sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O filho eterno

Li sobre o livro O filho eterno pela primeira vez logo que ele foi lançado, no ano passado. Primeiro li críticas na imprensa. Até aí tudo bem, não acredito muito nela. Depois, artigos e posts de escritores. Sempre com críticas extremamente favoráveis ao livro. Aí, adepto da teoria da conspiração que por vezes sou, eu pensei: "Aí tem coisa. Esses escritores falam bem do Tezza, e ele retribui a gentileza quando eles lançarem seus novos livros" (sempre fico com um pé atrás quando um escritor se derrete por um livro de um contemporâneo). Então, vieram os prêmios: Jabuti,Portugal Telecom... "Prêmios não querem dizer nada", mas, por via das dúvidas, resolvi comprar o livro ( "não é possível que estejam todos participando de uma conspiração", pensei).

Eu tinha uma certa resistência ao livro. Achava que não era possível um escritor escrever sobre a relação entre um pai e seu filho com Síndrome de Down, ainda mais nessas circunstâncias (Cristovão Tezza tem realmente um filho trissômico, e usou muitos elementos autobiográficos no livro), sem cair na pieguice e/ou na autocomiseração. Por causa disso, deixei o livro na estante, na fila.

Aí, o Idelber e a minha blogueira favorita, Camila, na mesma semana, escreveram posts esclarecedores falando maravilhas do livro. Então, eu me dei conta de que estava bancando o idiota. Estava alimentando uma picuinha ridícula contra o livro, antes mesmo de tê-lo lido. Passei-o na frente da fila, e o li em duas noites.

O livro é simplesmente sensacional (se quiserem uma análise mais aprofundada e apropriada, leiam esses links aí de cima. Eu sou apenas um leitor e faço julgamentos como tal). A maneira sincera e desprovida de lugares-comuns e sentimentalismos com que as reações do pai desde o nascimento até a idade adulta do "filho eterno" são narradas - o choque, a negação, a vergonha e, enfim, a vitória do afeto - nos levam a uma estranha empatia pelo personagem. As atitudes e pensamentos nem sempre louváveis, às vezes até cruéis, do pai são desculpados sumariamente. Ele é humano, ora bolas (ele é gente, diria Leonardo Quintão). Será que nenhum daqueles pensamentos passariam pela minha cabeça se eu estivesse no lugar do personagem? E na sua? A mente humana é uma fábrica inesgotável de crueldade. Se não fosse o superego... Com tudo isso, o resultado foi uma narrativa com características confessionais extremamente emocionante e sincera, que conseguiu evitar todas as armadilhas que os romances confessionais que se pretendem emocionantes e sinceros costumam cair.

Esse foi o primeiro livro que li do Cristovão Tezza. E ele deixou de ser para mim aquele escritor cujos livros ficam perto dos do Dalton Trevisan nas livrarias, para ser o autor de uma verdadeira obra-prima. Uma OBRA-PRIMA, na verdade (com maiúsculas mesmo). Você aí, que está lendo esse post e ainda não leu o livro, leia-o. Não perca tempo, leia-o urgentemente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bruno, muito obrigada pela parte que me toca. ;) Sabe que meu trabalho final pro curso do Idelber (se eu conseguir, claro!) será justamente sobre essa "estranha empatia" a qual você se referiu - minha questão de pesquisa é "como é que o autor consegue eliminar o superego odiento tão completamente da voz narrativa?" Diz o Idelber (e o próprio Tezza, aliás, em entrevista ao Paiol Literário) que isso tem a ver com o discurso indireto livre, então estou lendo uma série de coisas para ver se entendo isso um pouco melhor (wish me luck!). Se quiser dar uma chance a outro livro do Tezza, Trapo é ótimo, estou acabando de ler agora. Beijos e boa semana!

Bruno disse...

Camila, "Trapo" já está na fila.E é bom começar a lê-lo assim, bem recomendado.
Que tema interessante você escolheu para o seu trabalho final,hein?! Boa sorte!
Ah,você está ótima lá no Mil Casmurros! bj