segunda-feira, 30 de março de 2009

Recadinho para Eliane Catanhêde

A essa altura, acho que todos já devem ter lido ou ficado sabendo da coluna de ontem da Eliane Catanhêde na Folha de S. Paulo. Uma pérola!

Depois de ouvir o discurso de Lula dizendo que a crise foi causada "por comportamentos irracionais de gente branca de olhos azuis" e que não seria justo que a conta fosse paga por negros e índios, a jornalista sentiu-se ofendida e escreveu, com raiva:

"Ser "branca azeda" foi um pesadelo de gerações de adolescentes brasileiras. Passavam horas sob o sol escaldante, sem filtro (nem existia), e tudo o que conseguiam era uma vermelhidão de doer, descascar dos pés à cabeça e, no meu caso, centenas de pintas no corpo e três cânceres na cara. Não tenho culpa de não ser um Michael Jackson às avessas nem por crise nenhuma, muito menos pela maior crise econômica mundial desde a Segunda Guerra. Nem eu nem milhões de cidadãos que não são negros, nem índios, e condenam o racismo com igual veemência. Todo racismo. Lula perdeu uma bela chance de ficar calado, ao culpar os "brancos de olhos azuis" pela crise. E justamente ao lado do primeiro-ministro britânico Gordon Brown -que, segundo a imprensa londrina, ficou "constrangido"".

Bom, lógico, estamos todos com peninha da branquíssima jornalista da Folha. Eu, sério mesmo, me solidarizo com ela. Afinal, ela, por ser muito ingênua, não entendeu o que o presidente quis dizer e acabou se sentindo vítima de preconceito(!). Então, como sou um gentleman, vou mandar um recadinho para ela, tranquilizando-a:

"Cara, Eliane, li sua coluna de ontem e percebi que você não entendeu uma parte do discurso que Lula fez ao lado de Gordon Brown, naquele encontro em Brasília. Às vezes, realmente, não é fácil entender uma ironia ou uma figura de linguagem. O que o presidente quis dizer foi que a crise mundial foi causada por atitudes irresponsáveis de banqueiros e governos de países ricos, do hemisfério norte, habitados majoritariamente por brancos, e que não seria justo que as nações mais pobres, do hemisfério sul, habitadas por muitos negros e índios, pagassem por ela. Ele não disse que ela foi causada por todos os brancos de olhos azuis. Não precisava se ofender tanto, a não ser que você seja uma blue-eyed banker americana disfarçada de jornalista! Portanto, fique tranquila. Não há necessidade de tostar sua pele alva ao sol do meio-dia por causa disso, como você disse, quase me arrancando lágrimas, que gerações de pálidas moçoilas faziam.

Bejim, bejim. Tchau, tchau."

Sobre o mesmo assunto, leia esse post do blog do Nassif.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Watching Brazil

Cartoon de Peter Brookes publicado hoje no site da Times.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Sucessão mineira: conjecturas

Fiquei de cabelos em pé ao tomar conhecimentos das pesquisas para o governo de Minas Gerais realizadas pelo Datafolha e pelo Vox Populi. Uai, não era para menos, elas indicam que Hélio Costa lidera com folga a disputa e, pior, venceria no primeiro turno em alguns cenários. Outro detalhe que serviu para me assustar: Fernando Pimentel tem mais intenções de voto do que o seu adversário interno, Patrus Ananias, o preferido do blog.

Passado o primeiro impacto, acalmei-me: muita água ainda passará por baixo da ponte. Afinal, falta um ano para o início da campanha. Mas, ainda assim, vamos analisar os números.

No cenário em que o candidato do PT é Patrus, Hélio Costa tem 55% de intenções de votos de acordo com o instituto Vox Populi e 41%, pelo Datafolha. Patrus tem 16% e 11%, respectivamente.

Na outra situação proposta, em que Pimentel é o candidato, a vantagem de Costa é menor: tem 47% das intenções de voto pelo Vox Populi e 37%, pelo Datafolha. Pimentel fica com, respectivamente, 28% e 24%.

O provável candidato pelo PSDB, o vice-governador Antonio Anastasia, tem ao redor de 5% de votos em todas as simulações.

