segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Estreia no Amálgama

A convite do Daniel Lopes, fiz minha estreia no excelente coletivo Amálgama. Sobre a operação Caixa de Pandora e suas consequências, escrevi "Terremoto no planalto central". Leia lá!

domingo, 29 de novembro de 2009

Abaixo do fundo do poço

Quem esteve no planeta terra nos últimos dias sabe do artigo escrito por César Benjamin, e publicado pela Folha de S. Paulo, em que ele afirma que Lula lhe disse que tentara subjugar um rapaz durante o período em que foi mantido na prisão pela ditadura militar.

Pode-se esperar que um ressentido, com conhecido histórico de problemas de ordem psicológica escreva um artigo nojento desses. Mas o que leva um jornal a publicá-lo? Não só isso, a Folha parece que preparou o terreno para a “notícia” bombástica. Sem mais nem menos, dedicou litros de tinta para falar de “Lula, o filho do Brasil”, sem que nada de novo tenha ocorrido: a apresentação do filme no festival de Cinema de Brasília já tinha sido há mais de uma semana, não houve ainda estreia oficial nos cinemas...E foi com a desculpa de fazer uma crítica ao filme que Cesinha escreveu o texto infame. A Folha não é inocente, ela tem consciência da repercussão que uma “revelação” dessas teria, mas mesmo assim ela resolveu publicar o artigo contendo essa acusação gravíssima contra o presidente da República, sem ao menos procurar Paulo de Tarso, o publicitário que César Benjamin apontou como testemunha da conversa. Mais um exemplo típico de “jornalismo cafajeste” praticado pela Folha de S. Paulo nos últimos anos. Então cabe perguntar: a quem interessa o jogo jogado nesse nível? Hum, deixa eu pensar... Parece que tem um governador, pré-candidato a presidente, muito admirado pelos Frias, que não andou tendo boas notícias nos últimos dias... E é triste que, mais uma vez, segmentos da esquerda façam o trabalho sujo para a direita.

Resumindo: a Folha pegou um artigo nojento escrito por um perdedor desequilibrado, afirmando que, há 15 anos, o presidente da república confessou ter tentado praticar um crime em 1980. Pouco verossímil, para dizer o mínimo. Por que então Cesinha, tão zeloso, não contou essa história antes? Por que não a revelou, por exemplo, em 2006, quando formou a chapa moralista com Heloísa Helena? Por que, até a publicação do artigo, ninguém ficara sabendo dessa história tão cabeluda envolvendo uma pessoa que está em evidência no Brasil há mais de 30 anos?

Paulo de Tarso negou que tivesse havido tal conversa; o cineasta Sílvio Tendler, também presente à reunião, disse que Lula fizera uma brincadeira, “como outras 300”, que qualquer um entenderia como tal, menos o Cesinha, que a transformou num drama; José Maria, ex-candidato e presidente pelo PSTU e companheiro de cela de Lula, disse que César Benjamin “viajou na maionese”, que essa história simplesmente não aconteceu e não poderia ter acontecido; Romeu Tuma, comandante do DOPS à época, e o delegado Panichi, responsável por vigiar Lula na prisão, disseram o mesmo, assim como as outras pessoas que dividiram a cela com Lula; até o tal “menino do MEP” disse que isso é uma mar de lama e “quem escreveu essa história, que a comprove”... Ou seja, ninguém corroborou com a história do Cesinha. Isso dá margem para muita especulação: desequilíbrio mental do autor, dinheiro na jogada... Sei lá, só sei que isso não está cheirando bem e que o jogo jogado nesse nível interessa a uma pessoa, e vocês sabem quem.

