Responder a pergunta acima é muito fácil, tenho inúmeros argumentos: foi ela quem criou os CEUs, o bilhete único, foi pioneira na defesa dos direitos das minorias, etc. Mas como não quero passar a noite toda escrevendo aqui, vou me limitar a um assunto que me é muito caro: a saúde pública.
O atual prefeito, Gilberto Kassab, tem usado como uma de suas principais bandeiras as “grandes obras” na saúde, cujo carro-chefe são as AMA. E tem dito algumas parvices como essa: “A AMA, ela fez alguma AMA? Hospital, ela fez algum hospital?... ela não fez nada.”
A Marta não fez nada? Ela “só” municipalizou a saúde, tirou São Paulo do atraso e cumpriu a constituição, praticamente recomeçando do zero a implantação do SUS na cidade! Foi somente em 2001, sob o comando da petista, que São Paulo se transformou em cidade com gestão plena do sistema municipal de saúde. E que dificuldade ela teve para conseguí-lo! Não foi fácil estruturar todo o sistema público de saúde de São Paulo que tinha sido destruído pelo PAS de Maluf e Pitta, a quem Kassab serviu com fervor e zelo. E foi graças a essa municipalização que o atual prefeito pôde investir nas AMA, que ele diz maravilhas, mas que na realidade não passam de postos de saúde com batom e rímel.
O que dizer das AMA? Esses”puxadinhos” são unidades de atendimentos especializados de baixo grau de complexidade, que funcionam muito mal e são administrados por terceiros ( o prefeito diz que com isso economiza dinheiro. Eu diria que não é na saúde que se deve economizar dinheiro, mas sim, por exemplo, não criando algumas secretarias que ninguém sabe para que servem. Ademais, a saúde pública deve receber uma atenção especial do Estado, que não deveria em hipótese alguma passar a responsabilidade para terceiros). Além do mais, a construção dessas unidades são em detrimento do investimento em UBS (unidades básicas de saúde) e PSF ( programas de saúde da família), que, esses sim, economizam dinheiro público de maneira eficiente e ética, pois são importantes unidades de atendimento primário que visam a prevenção de doenças, o pré-natal, a puericultura e o acompanhamento mais pormenorizado de doentes crônicos, evitando que eles padeçam de doenças futuras ou agudizações das preexistentes.
Vamos comparar: Kassab maquiou 99 UBS e passou a chamá-las de AMA ( construiu apenas 11 novas), que serviram, em última análise, para desintegrar ainda mais um sistema que estava começando a se estruturar. Marta criou 45 UBS, restaurou outras tantas e colocou 800 equipes de PSF à disposição da população paulistana ( hoje temos 1052 equipes, ou seja, muito pouco foi acrescentado nos últimos 4 anos). Vale a pena repetir: tudo isso depois do desastroso PAS idealizado por Maluf e continuado pelo seu fiel escudeiro Pitta, de quem Kassab foi braço direito. Além disso, transformou São Paulo em uma cidade com gestão plena do sistema municipal de saúde, o que não é pouca coisa, e montou o esqueleto do SUS, que deveria ter sido mais bem aproveitado pela atual administração.
Kassab, se quisesse realmente beneficiar o povo de São Paulo, e não criar um "marca", deveria ter se preocupado em integrar melhor o sistema público de saúde, aproveitando o bom planejamento deixado pela Marta. Além disso, poderia ter ampliado a rede de atenção básica e melhorado a logística de encaminhamento de pacientes para unidades de atendimento secundário e terciário, através de convênios com hospitais públicos, filantrópicos e privados, pois esses não faltam na cidade. Mas ele preferiu fazer coisas que dão mais visibilidade, que não necessariamente coincidem com o que é melhor para a cidade, seguindo o exemplo do seu padrinho Paulo Maluf.
Comparar Marta com Kassab em qualquer área da administração pública é covardia, mas na saúde chega a ser sacanagem...
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
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1 comentários:
Bruno!
Muito bom seu texto, principalmente na área da saúde. Trabalhei na Prefeitura de Belo Horozinte de 1993 a 2000, na área de saúde. Foi no governo Patrus que o sistema de saúde de Belo Horioznte foi organizado (e olha que nunca foi o caos que São Paulo tinha). E sei como é difícil fazer o que a Marta teve que fazer. Não é pouca coisa.
Infelizmente a saúde é tratada como um grande problema dela. Parece que antes dela existia alguma coisa na saúde pública em São Paulo.
E isso que dá quando a pauta política passa toda a ser definida pela grande mídia.
Grande abraço
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