. Contava apenas com uma militância muito aguerrida do PCdoB e de dissidentes do PT, que não bastou. Então, nesse vácuo, surgiu o grande fato novo nas eleições de Belo Horizonte: Leonardo Quintão.
Ele tinha, no primeito turno, mais ou menos o quádruplo do tempo de TV de Jô e a metade do de Lacerda. Soube tirar proveito disso. Assumiu o papel de bom moço, do mineiro que adora uma prosa com pão de queijo e cafezim. Procurou despolitizar a campanha, dizia que era preciso um prefeito que "ouve você". Na etapa final do primeiro turno herdou votos que Lacerda perdeu, votos de Jô Moraes, que foi encolhendo ao longo da campanha, e votos de pessoas que pouco se interessam por política mas que são obrigadas a votar. Conclusão: surgiu uma onda Quintão quase irresistível . Encostou em Lacerda no primeiro turno e disparou no início do segundo, a ponto de me fazer queimar a língua feio.
Aí, o que foi um trunfo no primeiro turno virou uma fraqueza no segundo. Quintão se apegou ao seu discurso de candidato "gente-como-a-gente" - ou será que ele só tinha esse? - e começou a perder muitos pontos à medida em que os debates no segundo turno foram acontecendo e foi ficando clara a superficialidade das suas propostas.
A campanha negativa levada a cabo por Lacerda também foi de extrema importância para conter a onda Quintão. Ela foi tão eficaz que os eleitores começaram a ter vergonha de declarar que votariam no peemedebista. Além disso, houve a famosa parcialidade da mídia mineira, que mal pôde disfarçar sua preferência pelo candidato do "nhô" Aécio, e o engajamento da classe média belorizontina a partir da segunda metade da campanha do segundo turno. Ocorreram ainda alguns episódios em que Quintão foi pego na mentira. A campanha de Lacerda explorou isso à exaustão e isso enfraqueceu o personagem bom moço encenado pelo peemedebista.
Com isso, Lacerda conseguiu abrir vantagem no finalzinho da campanha e venceu o segundo turno com uma margem de votos relativamente grande. Mas ganhou muito mais pela tibieza do adversário do que pelos seus próprios méritos ou de sua aliança.
Será interessante observar agora como vai se reorganizar o PT mineiro, que saiu rachado dessa campanha. Será que o PT se considerará derrotado, pois perdeu a prefeitura que administra com sucesso há vários anos, dividiu-se e uma importante dissidência ficou ressentida e se sentiu desprestigiada? Nesse caso, essa derrota política será depositada na conta de Fernando Pimentel e o grupo de Patrus Ananias se fortalece. Será que ele vai se considerar um vitorioso, já que oficialmente apoiou o Lacerda, inclusive indicando o vice? Aí é Pimentel em 2010.
sábado, 25 de outubro de 2008
Último debate de BH
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Novos números em BH

Enquanto a campanha de Lacerda parece ter definitivamente entrado nos eixos, a de Quintão parece perdida. No programa eleitoral de ontem à noite, ele apareceu menos do que a Jô Moraes. Parece que ela foi designada para falar de coisa séria, que interesse à população - orçamento participativo, programas de qualificação do trabalhador, etc- , e ele ficaria encarregado de falar as besteiras de sempre: "gente tem que cuidar de gente", "eu quero ser herói dos meus filhos...
O grande problema é que, na minha opinião, é justamente essa insistência em frases feitas, em despolitizar a campanha, que tem feito com que a população se canse de Leonardo Quintão. Pelo debate da TV Alterosa, da última quarta-feira, eu achei que ele tinha detectado isso e mudaria a estratégia. Mas não, ele está persistindo no erro.