Esses números, no entanto, não servem para muita coisa. Quem se lembra quem liderava as pesquisas para presidente da República em abril de 1993? Eu me lembro muito bem, era Lula. E, no entanto, nós sabemos qual foi o resultado das eleições de 94... Lembrei de outra: alguém aí se recorda de quem liderava todas as pesquisas de intenção de voto para o governo de Minas Gerais nesse mesmo abril de 1993? Sim, era ele mesmo, Hélio Costa. Abertas as urnas, em 1994, o atual ministro das Comunicações amargou a segunda colocação, sendo suplantado por Eduardo Azeredo. Como eu já disse, muita coisa ainda vai acontecer até a eleição de 2010. Por isso, Hélio Costa não me preocupa muito, pelo menos por enquanto.

O que mais me preocupa é a disputa interna no PT entre Patrus Ananias e Fernando Pimentel. Se esses números apresentados não nos permite projetar nada para 2010, eles são importantes para a definição dos candidatos. O grupo de Pimentel, com certeza, irá usá-los para convencer o partido de que ele deveria ser o candidato pelo PT, pois está mais bem posicionado nas pesquisas. A Patrus caberá contra-argumentar que a campanha ainda nem começou e que os números das pesquisas se devem ao "recall" (Pimentel acabou de deixar a prefeitura depois de fazer um governo muito bem-avaliado e que quase não enfrentou oposição) e que durante a campanha ele, Patrus, teria mais chances de crescer à medida que forem relembradas a sua revolucionária gestão frente a prefeitura de BH e sua destacada atuação no ministério "do bolsa-família". Enfim, esses números podem acirrar ainda mais a disputa dentro do PT. Administrar essa briga de modo que ela não deixe cicatrizes muito profundas e não impeça o partido de marchar unido vai ser uma tarefa para lá de delicada. Talvez só Lula seria capaz de apartar essa briga antes que ela termine em "derramamento de sangue".

Bom, definido o quadro dentro do PT, começa outra batalha: a eleição propriamente dita. O fantasma de uma vitória de Hélio Costa no primeiro turno me parece que não passa mesmo de um fantasma. Primeiro, a ampla vantagem de Costa se deve, em grande medida, ao fato dele ser o pré-candidato mais conhecido isso sem dúvida tem grande importância nessa fase da disputa). Segundo, as bases de apoio popular tanto de Pimentel quanto de Patrus, principalmente na capital, são muito mais sólidas que a do peemedebista. E por fim, as intenções de voto para Anastasia devem aumentar muito durante a campanha. Ele é muito pouco conhecido e à medida que, durante a campanha, ficar claro que ele é o candidato de Aécio e que ele é o principal mentor e executor do "choque de gestão" do governo estadual, sua candidatura deve ganhar robustez. Com isso, com três candidatos fortes, fica quase impossível que haja uma vitória em primeiro turno.

O crescimento da candidatura de Anastasia é inevitável, pelos motivos que expus acima, por isso deve-se ficar atento para impedir que um eventual racha no PT faça com que Patrus ou Pimentel fique fora do segundo turno. Isso seria uma tragédia (acho que só comparável à eleição de 1990, quando os mineiros tiveram que decidir entre Hélio Costa e Hélio Garcia. Felizmente eu ainda era criança e não tive que optar entre a cruz e a caldeira). Seria muito importante que, além de marchar unido, o PT reestabeleça a aliança de esquerda que ficou abalada nas últimas eleições municipais. Todo esforço é bem-vindo para garantir que o PCdoB de Jô Moraes, o PDT de Sérgio Miranda e o PSB de Marcio Lacerda estejam ao lado do PT. Não vai ser nada fácil costurar essa aliança, existem mágoas e projetos pessoais que a dificultam. Mas em 2010, mais do que nunca, ela é necessária.

terça-feira, 17 de março de 2009

Mix

É, parece que os demo-tucanos andaram lendo esse post do blog. Vou tomar cuidado para não dar mais dicas aqui :-)

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Descobri esses dias: o coleguinha Pedro Nava, grande memorialista brasileiro, foi um dos inventores do futebol de botão. Está lá no "Balão Cativo".

