segunda-feira, 12 de maio de 2008

A estratégia fracassada de Hillary

A essa altura do campeonato, poucos duvidam que Barack Obama será o candidato indicado pelos Democratas para concorrer à presidência dos EUA, nas eleições de novembro. Se alguém dissesse isso há alguns meses seria chamado de lunático.

A derrota de uma candidatura cuja vitória era dada como certa ocorre, sem dúvida, em função de inúmeros erros de sua campanha e diversos acertos da de seu oponente.

Eu poderia tentar fazer um balanço completo dessas primárias Democratas, mas não conseguiria fazer um melhor do que o doIdelber. Portanto, gostaria de me ater a somente um ponto, que eu acho crucial: a relação do eleitor negro com os Clinton.

Bill Clinton, na sua juventude, desempenhou um importante papel durante o movimento dos direitos civis no estado sulista do Arkansas. Como gratidão, recebeu importante apoio dos negros durante a campanha por seu impeachment, em 1992. E foi celebrado por Toni Morrison como o “primeiro presidente negro” dos EUA.

Com esse capital político, além do apoio dos trabalhadores brancos e hispânicos e da cúpula do partido Democrata, restava a Hillary ter o trabalho de correr para o abraço. Mas, como sabemos, não foi isso que aconteceu.

Quando o jovem senador negro, Barack Obama, no início apenas uma promessa, começou a encantar as multidões, incluindo brancos e negros (principalmente os mais jovens), e venceu a primária de Iowa, o sinal amarelo foi aceso na campanha de Hillary. Como parar esse jovem negro e carismático que acabara de mostrar que não estava para brincadeira? Decidiram, aí está o grande erro ao meu ver, movimentar-se para dar a entender que Obama é o candidato dos negro, enquanto ela seria a dos brancos e hispânicos. Com isso, mais o magnetismo natural de Obama, ela empurrou o eleitorado negro para os braços do senador (na última primária, na Carolina do Norte, ela teve apenas 7% dos votos dos negros). Esse inconveniente poderia ter sido compensado se ela tivesse apoio maciço do seu público-alvo, os brancos e latinos.

Porém, a Obamania e o extraordinário alcance do discurso pós-racial do senador fizeram com que essa estratégia de Hillary desse com os burros n’água. Ele conseguiu sensibilizar e atrair o voto de parcela significativa desses eleitores, brancos e latinos (principalmente os mais jovens, mais escolarizados e de maior renda), que os Clinton julgavam que estariam certamente com eles. Com Obama abrindo vantagem no número de delegados, e as primárias chegando ao fim, o que resta a Hillary?

Sabendo que os 6 Estados que faltam realizar as primárias Democrata são Estados de baixa densidade de população negra (desses, Kentucky é o que tem a maior população negra: somente 7,5%) e que não há superdelegados negros não-comprometidos, Hillary não teve alternativa a não ser radicalizar essa estratégia. Chegou a declarar recentemente, após as últimas primárias: “ veja como o apoio ao senador Obama entre trabalhadores, americanos que trabalham duro, americanos brancos, está enfraquecendo novamente, e como brancos em ambos Estados ( Carolina do Norte e Indiana) que não completaram o ensino médio me apoiaram”. É sem dúvida uma tentativa desesperada, mas que provavelmente não surtirá efeito, já que a fatura está praticamente liquidada. Isso servirá apenas para macular a carreira política dos Clinton, se já não estiver maculada o bastante...





PS: Muitas das idéias,dados e conclusões apresentados nesse post são baseados em textos que podem ser lidos na íntegra aqui, aqui, aqui e aqui.

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