Outra coisa que parece estar contribuindo muito para a queda de Quintão nas pesquisas é o fato de ele ter sido pego na mentira várias vezes. Sobre aquele vídeo em que ele dizia, na campanha do seu pai em Ipatinga, que eles iriam ganhar e chutar a bunda dos adversários, por exemplo, ele deu várias explicações. Disse, entre outras coisas, que estava "brincando de futebol e política", depois, que estava falando que iria "chutar a bunda de corruptos" e completava: "Cá entre nós, eles não estão merecendo um chute na bunda?". A explicação à acusação leviana de que Lacerda não tinha sido preso político na ditadura militar, mas sim preso comum por ter assaltado um banco, é ainda pior.Primeiro ele disse que sua acusação se baseou em "laudos oficiais" que ele lera. Depois, negou que tenha dito isso, dizendo que ele apenas reagiu com surpresa à afirmação de uma pessoa que estava presente ao debate do jornal O Tempo. A campanha de Lacerda, espertamente, tem usado as inserções na TV para confrontar o vídeo em que Quintão aparece fazendo a acusação e o em que ele a desmente. Isso tem pegado muito mal para o peemedebista. Não é preciso lembrar o quanto a mentira, quando comprovada, é repudiada pela população, né? Ou vocês não se lembram do Ciro Gomes em 2002?
Isso tudo para não falar da eficiente campanha negativa que o grupo de Lacerda tem feito pelas ruas da cidade e da verdadeira bigorna que Quintão tem sido obrigado a carregar morro acima - o apoio de Newtão.
PS : Hoje o bicho vai pegar no debate da TV Globo!
Por que votar na Marta?
O atual prefeito, Gilberto Kassab, tem usado como uma de suas principais bandeiras as “grandes obras” na saúde, cujo carro-chefe são as AMA. E tem dito algumas parvices como essa: “A AMA, ela fez alguma AMA? Hospital, ela fez algum hospital?... ela não fez nada.”
A Marta não fez nada? Ela “só” municipalizou a saúde, tirou São Paulo do atraso e cumpriu a constituição, praticamente recomeçando do zero a implantação do SUS na cidade! Foi somente em 2001, sob o comando da petista, que São Paulo se transformou em cidade com gestão plena do sistema municipal de saúde. E que dificuldade ela teve para conseguí-lo! Não foi fácil estruturar todo o sistema público de saúde de São Paulo que tinha sido destruído pelo PAS de Maluf e Pitta, a quem Kassab serviu com fervor e zelo. E foi graças a essa municipalização que o atual prefeito pôde investir nas AMA, que ele diz maravilhas, mas que na realidade não passam de postos de saúde com batom e rímel.
O que dizer das AMA? Esses”puxadinhos” são unidades de atendimentos especializados de baixo grau de complexidade, que funcionam muito mal e são administrados por terceiros ( o prefeito diz que com isso economiza dinheiro. Eu diria que não é na saúde que se deve economizar dinheiro, mas sim, por exemplo, não criando algumas secretarias que ninguém sabe para que servem. Ademais, a saúde pública deve receber uma atenção especial do Estado, que não deveria em hipótese alguma passar a responsabilidade para terceiros). Além do mais, a construção dessas unidades são em detrimento do investimento em UBS (unidades básicas de saúde) e PSF ( programas de saúde da família), que, esses sim, economizam dinheiro público de maneira eficiente e ética, pois são importantes unidades de atendimento primário que visam a prevenção de doenças, o pré-natal, a puericultura e o acompanhamento mais pormenorizado de doentes crônicos, evitando que eles padeçam de doenças futuras ou agudizações das preexistentes.
Vamos comparar: Kassab maquiou 99 UBS e passou a chamá-las de AMA ( construiu apenas 11 novas), que serviram, em última análise, para desintegrar ainda mais um sistema que estava começando a se estruturar. Marta criou 45 UBS, restaurou outras tantas e colocou 800 equipes de PSF à disposição da população paulistana ( hoje temos 1052 equipes, ou seja, muito pouco foi acrescentado nos últimos 4 anos). Vale a pena repetir: tudo isso depois do desastroso PAS idealizado por Maluf e continuado pelo seu fiel escudeiro Pitta, de quem Kassab foi braço direito. Além disso, transformou São Paulo em uma cidade com gestão plena do sistema municipal de saúde, o que não é pouca coisa, e montou o esqueleto do SUS, que deveria ter sido mais bem aproveitado pela atual administração.
Kassab, se quisesse realmente beneficiar o povo de São Paulo, e não criar um "marca", deveria ter se preocupado em integrar melhor o sistema público de saúde, aproveitando o bom planejamento deixado pela Marta. Além disso, poderia ter ampliado a rede de atenção básica e melhorado a logística de encaminhamento de pacientes para unidades de atendimento secundário e terciário, através de convênios com hospitais públicos, filantrópicos e privados, pois esses não faltam na cidade. Mas ele preferiu fazer coisas que dão mais visibilidade, que não necessariamente coincidem com o que é melhor para a cidade, seguindo o exemplo do seu padrinho Paulo Maluf.
