domingo, 20 de abril de 2008

Reflexões sobre a questão racial no Brasil

O LLL escreveu uma interessante série de posts sobre a questão da raça e do racismo no Brasil, que rendeu uma discussão mais passional do que deveria; e instou-nos a comentar sobre ela.

A discussão começou quando um amigo dele americano disse que o uso da palavra “nego”, como na frase: “ Nego não acredita mas eu raramente leio blogs”, pode ser considerado ofensivo, racismo. O que ele, e confesso que eu também, discordava inicialmente. Para ele, e para mim, essa palavra era um tratamento comum, sem sentido racial. Mas quanto peso pode ter uma palavra!

O certo é que no Brasil nós temos horror à questão racial. Nós chegamos até ao extremo de negar que ela exista. Nada pode abalar a nossa utopia da “democracia racial.”

A questão racial no Brasil guarda uma diferença fundamental em relação aos EUA, conforme diz esse trecho do importante livro “A utopia brasileira e os movimentos negros”, do Antonio Risério : “ A fusão mestiça brasileira do padê ( expressão de origem ioruba que significa o ato do encontro) é uma coisa; o zelo puritano do aparthaid , outra”. Mas é aí que mora o perigo...

É comum se confundir nossa mestiçagem e tolerância com “democracia racial”. Nada mais enganoso. O racismo no Brasil existe, mas de uma forma mais sutil e não menos opressiva. Ele existe nas entrelinhas.

Veja alguns argumentos de quem defende que não existe racismo no Brasil:

1) “Eu tenho um amigo negro que eu chamo de Negão, mas é com o maior carinho e ele nem liga”. Eu não teria tanta certeza de que ele não liga... Na minha sala , na faculdade de medicina, tinha apenas um negro e o apelido dele era Robinho. Ele passava , alguém dava um tapa na cabeça dele e gritava “pedala, Robinho”; e todos caiam na gargalha, até ele sorria. Um dia ele me confidenciou que achava que era vítima de racismo e se sentia humilhado com isso. Mas como humilhado? É uma brincadeira, até ele ria dela? Por isso, só eles, os Robinhos, os Pelés, os Negões, podem dizer se eles ligam ou não para isso.

2) “Os negros têm mais preconceito que os brancos”. Bom, esse argumento eu não sei de onde saiu. Mas mesmo se fosse verdade, mesmo se os negros tivessem mais preconceito que os brancos, isso seria justificável por razões históricas óbvias...

Eu poderia listar mais dez ou vinte argumentos e rebatê-los um por um. Mas não quero cansá-los...

O que eu concluí depois de ler os posts do LLL, os comentários e o livro do Risério ( que foi uma leitura recente) é que o desejo da “ democracia racial” é tão grande em nós brasileiros que estamos dispostos a impô-la. É como se disséssemos: “ Oh Pelézinho, fica de boa aí. Eu te chamo assim, mas é carinhosamente, sem preconceito. Se tiver achando ruim pode me chamar de “Branquelo” e fica elas por elas”.



Vale a pena ler todos os posts da série. Leia aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

0 comentários: