quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Machismo explícito no Senado Federal

Assisti ontem, pela TV Senado, a uma cena deplorável. Não, não estou me referindo ao pronunciamento de José Sarney, mas, sim, ao discurso do senador Mário Couto (PSDB/PA). Sob pretexto de falar sobre suposta corrupção no Dnit, o tucano sobe à tribuna. Lá pelas tantas, resolve discorrer sobre a falta de segurança no Pará, dá exemplos de alguns crimes recentes ocorridos no estado e dispara contra quem ele julga culpada: “...um Estado de gente trabalhadora, mas que morre sem nenhuma proteção; que morre barbaramente. Enquanto isso, a Governadora passa a noite em bares bebendo”. E continua, grasnando: “Governadora Ana Julia, tenha piedade. Pare de beber, governadora! Pare de beber! A bebida atrapalha, Governadora! Faça ideia como V. Exª amanhece no dia seguinte, de ressaca, sem poder raciocinar, Governadora! Um ato desse desmoraliza V. Exª, e traz aos bandidos a certeza de que o Pará não tem dono! Traz a certeza aos bandidos de que o Pará está entregue às baratas. Um ato de uma Governadora dessa! A pessoa entra no bar e vê aquela Governadora bêbada .”

Ouvindo esse amontoado de barbaridades, me pus a pensar e tuitei algo a respeito. E se não fosse uma governadora que estivesse à frente do estado do Pará mas um governador, será que estaria tudo bem ir a bares à noite beber com os amigos? Suponhamos que em vez de Ana Julia Carepa (PT) o governador do Pará fosse o segundo colocado na eleição de 2006, o tucano Almir Gabriel, será que algum tresloucado senador se acharia no direito de fazer um discurso desse? Alexandre Nodari tuitou uma resposta bem humorada às minhas indagações: “Se fosse governador, ele estaria socializando com o eleitorado, ora essa...” E eu acrescentei: “Depois os ‘neocools’ dizem que o machismo é um problema marginal no Brasil...” Se um senador acha natural cometer esse tipo de, para ser brando, deselegância na tribuna do Senado Federal, com transmissão ao vivo, imagina o que não acontece privadamente... Mas para os neocools de plantão, os descolados que acham que “o politicamente correto está deixando as pessoas idiotas”, machismo, racismo, homofobia são assuntos que não devem fazer parte da agenda de discussões no Brasil, afinal, “nós não somos racistas” (nem homofóbicos, nem machistas...), não é mesmo?

Felizmente, a senadora Fátima Cleide (PT/RO) não deixou o exaltado senador tucano destilar o seu machismo sem resposta: “Ouvi todas as suas grosserias e estou apelando para que o senhor peça desculpa ao povo do Pará e à Governadora Ana Júlia.” O senador Mario Couto tentou retrucar, mas a senadora manteve-se firme: “Eu só espero respeito, principalmente com a mulher brasileira, que hoje é representada pela Governadora Ana Júlia.”

Senadora Fátima Cleide, vossa excelência lavou a minha alma!

10 comentários:

Unknown disse...

Bruno,

Isso que você aborda é um exemplo típico de preconceito de gênero. O Aécio é boêmio, vive cercado de loiras e corre à larga o boato de que ele é chegado a formas mais, digamos, heterodoxas de recreação e todos acham lindo.

Ante um pronunciamento desses, não dá para negar que somos uma sociedade machista.

Um abraço,
Maurício.

Bruno disse...

Realmente, o pessoal acha lindo o Aécio ser habitué das baladas cariocas, sempre acompanhado de belas mulheres... Queria ver se a Jô Moraes, mulher e comunista, fosse a governadora de Minas Gerais e tivesse o estilo de vida que Aécio tem...

Um abraço

Helder disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Helder disse...