Comparar Marta com Kassab em qualquer área da administração pública é covardia, mas na saúde chega a ser sacanagem...
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Por que Barack Obama está vencendo?

O terceiro debate
Ibope: Lacerda 45% X 44% Quintão
Datafolha: Lacerda 45% X 40% Quintão
Vox Populi: Lacerda 42% X 39% Quintão
Esses números, fresquinhos, com certeza influenciaram na postura dos candidatos no debate da TV Alterosa. Logo no início era possível detectar uma asfixiante tensão no ar, então, no primeiro bloco, os candidato partiram logo para o clinch. Iniciaram respondendo as perguntas dos jornalistas diretamente para o eleitor, sem provocações. Mas no segundo bloco...
Aí a coisa esquentou. Quintão resolveu partir para cima repetindo várias vezes que Lacerda ainda tinha que responder à justiça pelo seu envolvimento com o mensalão. Quantas vezes Lacerda negasse o envolvimento, Quintão o reafirmava. Com isso o candidato do PSB foi perdendo o controle. Era possível perceber suas mãos e sua voz trêmulas. Enfim, ele perdeu o rebolado, não soube se sair bem quando foi às cordas. Ele ficou tão atarantado após os ataques que, quando foi a sua vez de fazer a pergunta, ele ficou por vários segundos procurando-a em seus papéis e não teve tempo de completá-la. Marcio não conseguiu se recuperar até o fim do debate.
Nesse debate, nitidamente, Quintão foi orientado a mudar de atitude. Parou com aquele amontoado de frases feitas e procurou mesclar propostas e ataques ao adversário. Ele se saiu muito bem usando essa tática.
Uma coisa muito interessante no debate foi que os mais persistentes ataques que eles fizeram foi o de acusar um ao outro de... direitista! Quintão perguntou mais ou menos assim: "Candidato, você tem dito que temos duas candidaturas bem diferentes em BH: uma de centro-esquerda e uma de direita , que representa o atraso. Quem é quem nessa história?" Aí criou-se a confusão, cada um reinvindicando para si a condição de candidato de esquerda e empurrando para o outro a pecha de direitista. Lacerda dizia que tem apoio do PT e ele próprio é do PSB, e Quintão rebatia dizendo que é apoiado pela esquerda do PT e pelo PCdoB e que Marcio é apoiado pelo direitista Gustavo Valadares (DEM) e pelos tucanos. Parece que não pega muito bem ser de direita em Belo Horizonte!
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Agora a eleição ficou indefinida

segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Debate em BH
"Bom, o debate de hoje na Rede Record foi, na média, bem melhor do que o da Band. Houve mais confronto, menos "joguinho de comadres".
No início do debate, teve uma pergunta de um jornalista sobre a campanha negativa dos candidatos. Nesse momento houve uma certa tensão, troca de acusações. Lacerda disse que a alegação de Quintão de que foi agredido em um debate na faculdade de Direito da UFMG não passou de armação e que tem provas disso. Quintão não rebateu essa acusação de modo convincente. O candidato do PSB também foi bem nesse momento ao não falar diretamente do "mensalão", como ele fez por várias vezes no debate passado. Agora ele preferiu dizer que tem sido vítima de "acusações infundadas", "golpes baixos",etc.
Nesse debate Quintão me pareceu bastante inseguro. Nas respostas, em geral de 2 minutos, ele repetia várias vezes a mesma frase,dando a impressão de que não tinha muito a dizer, de que estava "cozinhando o galo" esperando o tempo passar. Repetiu várias vezes que ele é a continuidade do projeto de Patrus e Célio de Castro, o que me pareceu um tanto quanto ridículo. Além disso, uma de suas peguntas foi mais ou menos assim: " O PMDB é o maior partido do Brasil.Tem mil e tantos prefeitos, seis ministros. O que você acha do meu partido?" Além de desperdiçar uma pergunta, ele levantou a bola para o Lacerda, que soube tirar proveito da pergunta idiota.
Além disso, Quintão em alguns momentos parecia um pouco atordoado. Algumas vezes, principalmente no início do debate, quando ele estava respondendo uma pergunta ele ficava tentando completar a resposta da pergunta anterior, fazia uma confusão danada e não respondia nenhuma das duas.
