domingo, 22 de agosto de 2010

Enganos e auto-enganos


José Serra, a pouco mais de 40 dias das eleições, está pelo menos 17 pontos atrás de Dilma Rousseff. Ninguém , nem o mais otimista dos lulistas-petistas-comunistas, poderia imaginar esse quadro há 6 meses. Lembram de como Serra tentou se passar por “Serrinha paz e amor”, imaginando que bastaria ele não cometer erros para a presidência cair em seu colo? Lembram de quando o “Zé” e seus companheiros achavam que a eleição seria barbada pois ele concorreria contra um “poste”? E aquele tempo em que diziam que bastariam os primeiros debates para que Serra destruisse Dilma, como Covas fez com Afif naquele memorável debate em 89 ? Diziam também que Dilma chegaria ao período da propaganda eleitoral obrigatória com intenções de voto ao redor de 20%, pois esse seria o máximo de votos que Lula transferiria para a “guerrilheira”, vocês se recordam?


Os tucanos e seus eleitores diziam isso, e as suas vozes na mídia repercutiam (ou seria o contrário?) Para eles, a eleição seria entre uma paradoxal “autoritária pau-mandado” contra o experiente, preparado, racional José Serra. O povo, a despeito da popularidade de Lula, perceberia isso e seguiria a "massa cheirosa".


Eles não perceberam que estavam fazendo um exercício de auto-engano. Nem Dilma era um poste, nem Serra, um gênio, nem 20% era o teto da transferência de votos de que Lula era capaz. Mas era justamente isso que nos indicavam os colunistas de jornais, os comentaristas da GloboNews e os números DataFolha. Olhando em retrospecto é fácil identificar os erros, mas poucos os perceberam no momento em que eram cometidos. Até o “nosso” Kotscho caiu no conto da precisão cirúrgica da campanha de Serra e do desajuste da de Dilma, lembram?


Mas se no início muita gente se enganou, agora é nítido até para o mais desatento dos brasileiros que a campanha de Serra está naufragando e que os ratos já começam a abandonar o navio. O tucano ainda se debate, tenta se segurar em Lula (afinal são “dois homens com experiência”) ao mesmo tempo em que critica Dilma, mas o presidente diz que tudo o que ele fez foi a “quatro mãos” e que ela é a grande responsável pelo sucesso do seu governo. Essa estratégia tucana, não é preciso ser um gênio para perceber, é furada, está fadada ao fracasso.


José Serra está correndo um sério risco de sair desta eleição menor do que entrou. Perderá a hegemonia nacional no partido - Aécio, ao que tudo indica, será a grande referência da oposição que estará à direita do governo. E perderá também influência no PSDB paulista, que, provavelmente, terá em Geraldo Alckmin o seu maior líder. Veja que curioso: como Serra provavelmente será derrotado em 03 de outubro, resta a ele torcer para que Alckmin também perca em São Paulo; só assim “Zé” seguirá sendo convidado para os jantares da cúpula tucana no Fasano.

1 comentários:

Hugo Albuquerque disse...

Bruno,

Se Serra perder, é fim de carreira política mesmo. O ponto é que o próprio futuro do PSDB depende do tamanho da derrota dele. A Folha depois de um ano e meio de tensionamento pesado, que começa lá atrás com a Ditabranda, desembarcou não só da candidatura Serra como do próprio PSDB. Sim, podemos estar diante de uma virada de rumo impressionante na política partidária nacional.

abraços