segunda-feira, 14 de julho de 2008

Jornalistas sabujos e parlamentares-atores

Os grandes veículos de comunicação mostraram muitas "preocupações" com os vazamentos do conteúdo do relatório do delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz, sobre os crimes de Daniel Dantas e seus comparsas. Tornou-se um dos assuntos principais, apesar da intrincada trama: quem vazou trechos do relatório?

Em Brasília, congressistas, sempre ávidos por holofotes e CPIs ( Arthur Virgílio, ACM Neto, e assemelhados), calam-se sobre os investigados e seus crimes. Estão mais preocupados em condenar "vazamentos" e "espetacularizações de prisões".

O mais curioso é que esse comportamento, da mídia e dos parlamentares, é diametralmente oposto ao de 2006.

Naquele ano , próximo do dia da votação do primeiro turno das eleições presidenciais, surgiu o episódio do dossiê anti-Serra, bolado pelos "aloprados". A PF prendeu , em um hotel, duas pessoas, um dossiê e uma mala de dinheiro, supostamente para pagar pelo dossiê.

A foto do dinheiro, que comprovou-se manipulada, de modo ao montante parecer maior do que seria na realidade, pelo delegado Edmilson Bruno, reponsável pela apreensão, vazou para a imprensa dias antes das eleições e foram, para muitos, decisiva para a ida da eleição presidencial para o segundo turno. Lembro até de uma frase dele para os jornalistas com quem ele combinou de entregar as fotos: "Tem que sair no Jornal Nacional". E saiu. Uma matéria com vários minutos. Nessa edição, o JN deixou de noticiar o trágico acidente do avião da GOL para dar mais destaque ao episódio dos "aloprados".

Bom, naqueles dias tumultuosos, não se levantou uma única voz da grande mídia ou dos parlamentares-atores para condenar o vazamento das fotos. Era voz corrente na imprensa que as fotos eram um fato jornalístico relevante. Não há dúvida de que eram, mas mais relevante ainda eram como e quem vazou as fotos, além de suas eventuais motivações, como bem anotou o blogueiro Luiz Carlos Azenha, na época. Mas isso só foi divulgado na grande imprensa após a votação do primeiro turno ( ou bem pouco antes dela, não me lembro ao certo), ou seja, quando Geraldo Alckmin, o preferido da mídia, já comemorava sua ida para o segundo turno.

Quanta diferença das reações, não? Em 2006, esperneavam contra os "aloprados", "vítimas" do vazamento, e preservaram o quanto puderam, e compactuaram com ele, o delegado da PF, Edmilson Bruno. Agora, jornalistas sabujos, parajornalistas e parlamentares-atores silenciam sobre o conteúdo do relatório, condenam o vazamento e procuram a todo custo o "vazador". Qual seria a diferença fundamental, entre esses dois episódios, para suscitar reações tão díspares?

A diferença fundamental se chama Daniel Dantas, e sua propalada influência em todas as esferas de poder ( inclusive no quarto poder: a mídia). Isso é só uma mera desconfiança minha..

Esse post é livremente inspirado em outro, escrito com muito mais talento por Luiz Carlos Azenha em seu blog, cuja leitura recomendo para relembrar as armações do delegado Edmilson Bruno, em conluio com alguns jornalistas selecionados a dedo por ele.

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