Lacerda, que mais uma vez foi muito mais propositivo, mais articulado, teve alguns erros também. Por exemplo, no segundo bloco, se não me engano, ele falou que estava tudo bem com a saúde, faltava apenas alguns ajustes, e tal. Aí, Quintão lembrou que a prefeitura tem tido dificuldade em contratar médicos para atender nas áreas mais afastadas do centro. Ou seja, uma bola fora do "poste". Nunca se pode dizer em um debate que está tudo bem com a saúde! Quando Lacerda foi perguntado sobre uma nova rodoviária no Calafate, que estaria sendo idealizada pela atual gestão e que é muito impopular na região, ele disse que ia ver, que confia no atual prefeito, que conversaria com ele para não abrir a licitação por enquanto, que faria só se não tivesse jeito... Não mostrou segurança na resposta. O candidato do PMDB disse: "Eleitores de Calafate, eu assumo o compromisso com vocês de que essa rodoviária não será feita!". Ganhou pontos.
De um modo geral,Quintão repondia com suas conhecidas generalidades ("vou cuidar de gente", "isso dá pra fazê", " vou fazer um governo de coalizão", " vou conversar com todos", "vou dialogar com você") e Lacerda procurava fazer algumas propostas, de maneira mais articulada. No entanto, o "Pimentécio" , tentando parecer auto-confiante e confiável (" eu sei como fazer", "fiz isso minha vida toda","eu tenho experiência", etc), andou o tempo todo em cima da linha que separa a auto-confiança da arrogância,e pode ter pendido mais para essa última na opinião de alguns eleitores. Só por isso eu não digo que Lacerda venceu o debate ( lembram daquele famoso debate entre Critovam Buarque e Joaquim Roriz? O primeiro venceu tão claramente, foi tão melhor, que a população achou que ele foi arrogante e humilhou Roriz, que acabou vencendo a eleição). Vou ter que esperar a repercussão".
***
Uma opinião interesante sobre a disputa eleitoral em BH foi publicada por Kennedy Alencar na sua coluna na Folha Online. Ele disse que estaria ocorrendo uma "reflexão sobre a onda Quintão" e que seria possível uma nova virada.
Acho que pode ser que ele tenha uma dose de razão. Eu também tenho a impressão de que Quintão bateu no teto e seu discurso está cansando a população. No entanto, não sei se Lacerda conseguirá aproveitar esse cansaço e tirar votos do seu adversário.
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Querida, o candidato encolheu!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008
O "bom burguês" X "gente-como-a-gente"

sexta-feira, 10 de outubro de 2008
O dia em que meu ouvido virou penico
Quando cheguei lá, a sala operatória estava naquele silêncio, todos concentradíssimos. Atrás da equipe que estava efetivamente participando da operação, estava um dos meus preceptores tirando fotos da cirurgia, passo-a-passo. Mas, por ser muito baixinho, ele estava tendo uma dificuldade danada, pois tinha que ficar o tempo todo nas pontas dos pés, a máquina por cima da cabeça dele e da equipe cirúrgica, todo desajeitado. Quando ele me viu dando bobeira lá, não teve dúvidas:
- Bruno, tira as fotos aqui, você que é mais eloqüente.
-?!
-Toma a máquina.
- Beleza.
Confesso que não entendi bem o que ele quis dizer com " você que é mais eloqüente". E também não entendo o que eloqüência tem a ver com isso. Mas, como diz aquele ditado, "manda quem pode e obedece que tem juízo". Não tive escolha: virei o fotógrafo da cirurgia.
PS: eu não tenho nada de eloqüente, o que me leva a crer que ele não sabe o significado da palavra. Acho que ele a ouviu, achou-a bonita e quis usá-la a qualquer custo... :-)
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Ele está de volta.

Ele estava fazendo uma tremenda falta à blogosfera brasileira, mas, desde ontem, Mino Carta está de volta com sua olivetti afiadíssima. Seja bem-vindo, Mino!