PS: O interessante é que até agora ninguém da oposição bateu tambor para essa “notícia”. Por que será?

domingo, 22 de novembro de 2009

Lula, el hijo del Brasil

Veja esse trecho de um pequeno documentário (em 8 partes), realizado pela televisão pública argentina ,sobre Lula, esse cara que cada dia mais me enche de orgulho de nele ter votado todas as vezes que votei para presidente - em 1998, 2002 e 2006.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A última dos patetas da oposição

Quem está acompanhando com o mínimo de interesse os noticiários recentes sabe que ontem, no Festival de Cinema de Brasília, foi apresentado pela primeira vez ao público o esperado filme Lula, o filho do Brasil. Pelos relatos no twitter, o filme agradou ao público presente no festival e foi muito aplaudido. Dizem que é muito bem feito, emocionante e tal.

Não tardou para que a oposição chiasse. “É um claro instrumento de promoção eleitoral, para Lula e para quem mais ele quiser”, disse José Agripino Maia. Representantes da oposição têm dito que o filme tem caráter eleitoreiro.

Como disse a ministra Dilma Rousseff, essa turma é patética, não é? Ora, primeiro, Lula, a pessoa que é retratada no filme, não é candidato, a candidata é a ministra. Segundo, não foi usado um tostão de dinheiro público, nem sequer por meio de incentivos fiscais, para a realização do filme. Por que então seria ele eleitoreiro? Por um acaso a oposição, tão defensora do livre-mercado e da livre-iniciativa, gostaria de censurar uma obra realizada cem por cento com dinheiro privado? A oposição acha que os realizadores têm que pedir permissão para alguém para retratar quem quer que seja num filme? Eles não acham que as pessoas têm direito escrever, filmar, encenar o que elas quiserem? Eles agora são favoráveis ao "dirigismo cultural"?

Ora, o filme poderia ser considerado eleitoreiro se víssemos o seguinte cartaz por aí:

Petrobrás, Eletrobrás, BNDES e Banco do Brasil

apresentam:

Dilma, a mãe do PAC


Como não é esse o caso, nem vem que não tem.

Para a oposição não ficar chupando o dedo, aqui vão algumas sugestões de filmes que eles poderiam tentar produzir e que certamente seriam um sucesso de público:

“FHC, o filho da Sorbonne” (via Hermenauta)

“Os Maias”, sobre a fascinante trajetória de César e Rodrigo Maia (idéia do ministro Paulo Bernardo)

"José Serra, o vampiro do Brasil"

"Agripino, o filhote da ditadura do Brasil"

"FHC, o conquistador brasileiro" ou "FHC, o homem que amava as mulheres"

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

As pessoas e os indivíduos

Há cerca de um mês, eu escrevi um post em que citei Roberto Damatta e seu livro mais conhecido, “Carnavais, Malandros e Heróis”. Voltemos a eles.

Neste livro, o autor apresenta a tese de que há uma diferença básica na constituição das sociedades tradicionais e das sociedades modernas burguesas. Aquelas são constituídas por pessoas, estas, por indivíduos.

Numa tribo indígena, um cara que nasceu filho do pajé não é tratado da mesma forma que o filho de um guerreiro. Na Índia, a lei que vale para um Dalit não é a mesma que vale para um Brâmane. Nestas sociedades tradicionais, existem pessoas que, juntas, formam o todo. Já nas sociedades modernas burguesas espera-se que todos os indivíduos sejam submetidos às mesmas leis, independentemente se ele é filho do Sarney ou se tem um carro do ano.

Claro que essa divisão não é uma coisa tão rígida assim. No Brasil, por exemplo, a dialética indivíduo-pessoa ocorre a todo momento. Veja, quando estou em casa, eu sou uma pessoa: o filho, o pai, o irmão... Ao colocar os pés na rua, imediatamente me torno um indivíduo. Num ônibus lotado sou um indivíduo ladeado por outros tantos iguais a mim; quando chego ao meu trabalho, sou tratado como uma pessoa. No jargão policial: “O indivíduo roubou o carro e fugiu”. Mas quando o bandido é um banqueiro ninguém diz que um indivíduo tentou subornar um policial federal. Os exemplos abundam. A pessoa tem relações, privilégios, um papel definido e não está submetida às mesmas leis que os indivíduos. “No Brasil, (...) o sistema é dual: de um lado, existe o conjunto de relações pessoais estruturais, sem as quais ninguém pode existir como ser humano completo; de outro, há um sistema legal, moderno, individualista (ou melhor: fundado no indivíduo), modelado e inspirado na ideologia liberal e burguesa. É esse sistema de leis, feito por quem tem relações poderosas, que submete as massas”, diz Roberto Damatta.

