terça-feira, 28 de outubro de 2008

A hora da engenharia de obra feita - BH

Acabaram as eleições. Os vencedores comemoram suas vitórias, os perdedores buscam se recompor tentando tirar uma vitória política de uma derrota eleitoral. E eu comecei a semana trabalhando igualzinho, o mesmo stress, as mesmas pequenas vitórias do dia-a-dia, as pequenas derrotas, a mesma praça, o mesmo banco...

Mas para quem gosta de política como eu, o período eleitoral é um prato cheio. E eu não poderia deixar de fazer a minha análise, por mais desnecessária que seja a essa altura do campeonato, quando quase tudo já foi dito.

Em Belo Horizonte , Marcio Lacerda, apoiado por Fernando Pimentel e Aécio Neves, foi o eleito. Mas a parada foi muito mais difícil do que os seus padrinhos e apoiadores esperavam.

A campanha, que foi dura e marcada por reviravoltas, desaguou num segundo turno digno dos maiores pesadelos dos eleitores belorizontinos de esquerda. Ficamos entre a cruz e a caldeira. E optamos pelo mal menor.

No primeiro turno, após o início da propaganda eleitoral gratuita, aproveitando o enorme tempo de TV que sua extensa aliança lhe proporcionou, Lacerda teve uma arrancada espetacular. Muitos esperavam que ele vencesse na primeira etapa. Aí, o poste sentou-se na cadeira de prefeito antes da hora, não participou de debates organizados por entidades de classe e viu todos os seus adversários se unindo para atacá-lo.

Nesse meio tempo, Jô Moraes, a minha candidata, que representava a esquerda descontente com a união PT-PSDB, começou a perder espaço. Ela tinha pouco dinheiro e pouquíssimo tempo de televisão, que além disso foi muito mal aproveitado. Contava apenas com uma militância muito aguerrida do PCdoB e de dissidentes do PT, que não bastou. Então, nesse vácuo, surgiu o grande fato novo nas eleições de Belo Horizonte: Leonardo Quintão.

Ele tinha, no primeito turno, mais ou menos o quádruplo do tempo de TV de Jô e a metade do de Lacerda. Soube tirar proveito disso. Assumiu o papel de bom moço, do mineiro que adora uma prosa com pão de queijo e cafezim. Procurou despolitizar a campanha, dizia que era preciso um prefeito que "ouve você". Na etapa final do primeiro turno herdou votos que Lacerda perdeu, votos de Jô Moraes, que foi encolhendo ao longo da campanha, e votos de pessoas que pouco se interessam por política mas que são obrigadas a votar. Conclusão: surgiu uma onda Quintão quase irresistível . Encostou em Lacerda no primeiro turno e disparou no início do segundo, a ponto de me fazer queimar a língua feio.

Aí, o que foi um trunfo no primeiro turno virou uma fraqueza no segundo. Quintão se apegou ao seu discurso de candidato "gente-como-a-gente" - ou será que ele só tinha esse? - e começou a perder muitos pontos à medida em que os debates no segundo turno foram acontecendo e foi ficando clara a superficialidade das suas propostas.

A campanha negativa levada a cabo por Lacerda também foi de extrema importância para conter a onda Quintão. Ela foi tão eficaz que os eleitores começaram a ter vergonha de declarar que votariam no peemedebista. Além disso, houve a famosa parcialidade da mídia mineira, que mal pôde disfarçar sua preferência pelo candidato do "nhô" Aécio, e o engajamento da classe média belorizontina a partir da segunda metade da campanha do segundo turno. Ocorreram ainda alguns episódios em que Quintão foi pego na mentira. A campanha de Lacerda explorou isso à exaustão e isso enfraqueceu o personagem bom moço encenado pelo peemedebista.

Com isso, Lacerda conseguiu abrir vantagem no finalzinho da campanha e venceu o segundo turno com uma margem de votos relativamente grande. Mas ganhou muito mais pela tibieza do adversário do que pelos seus próprios méritos ou de sua aliança.

Será interessante observar agora como vai se reorganizar o PT mineiro, que saiu rachado dessa campanha. Será que o PT se considerará derrotado, pois perdeu a prefeitura que administra com sucesso há vários anos, dividiu-se e uma importante dissidência ficou ressentida e se sentiu desprestigiada? Nesse caso, essa derrota política será depositada na conta de Fernando Pimentel e o grupo de Patrus Ananias se fortalece. Será que ele vai se considerar um vitorioso, já que oficialmente apoiou o Lacerda, inclusive indicando o vice? Aí é Pimentel em 2010.

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