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
BH, Rio, Sampa
Aqui em BH, a situação é a seguinte: temos que escolher entre o ruim e o péssimo. Não podemos deixar de lembrar que essa situação é culpa do senhor Fernando Pimentel, e sua ganância desenfreada, e de parcela significativa do PT. Veja bem: antes do início da campanha tínhamos a Jô Morais, histórico quadro da esquerda mineira, disparada na primeira posição. Tínhamos outro importante quadro , o Sérgio Miranda, disposto a concorrer. E, tínhamos uma parcela do PT, liderada por Patrus e Dulci, que não queriam nem ouvir falar em aliança com Aécio Neves e seus sabujos. Além disso, BH estava há 16 anos sendo governada pelo PT e aliados com muito sucesso e muita aprovação popular. O quadro anunciado era o de uma estrondosa vitória de qualquer candidato que se lançasse por uma coligação de esquerda minimamente unida ( uma chapa Patrus/Jô ou Jô/Dulci seria imbatível). Pois não é que o Pimentel e seu aliados conseguiram estragar tudo!
Eles conseguiram costurar uma aliança informal com o PSDB e formal com outras siglas menores e com isso deixar aliados históricos ,como PCdoB e PDT, a ver navios. Consequentemente, as candidaturas de esquerda afundaram ( não tinham apoio, nem dinheiro, nem tempo de televisão decente) e teremos um segundo turno entre um poste, filhote da dupla Aécio/Pimentel, e um carola filhinho de papai.
Está difícil fazer uma escolha entre esses dois. Mas, como nunca anulo meu voto, optarei pelo que eu acho que seja o mal menor. Apoiarei, sem nenhum entusiasmo, envergonhado, o candidato Marcio Lacerda.
***
No Rio de Janeiro a coisa também é complicada. Por pura burrice e falta de habilidade política dos partidos de esquerda, que não conseguiram unir forças em torno de Jandira ( a candidata do campo progressista com mais chances de vitória no início da campanha) teremos um segundo turno entre o neo-direitista Gabeira e o filhinho rejeitado do César Maia, Eduardo Paes. É duro de escolher.
Eduardo Paes é aquele que durante a crise política de 2005 e 2006 fazia bravatas aos quatro ventos, pedindo, irresponsavelmente, o impeachment do presidente Lula. Ele era uma estrela em ascenção do PSDB e uma das vozes mais ouvidas da oposição, mas quando Cabral o convidou para se filiar ao PMDB, e consequentemente fazer parte da base aliada, e ocupar uma secretaria no governo do Estado, ele não pensou duas vezes e mudou de barco. Pesa ainda contra ele a acusação de ser o candidato preferido das milícias.
Já Gabeira... De ex-comunista a candidato da Globo, do PSDB e do Armínio Fraga. Da luta de classes ao "choque de gestão". Famoso por defender a descriminalização da maconha ( eu também sou favorável), agora ele não quer mais gastar energia com esse assunto. Essa é a coerência do Gabeira!
Em 2005, ele deu uma entrevista para a Veja esbanjando preconceitos contra Lula e o PT ( era a época da radicalização da mídia e da oposição contra o governo. A época do " vamos acabar com essa raça"). Veja essa resposta e tire suas conclusões:
"Veja – Em que momentos o senhor percebe esse deslumbramento?
Gabeira – Em muitos momentos. A chegada ao governo significa uma ascensão social, pelo menos nessa circunstância. Você passa a desfrutar de bens materiais superiores aos que desfrutava antes. E quando você chega ao governo no bojo de um grande movimento social, muito admirado e cortejado, isso contribui para que você, de certa maneira, perca o rumo. E aí você vai ver as pirâmides, tirar foto ao lado das pirâmides, comprar um avião... Isso tudo aconteceu com Lula e, no seu caso, houve ainda a agravante de ele não ser uma pessoa inquieta, do ponto de vista intelectual."
A imagem que muitos tem de Gabeira é a de um homem corajoso que enfrentou o presidente da Câmara na época, Severino Cavalcanti. Só se esquecem que ele foi uns dos que ajudaram a eleger Severino, apostando no quanto pior melhor, só para afrontar o governo, que apoiava outro candidato.
Muitos alegam que votam no Gabeira porque ele tem uma história. Concordo, uma bela história. Só que infelizmente ele resolveu mudar de lado, assim como outro homem de história: FHC. Tanto ele mudou de lado que agora no segundo turno, além do PSDB, ele contará com o apoio do DEM, do César Maia.
