sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O dia em que meu ouvido virou penico

No meu primeiro dia de trabalho após as minhas férias, ou seja, na sexta-feira passada, eu estava de plantão ( não sei se eu já disse isso aqui: eu sou médico residente em um grande hospital aqui em Belo Horizonte). Como o plantão estava muito tranqüilo e eu já tinha resolvido tudo o que tinha que resolver, eu rumei para o centro cirúrgico, onde estava tendo uma cirurgia raríssima, destinada a extirpar um, também raro, tumor abdominal.

Quando cheguei lá, a sala operatória estava naquele silêncio, todos concentradíssimos. Atrás da equipe que estava efetivamente participando da operação, estava um dos meus preceptores tirando fotos da cirurgia, passo-a-passo. Mas, por ser muito baixinho, ele estava tendo uma dificuldade danada, pois tinha que ficar o tempo todo nas pontas dos pés, a máquina por cima da cabeça dele e da equipe cirúrgica, todo desajeitado. Quando ele me viu dando bobeira lá, não teve dúvidas:

- Bruno, tira as fotos aqui, você que é mais eloqüente.
-?!
-Toma a máquina.
- Beleza.

Confesso que não entendi bem o que ele quis dizer com " você que é mais eloqüente". E também não entendo o que eloqüência tem a ver com isso. Mas, como diz aquele ditado, "manda quem pode e obedece que tem juízo". Não tive escolha: virei o fotógrafo da cirurgia.

PS: eu não tenho nada de eloqüente, o que me leva a crer que ele não sabe o significado da palavra. Acho que ele a ouviu, achou-a bonita e quis usá-la a qualquer custo... :-)

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