***
No dia 2 de outubro, dia em que o Rio venceu a disputa para sediar os jogos olímpicos de 2016, na hora do anúncio, eu estava no aeroporto de Brasília, vidrado na televisão. Ao meu lado, uma multidão se aglomerava na ala de alimentação do aeroporto.

Lula deu uma linda entrevista ao repórter Pedro Bassan da Globo. Todos, emocionados, ficaram em silêncio para ouvir o presidente. Muitos com lágrimas nos olhos, inclusive eu.

A certa altura, o presidente disse: “Esses país...”. Um engraçadinho não perdeu a oportunidade de espezinhar: “hahaha. Esses país! Não é esses países, não, gente. É “esses país”. Esse é o nosso presidente!”

Ninguém deu muita bola a esse comentário, a não ser um garoto mal saído das fraldas, que deu uma risadinha. Mas eu fiquei com aquilo na cabeça. Por que será que alguém, num momento daquele, faria aquele comentário? Não fazia sentido. Todos emocionados, comemorando, felizes, e o cara resolve fazer uma piadinha com um banal erro de português do presidente!?

Note que ele fez questão de dizer: “Não é esses países, não, gente. É ‘esses país’”, como que dizendo: veja como eu sei como é o certo.

Pareceu-me que, na esteira do preconceito lingüístico, o subtexto da piadinha do cara era: Eu sou uma pessoa, não um indivíduo, um pé-rapado gentinha que vota nesse analfabeto. Quando confrontado por qualquer porteirozinho de prédio, eu posso dizer: “Você sabe com quem está falando?” Sou cunhado do chefe de gabinete do deputado fulano, sou chamado de doutor, o gerente do meu banco me conhece pelo nome. Uma pena que um monte de indivíduos vote nesse cara que não sabe que o certo é “esses países”...

Como todos nós sabemos, o preconceito lingüístico é primo-irmão do preconceito social. Só pobres, favelados, Zé manés dizem “esses país”. E devem ser ridicularizados por isso, esses indivíduos.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

"Perdi a parada, mas fico contente"


Leia um trecho da bela entrevista de Maria da Conveição Tavares, uma das mais importantes intelectuais do Brasil, ao jornal Valor Econômico:

Valor: Como é sua avaliação do governo Lula?

Conceição: Muito boa. Esta é a minha avaliação e de 70% da população. Na verdade, só a classe média dita ilustrada e a grande imprensa são contra. Contra também não sei o quê. Caiu a inflação. Portanto, mantiveram a política econômica dura que diziam que não iam manter, mas mantiveram. Contra meu ponto de vista. Perdi a parada, mas fico contente que tenha perdido, porque naquela altura ia ser complicado. Como estava tudo fora do lugar, era muito ousado fazer uma política alternativa no início do primeiro mandato. Do ponto de vista da política macro, eles começaram a fazer coisas no segundo mandato. Mas não creio que vão terminar. Fizeram o correto na infraestrutura, contemplando obras nas regiões Norte e Nordeste, como a ferrovia Transnordestina, a Norte-Sul, a transposição do rio São Francisco e portos. O PAC é uma seleção de projetos muito pesada e muito boa, de que não convém desviar. Também acertaram na política social, com o Bolsa Família. O governo Lula está tocando três coisas importantes: crescimento, distribuição de renda e incorporação social. E ainda por cima fez uma política externa independente. Por que acha que ganhamos a Olimpíada? [a escolha do Rio de Janeiro para sede dos jogos, em 2016]. Porque passamos a ter prestígio de fato lá fora.

Aqui a entevista completa.