Por essas e outras, vou ter que timidamente, envergonhadamente, apoiar o Eduardo Paes, o mauricinho.
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Em São Paulo, a Marta vai ter uma batalha duríssima contra o Kassab. A tendência é de a grande maioria dos eleitores de Alckmin ir para o atual prefeito. Além disso, o Kassab está em trajetória ascendente, enquanto Marta está estacionada (ou em ligeira queda).
A ex-prefeita tem ainda contra ela uma poderosa máquina municipal e estadual, além do tradicional conservadorismo da classe média paulistana.
Eu estou com a Marta, mas vai ser muito difícil!
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Voltando
Vamos à política.
Infelizmente, meus temores em relação à eleição para prefeito de BH estão se confirmando. Quando saí de viagem, há um pouco mais de 1 mês, Marcio Lacerda acabara de ultrapassar Jô Moraes ( mas eles ainda se encontravam em empate técnico), e eu temia que o Leonardo Quintão( PMDB) se fortalecesse, pelo fato de ter uma melhor estrutura de campanha, e também ultrapassasse a candidata do PCdoB. E para o meu desgosto isso aconteceu. E pior: corre-se o risco de a eleição ser decidida no primeiro turno.
Na minha opinião, uma vitória de Lacerda não é um desastre. Desastre seria uma vitória de Quintão. Portanto, melhor uma vitória de Marcio no primeiro turno do que um segundo turno entre ele e Quintão.
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Ontem, durante meu vôo de volta, eu estava sentado ao lado se duas senhoras:
(senhora 1) - Como será que estão as eleições lá em São Paulo? Será que vai dar Marta?
(senhora 2) - Pelamordedeus!!!! Ninguém merece a Marta!
(senhora 1) - Marta de novo não dá.
(senhora 2) - Odeio ela.
(senhora 1) - Tenho nojo dela.
(senhora 2) - Eu queria que o Kassab ganhasse.
(senhora 1) - Ah é? Por quê?
(senhora 2) - Ah, sei lá, eu acho ele tão simpático.
(senhora 1) - E você, vai votar para quem?
(eu) - Eu não voto em São Paulo, mas se eu votasse votaria na Marta.
Seguiu-se um silêncio constrangedor. As duas velhinhas se entreolharam e acharam por bem mudar de assunto e me deixarem no meu canto com o meu livro.
Isso me lembrou, pela argumentação inusitada, uma discussão que tive com minha avó às vésperas do segundo turno da eleição presidencial de 2006. Ela defendendo o Alckmin e eu, o Lula. No auge da discussão quando já lhe faltavam argumentos, ela me saiu com uma pérola que matou a contenda:
- Bruninho, você é tão bonito, por que anda tão encantado com o Lula e com esses feiosos do PT ?
Lógico que depois dessa caimos na gargalhada e a conversa foi para outro caminho. Essa era uma astuciosa senha para mudarmos o rumo da prosa.
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A cobertura do Idelber e do Pedro Dória do debate entre os candidatos a vice-presidentes dos EUA foi fantástica. Já o debate nem tanto. Foi um pouco morno.
Palin não foi um desastre como o esperado. Fez um belo jogo de cena, usou e abusou do charme e quando o assunto estava dentro do que ensaiou ela conseguia se sair muito bem. No entanto, quando fugia do script ela se mostrava um tanto quanto insegura, hesitante, gaguejante.
Já Biden, na minha opinião, foi muito bem. Não cometeu gafes, nem pareceu arrogante ou sexista em nenhum momento. Foi duro, incisivo, na medida certa. E mirou em quem devia mirar: John McCain. A todo momento ele procurava pontuar as diferenças de conduta e de propostas entre Obama e o candidato republicano, e mostrar o quanto esse último é próximo de Bush e Cheney, pois sempre votava a favor das propostas do governo nos assuntos que realmente interessavam ( tentando colocar em xeque a fama de "Maverick" de McCain). Seu ponto alto foi o momento em que ele se emocionou ao se lembrar dos filhos e da esposa mortos. E, conforme bem lembrou o Pedro Dória, Palin perdeu pontos nessa hora quando " foi incapaz de fazer um comentário gentil imediatamente após".
PS: Felizmente, de acordo com as primeiras pesquisas, os eleitores americanos tiveram a mesma percepção que eu, ou seja, de uma clara vitória do democrata.