Não tem nada de machismo na fala desse senador (não que ele seja muito eloqüente ou que esteja de acordo com suas críticas), mas segundo a lógica do argumento proposto por Bruno (a ausência hipotética críticas similares se candidato masculino que ficou segundo lugar tivesse ganho as eleições e estivesse se comportando de maneira similar a atual governadora), qualquer crítica a atual governadora poderia em tese tachada de machismo também. Por favor, nao vamos apelar...

Bruno disse...

Helder,

Acho que você leu o que eu escrevi e entendeu o que quis entender.

Está bem claro, pelo menos para mim, que minha crítica é em relação ao que o senador disse da governadora, afirmando que as coisas "estão como estão" porque Ana Julia, em vez de governar, frequenta bares à noite e - pasmem! - ela bebe nesses bares -incrível, né?. Trocando em miúdos, o senador se apega ao suposto fato de a governadora ser boêmia, como se isso, por si só, fosse algo indesejável ou condenável, e usa de deselegância ( "parede beber, governadora!", "bêbada") para fazer ataques pessoais à Ana Júlia e eu nunca vi, por exemplo, ataques semelhantes ao notório boêmio Aécio Neves. Seria bem diferente se ele, ao invés disso, tivesse feito críticas, sei lá, ao investimento insuficiente em saúde ou às péssimas condições dos presídios paraenses. Aí não teria nada de machismo. Simples assim.

Hugo Albuquerque disse...

Bruno,

Vou na mesma direção da sua análise - aliás, o exemplo de Aécio é definitivo sobre essa questão.

Bruno disse...

Hugo,

Pois é. Negar isso - o machismo implícito nos ataques do senador paraense - é não querer enxergar o óbvio.

Raul Bentes disse...

Rapaz,
Eu fiquei besta em ler o post e perceber que o que ta sendo discutido é o fato do senador ter sido machista com a governadora e não o fato da mesma ser filmada bêbada em um bar da cidade. Em meio a uma crise financeira, em que órgãos públicos estão ameaçados de fechar as portas, (no caso os de cultura) uma má distribuição do dinheiro publico, a saúde pedindo “arrego” e nossa excelentíssima governadora fica bêbada, simplesmente bêbada. Coisa que eu, você e qualquer um de nós, têm o direito de fazer, porém, nós não temos um estado inteiro para governar.
Eu não sou contra a bebida, eu até gosto de ficar bêbado, não estou sendo hipócrita ao ponto de privar uma pessoa de ficar bêbada. Como dizia o tio do homem aranha:”grandes poderes requerem grandes responsabilidades”. Né verdade ?????
Qualquer paraense com um pouco mais de conhecimento, sabe que a governadora gosta de uma noitada, que nesse caso não precisa nem ser a noite. Qualquer hora é lugar.
O Pará está mesmo entregue as baratas. Não tem dinheiro pra manter os órgãos, a saúde está precária e fora os outros milhares de problemas que existem por aqui. Na minha opinião, qualquer líder de estado bêbado durante o sufoco que o estado está passando é vergonhoso, tanto para ele quanto para seus eleitores e paraenses em geral.
E vocês ai discutindo se foi machismo ou não. Ora faça-me o favor né!!!

Bruno disse...

É o que eu disse no post. Pessoas como você acham que machismo, racismo, homofobia,etc. são problemas marginais no Brasil. Acham que é lícito fazer um discurso sexista da tribuna do plenário do Senado Federal. Não é nada não, né? Não é importante, afinal, não é você que está sendo insultado, né?

Meu caro, se ela estava bêbada ou não fora do horário do expediente não é assunto que diz respeito a ninguém,a não ser a ela própria.

Agora, você pode discutir eventuais problemas do governo dela, como eu disse num comentário anterior. Só não me venha com churumelas. Ninguém aqui é ingênuo de achar que todos os problemas do Pará são causados por eventuais bebedeiras da governadora, ainda mais um estado que foi governado 12anos pelo PSDB antes de Ana Julia assumir. Eu conheço bem a saúde pública do Pará e sei muito bem quais as suas condições durante o governo Almir Gabriel e Simão Jatene,por exemplo...

Anônimo disse...

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