segunda-feira, 6 de outubro de 2008

BH, Rio, Sampa

Apesar das grandes vitórias das esquerdas nas principais cidades do Brasil, a situação dos três maiores colégios eleitorais do país é preocupante. São justamente as três capitais onde eu já morei e com as quais tenho muita ligação afetiva ( é, já andei o bocado). Morei um ano em São Paulo,em 1998, algum tempo no Rio e atualmente moro em Belo Horizonte.

Aqui em BH, a situação é a seguinte: temos que escolher entre o ruim e o péssimo. Não podemos deixar de lembrar que essa situação é culpa do senhor Fernando Pimentel, e sua ganância desenfreada, e de parcela significativa do PT. Veja bem: antes do início da campanha tínhamos a Morais, histórico quadro da esquerda mineira, disparada na primeira posição. Tínhamos outro importante quadro , o Sérgio Miranda, disposto a concorrer. E, tínhamos uma parcela do PT, liderada por Patrus e Dulci, que não queriam nem ouvir falar em aliança com Aécio Neves e seus sabujos. Além disso, BH estava há 16 anos sendo governada pelo PT e aliados com muito sucesso e muita aprovação popular. O quadro anunciado era o de uma estrondosa vitória de qualquer candidato que se lançasse por uma coligação de esquerda minimamente unida ( uma chapa Patrus/ ou /Dulci seria imbatível). Pois não é que o Pimentel e seu aliados conseguiram estragar tudo!

Eles conseguiram costurar uma aliança informal com o PSDB e formal com outras siglas menores e com isso deixar aliados históricos ,como PCdoB e PDT, a ver navios. Consequentemente, as candidaturas de esquerda afundaram ( não tinham apoio, nem dinheiro, nem tempo de televisão decente) e teremos um segundo turno entre um poste, filhote da dupla Aécio/Pimentel, e um carola filhinho de papai.

Está difícil fazer uma escolha entre esses dois. Mas, como nunca anulo meu voto, optarei pelo que eu acho que seja o mal menor. Apoiarei, sem nenhum entusiasmo, envergonhado, o candidato Marcio Lacerda.

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No Rio de Janeiro a coisa também é complicada. Por pura burrice e falta de habilidade política dos partidos de esquerda, que não conseguiram unir forças em torno de Jandira ( a candidata do campo progressista com mais chances de vitória no início da campanha) teremos um segundo turno entre o neo-direitista Gabeira e o filhinho rejeitado do César Maia, Eduardo Paes. É duro de escolher.

Eduardo Paes é aquele que durante a crise política de 2005 e 2006 fazia bravatas aos quatro ventos, pedindo, irresponsavelmente, o impeachment do presidente Lula. Ele era uma estrela em ascenção do PSDB e uma das vozes mais ouvidas da oposição, mas quando Cabral o convidou para se filiar ao PMDB, e consequentemente fazer parte da base aliada, e ocupar uma secretaria no governo do Estado, ele não pensou duas vezes e mudou de barco. Pesa ainda contra ele a acusação de ser o candidato preferido das milícias.

Gabeira... De ex-comunista a candidato da Globo, do PSDB e do Armínio Fraga. Da luta de classes ao "choque de gestão". Famoso por defender a descriminalização da maconha ( eu também sou favorável), agora ele não quer mais gastar energia com esse assunto. Essa é a coerência do Gabeira!

Em 2005, ele deu uma entrevista para a Veja esbanjando preconceitos contra Lula e o PT ( era a época da radicalização da mídia e da oposição contra o governo. A época do " vamos acabar com essa raça"). Veja essa resposta e tire suas conclusões:

"Veja – Em que momentos o senhor percebe esse deslumbramento?

Gabeira – Em muitos momentos. A chegada ao governo significa uma ascensão social, pelo menos nessa circunstância. Você passa a desfrutar de bens materiais superiores aos que desfrutava antes. E quando você chega ao governo no bojo de um grande movimento social, muito admirado e cortejado, isso contribui para que você, de certa maneira, perca o rumo. E aí você vai ver as pirâmides, tirar foto ao lado das pirâmides, comprar um avião... Isso tudo aconteceu com Lula e, no seu caso, houve ainda a agravante de ele não ser uma pessoa inquieta, do ponto de vista intelectual."

A imagem que muitos tem de Gabeira é a de um homem corajoso que enfrentou o presidente da Câmara na época, Severino Cavalcanti. Só se esquecem que ele foi uns dos que ajudaram a eleger Severino, apostando no quanto pior melhor, só para afrontar o governo, que apoiava outro candidato.

Muitos alegam que votam no Gabeira porque ele tem uma história. Concordo, uma bela história. Só que infelizmente ele resolveu mudar de lado, assim como outro homem de história: FHC. Tanto ele mudou de lado que agora no segundo turno, além do PSDB, ele contará com o apoio do DEM, do César Maia.

Por essas e outras, vou ter que timidamente, envergonhadamente, apoiar o Eduardo Paes, o mauricinho.

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Em São Paulo, a Marta vai ter uma batalha duríssima contra o Kassab. A tendência é de a grande maioria dos eleitores de Alckmin ir para o atual prefeito. Além disso, o Kassab está em trajetória ascendente, enquanto Marta está estacionada (ou em ligeira queda).

A ex-prefeita tem ainda contra ela uma poderosa máquina municipal e estadual, além do tradicional conservadorismo da classe média paulistana.

Eu estou com a Marta, mas vai ser muito difícil!

1 comentários:

André Egg disse...

Concordo em tudo com a tua análise.

Se eu morasse em BH, votaria no Lacerda.

No Rio eu votaria no Gabeira, sem dúvida nenhuma - até mesmo por toda a análise que você fez. Acho mais confiável um cara é de esquerda mais se aliou com os inimigos de Lula do que o Paes, que é inimigo de Lula mas se tornou aliado só por que pode ganhar alguma coisa com isso.

Em São Paulo não há dúvida - tem que votar em Marta, e a vitória parece hoje um sonho distante.

Na minha cidade - Curitiba, inexistência da esquerda, que nunca teve força política por aqui. Em grande parte pelo fabuloso fluxo migratório de pleibóis cariocas e paulistas em busca de "qualidade de vida".