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Concordo com o Rafael Glavão quanto ao Slumdog Millionaire e O curioso caso de Benjamin Button. O primeiro, que foi o vencedor do Oscar de melhor filme, está muito longe de ser o melhor filme que vi este ano. Ele é de uma pieguice... Neste quesito, só perde para o já mencionado Benjamin Button.

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O FHC é um grande piadista. O problema é que as piadas são de péssimo gosto. Não acredita? Veja então as respostas que ele deu no quadro pinga-fogo do programa É Notícia:

Entrevistador: Gilmar Mendes.

FHC: Tem coragem e competência.

Entrevistador: Protógenes Queiroz.

FHC: Nem sei bem quem é, mas me parece que é um amalucado.

Entrevistador: Daniel Dantas.

FHC: Eu conheço pouco, mas dizem que foi brilhante.

Esse é Fernando Henrique Cardoso, grande ídolo da direita brasileira!

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Tenho certeza de que você já ouviu alguém dizer que a dicotomia direita/esquerda não existe mais, não faz mais sentido. Eu mesmo já escutei essa ladainha muitas vezes. E todas as vezes que eu a ouvi foi de alguma pessoa que eu considerava direitista. Por que será?

No seu livro "Direita e esquerda", Norberto Bobbio esclarece: "... numa situação em que uma das duas partes se torna tão predominante que deixa à outra um espaço pequeno demais para ser considerado ainda politicamente relevante, a desautorização da díade se torna um expediente natural para ocultar a própria fragilidade".

quinta-feira, 12 de março de 2009

Meu caso com Baby do Brasil

Não, não é nada disso que vocês estão pensando. Eu vou contar um "causo" que tem como personagem a Baby, entenderam? Então, aconteceu há alguns meses, numa viagem de avião de São Paulo a BH. Ela estava sentada numa poltrona próxima à janela e eu, ao seu lado, no corredor. Baby usava um óculos de sol e parecia não querer muito papo. Tampouco eu, que estava entretido com o meu livro. Ficamos assim: eu na minha e ela na dela.

Mas logo o silêncio seria quebrado. Antes do avião decolar, um senhor calvo, de uns 60 anos, aproximou-se de nós e se dirigiu a ela:

- Boa tarde. Eu estou te reconhecendo... Eu vi um show seu em 72, numa chácara perto de Araçatuba...Você não é a Pepeu?

- Não, não, meu filho. Eu sou a Baby do Brasil, exxxx-mulher do Pepeu -- ela respondeu, pausadamente, articulando bem as palavras. Eu percebi uma boa dose de sarcasmo no seu tom de voz. O cara também percebeu e achou melhor se desculpar, pegar o seu banquinho e sair de fininho.

Depois dessa, o clima ficou um tanto chato. Pus-me a pensar no quão deselegante ela tinha sido com seu displicente admirador, mas logo eu me esqueci do assunto e voltei ao meu livro. Alguns minutos depois, quando o avião já tinha decolado, ela me chamou:

- Menino, psiu!, tudo bem? Como é que você se chama?

- Bruno -- eu respondi.

- Você mora em BH?

- Moro sim.

- Deixa eu te falar uma coisa, eu tô meio cansada, querendo esticar as pernas... Tem como você se sentar naquela poltrona ali, meu filho? -- disse Baby, apontado para uma poltrona vaga situada entre as ocupadas por dois marmanjos que tinham mais ou menos o meu tamanho (tenho 1,84 m de altura). Eu fiquei meio sem reação e acabei indo.

- Claro, claro.

O resto da viagem foi horrível, desconfortável. E eu não conseguia me conformar com a minha passividade. Só porque a Baby pediu, eu saí do meu lugar, que estava ótimo, e fui parar numa lata de sardinha! Eu fiquei me sentindo um idiota. Não era para menos.

