segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O "bom burguês" X "gente-como-a-gente"


O debate de ontem da TV Bandeirantes entre Marcio Lacerda e Leonardo Quintão foi, conforme eu esperava, morno, bem comportado. Respeitoso e cordial demais. Cada qual seguindo seu figurino: Lacerda faz o papel de "bom burguês" e Quintão, de "gente-como-a-gente". A pegunta é: houve vencedor? Depende do ponto de vista...

Lacerda mostrou-se mais propositivo. Invocava , sempre que podia, sua experiência como administrador de sucesso e seu passado de luta contra a ditadura militar. Citando números e mais números, passou a impressão de ter realmente se preparado bastante para essa candidatura. Falou sobre vários pontos do seu programa de governo, indicou alguns problemas e apontou soluções ( com as quais muitas vezes eu não concordava. Por exemplo, quando se falava dos problemas do transporte, ele pouco falou sobre metrô, preferiu discorrer sobre faixas exclusivas para ônibus e novos túneis e trincheiras).

Já Quintão, a impressão que ele passou era a daquele cara que chegou onde não esperava ter chegado e agora tem que correr atrás do prejuízo. Repetiu umas quarenta vezes que a prefeitura arrecadou 300 milhões de reais a mais que o esperado nesse ano e que ele investiria esse dinheiro "em gente". Seu programa de governo? Não falou praticamente nada sobre ele durante o debate. Disse apenas generalidades. Sempre que instado apontar soluções para um problema, ele se saia com um "vou dialogar com as partes interessadas" ou "é preciso sentar e conversar com a população".E usou e abusou do seu sotaque caipira e do seus bordões : "isso dá pra fazê" e "é você que vai decidir,eleitor" ( esse último eu acho muito bem bolado. O subtexto é : " você não pecisa votar em quem o governador e o prefeito querem que você vote. O poder de decidir está em suas mãos")

No conteúdo, indiscutivelmente, venceu Lacerda. Mas na forma, no jogo de cena... Aí, o candidato "gente-como-a-gente" levou grande vantagem.

Não há como negar: Quintão é um cara muito carismático. Ele força um sotaque, fala errado, faz gestos, faz questão de parecer bom moço, enfim, é um grande ator ( eu defendo a tese de que cada dia mais temos políticos-atores)... Parece que você está tendo uma conversa informal com o seu jornaleiro. Na minha opinião, num debate como esse, o jogo de cena é muito mais importante que o conteúdo. Lacerda , com o seu jeito que mistura a falta de expressão do cigano Igor e a falta de carisma do José Serra, terá muita dificuldade em atrair votos em debates televisivos.

Outro erro estratégico importante do Lacerda foi o de ficar o tempo todo tocando no assunto do "mensalão". Sua campanha avalia que ele perdeu 150 mil votos no primeiro turno por causa de e-mails e cartazes apócrifos que diziam que ele recebeu dinheiro do "mensalão" mineiro. Ora, não é preciso ser um gênio para saber que se você é vítima de uma acusação a melhor estratégia para se ver livre dela é fazer de tudo para que ela seja esquecida, e não ficar batendo na tecla de que é inocente, sem que isso lhe tenha sido sequer perguntado. Mas Lacerda, na sua primeira e na sua última participação fez questão de repisar no assunto. Tenho a impressão que ele mais perdeu do que ganhou com isso.

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Tendo como base o crescimento de última hora da candidatura de Leonardo Quintão e as conversas que venho tendo com as pessoas aqui em BH, a impressão que eu tenho é que estamos tendo uma onda favorável à Quintão aqui.

E vai ser difícil segurar essa onda. Por quê? Porque Lacerda chegou ao segundo turno montado nas costas de Pimentel e Aécio. Antes da campanha ninguém o conhecia, mas com essa aliança enorme em torno do seu nome, era esperado que ele chegasse onde chegou. Mas, esse apoio que foi o grande responsável por ele estar no segundo turno, é também motivo de grande rejeição(estou me baseando apenas na minha percepção. Não tenho conhecimento de nenhuma pesquisa nesse sentido). Os eleitores estão gostando da idéia de mandar o recado: " Ei, governador. Ei , prefeito. Não vamos aceitar imposições. O voto é meu e eu voto em quem eu quero".

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