quarta-feira, 15 de julho de 2009

Capitalismo de acesso

Aí vai a minha pequena contribuição no clube de leituras sobre o livro "Extinção, de Paulo Arantes, que está rolando lá no Consenso, só no paredão.

O Alexandre fez um belo resumo do livro. Agora eu acho que nós poderíamos falar um pouco mais dos conceitos mais interessantes abordados pelo livro, além do de “guerra cosmopolita”, sobre o qual o Hugo escreveu muito bem, o de “capitalismo de acesso” e “crony capitalism”.

No início do capítulo “A viagem redonda do capitalismo de acesso”, Paulo Arantes resvala no debate sobre
software livre e propriedade intelectual - pena que não se aprofundou nesse tema – e faz uma afirmação instigante, citando “um estudioso dessa fronteira da acumulação baseada na tecnociência”: “ a ambição maior da nova economia é controlar o acesso à dimensão virtual da realidade, apropriar-se do futuro, em suma”. E faz um link interessante entre esse movimento de “antecipação que caracteriza a dinâmica da aceleração total da economia de acesso”- a apropriação do acesso à informação seria uma das novas formas de acumulação primitiva - e a estratégia americana de guerra preventiva, que, ao fim e ao cabo, nada mais é do que uma “questão de direito de acesso resolvida manu militari”. Acesso ao petróleo iraquiano, a novas oportunidades de negócio etc.

Essas oportunidades de negócios, obviamente, foram oferecidas aos velhos amigos da família Bush, no melhor estilo “capitalismo de compadres”. Uma perversão do livre mercado. Aqui, uns são mais livres que os outros. Os que têm acesso, os
insiders, levaram a melhor parte do espólio iraquiano. São os “velhos amigos ajudando-se uns aos outros, como sempre, acionando a velha porta giratória do circuito público-privado”.

Isso me remeteu a uma cena do filme "Fahrenheit 9/11", de Michael Moore, em que o jovem Bush Jr fala a possíveis futuros clientes: “eu não tenho poder, mas tenho acesso a ele”. Estávamos sob administração Bush pai. O “capitalismo de compadres” com a “porta giratória público-privada” acionada não é privilégio do império, na periferia ele também está mais do que presente. Veja o caso de Malan, ex-ministro da fazenda e agora alto executivo do Unibanco, só para ficar num exemplo.

Resumindo, e usando uma frase feliz do Paulo Arantes, “a viagem redonda do capitalismo de acesso vem a ser esse retorno da Acumulação Primitiva”

Como disse o Hugo aí em cima, esse livro “levanta várias bolas” e deixa alguns “fios soltos”. Eu tentei puxar um desses fios aí...


Vá lá ao Consenso, só no paredão. Mesmo que você não tenha lido o livro, vale muito a pena acompanhar a discussão de altíssimo nível que está rolando.

2 comentários:

Hugo Albuquerque disse...

Bruno,

Bacana o texto que você fez.

Bruno disse...

Valeu, Hugo.