Quando chegamos a BH e estávamos esperando as nossas bagagens, eu notei que a Baby foi se aproximando de mim . Na hora que eu percebi que ela intentava puxar novamente uma conversa comigo, eu, por sorte, avistei a minha mala. Corri, peguei-a e sai rapidinho. No mínimo ela ia querer que eu pagasse o táxi dela. Eu, hein!

sábado, 7 de março de 2009

A volta do boêmio e alguns pitacos

A ressaca do carnaval durou mais do que eu supunha, mas agora estou de volta, com as baterias recarregadas. Bom, muita água rolou debaixo da ponte desde o meu último post, né? O assunto dominante dessas últimas semanas foi o do desastrado editorial da Folha de S. Paulo do dia 17 de fevereiro e a resposta grosseira do jornal às cartas enviadas por Maria Victória Benevides e Fabio Konder Comparato . Não vou me estender sobre esse assunto, muito já foi dito . Só quero deixar claro que apóio firmemente a manifestação convocada pelo Eduardo Guimarães, batizada de "Abaixo a Ditabranda", que será realizada logo mais, às 10 da manhã, em frente ao prédio da Folha.

Já que o assunto de hoje é a mídia, intrigou-me muito uma matéria que li ontem no site do Estadão. O título: "MST fecha acordo com empresa suíça para exportar soja". Quando bati o olho pensei: "Uai, uma matéria favorável ao MST no Estadão? Eu devo estar ficando doido!"

Ao ler a primeira frase da matéria pude perceber que, não, eu não estava perdendo a razão. A reportagem começa assim: "Apesar de criticar o agronegócio brasileiro, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começa a exportar soja para a Europa". Ora, onde está a incompatibilidade entre o discurso e a ação? Se uma entidade que defende a reforma agrária critica o agronegócio ela não pode exportar? A exportação de produtos orgânicos produzidos via agricultura familiar não seria uma importante maneira de viabilizar economicamente os assentamentos? Ou será que os assentados, esses comunistinhas, só podem plantar para sua subsistência? Desculpem a quantidade de perguntas retóricas...

Só por essa primeira frase da matéria já fica clara a má-vontade do jornal com o MST, como, de resto, com todos os outros movimentos sociais.

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O NPTO escreveu um post que rendeu comentários interessantes sobre a sucessão presidencial de 2010. Na opinião de alguns comentaristas o candidato tucano com mais chance de vitória seria o Serra, já que Aécio seria fraco fora de Minas Gerais. Eu acho que essa é uma maneira muito simplista de ver a coisa, que deixa de observar algumas potencialidades importantes do governador mineiro. Eu tentei comentar lá, mas acho que o sistema de comentários do blog está com algum problema. Então, reproduzirei o comentário que escrevi para o NPTO:

Esse negócio de dizer que Aécio não tem força fora de Minas, que ele não teria cacife para disputar a eleição presidencial, me parece um grande erro de avaliação.

Eu - que sou petista - tenho muito mais receio de um confronto de Dilma com Aécio do que dela com o Serra. Se o adversário da ministra for o governador de São Paulo sabemos o que esperar: será a direita contra a esquerda. Governo Lula X governo FHC. Ponto final. Agora, se for o Aécio a coisa não é tão simples assim.

O governador mineiro tem muito mais condição de conseguir apoios da esquerda - principalmente o PSB, do Ciro -, e com isso rachar o bloco que hoje está fechado com Lula, do que o Serra. Os apoios ao governador paulista já estão escancarados: PSDB, DEM, PPS, uma parte do PMDB e a grande imprensa. Sem dúvida, é uma rede de apoios importante, mas não espere muita coisa além disso. Já Aécio, com aquele discurso bem mineiro de que ele seria o "pós-Lula", deixando implícito que Serra é o "anti-Lula", pode construir uma base de apoios mais abrangente, menos conservadora. Ou seja, dependendo do taxa de aprovação de Lula em 2010, Aécio pode seduzir setores da esquerda. Serra não. E outra, Aécio não tem o mesmo nível de rejeição de Serra, que é bem alto.

Resumindo: na minha opinião, o Aécio está longe de ser carta fora do baralho. Se eu fosse da cúpula tucana, não fecharia, pelo menos por enquanto, as portas para ele.

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É isso aí, estou de volta. Vou tentar manter aquele velho ritmo do blog: devagar e sempre.