segunda-feira, 25 de maio de 2009

O jogo que pôs fim a uma era

Eu ainda me lembro bem. O mês era setembro e o ano, 1990. Estávamos eu e meu primo na minha casa, sintonizados na extinta TV Manchete. Assistíamos à transmissão do US Open.Tínhamos ouvido uma conversa, lá no clube onde jogávamos tênis,
que tinha um garoto fazendo sucesso no grand slam dos EUA. Diziam que o moleque sacava muito, fazia ace atrás de ace, só porrada. O garoto se chamava Pete Sampras. Estávamos curiosos para vê-lo em quadra. Ele enfrentaria o nosso ídolo Ivan Lendl pelas quartas-de-final do torneio. Sampras iniciando a carreira, aos 19 anos, e Lendl, já trintão, tentava avançar para sua nona final consecutiva de US Open.

Ivan Lendl foi o jogador dominante dos anos 80. Era um tenista clássico, com golpes potentes e elegantes do fundo de quadra. Jogava atacando o tempo todo, mas raramente se arriscava em subidas à rede. Tinha um belo trabalho de pernas, fruto das aulas de balé que fazia, visando aprimorar sua mobilidade. Foi o último romântico do tênis. Em setembro de 1990 era o número 3 do mundo, atrás dos serve-and-volleyers Stefan Edberg e Boris Becker, eles também tenistas clássicos, só que de outro estilo.

Pete Sampras todos conhecem, né? Ele foi o principal jogador dos anos 90. Um jogador quase completo que tinha no saque sua maior arma, principalmente no começo de carreira.

Mas os anos 90 estavam apenas começando e Sampras, apesar de número 12 do ranking mundial, era para mim apenas o nome de um cara que sacava muito forte. Só isso.

Sampras começou muito bem, não deixava Lendl entrar em jogo. O jovem americano venceu os dois primeiro sets. Eu ainda me lembro da cara embasbacada do meu primo a cada ace de Sampras. Mas, a partir do terceiro set, as coisas pareceram entrar novamente nos eixos. Lendl encaixou melhor seu jogo e venceu os dois sets seguintes com relativa facilidade. No final do quarto set meu primo disse: - Bruno, esse carinha é bom, mas o Lendl é o Lendl - e eu respondi, com a autoridade de um expert em tênis de 9 anos de idade: - Bom nada, ele não vai longe,não. Só sabe dar porrada. Não tem cabeça. O Lendl vai destruir esse moleque no quinto set.

Bom, eu estava ligeiramente enganado quanto ao resultado final do jogo e quanto ao futuro do "moleque". Sampras venceu o quinto set por 6X2. Fez um total de 24 aces naquele jogo. Essa foi a média de saques indefensáveis que ele conseguiu durante todo o torneio, algo espantoso para a época. Ele foi o campeão do US Open batendo, na semifinal, a lenda John McEnroe e, na final, o jovem número 4 do mundo André Agassi.

Para mim, aquela partida marcou o fim da hegemonia do tênis clássico e o início da do tênis-força. O outono do cool Ivan Lendl e o prenúncio da carreira vitoriosa de "Pistol" Pete. O tênis começou a ser jogado de outro modo a partir desse jogo. Sai o romantismo, entra a eficiência. Os consistentes baseliners deram lugar a tenistas que muitas vezes se preocupavam apenas em sacar bem e garantir os seus serviços. E o pior é que isso deu certo por muito tempo. A bem da verdade, até o início da hegemonia de Roger Federer, o tênis-força dominou os torneios jogados em quadra dura e em grama ( talvez por isso quem acompanha tênis há muito tempo tem verdadeira adoração por Federer). Ora, Goran Ivanisevic foi campeão de Wimbledon, lembram? O cara sacava como ninguém, mas não conseguia dar três passos sem tropeçar nas próprias pernas. No entanto, ele confirmava todos os seus serviços e ia para o tudo ou nada nos tie-breaks. O resultado do sucesso desse tipo de jogador foi que o tênis se tornou um esporte chato. Isso levou a ATP a cogitar mudanças para tornar os jogos mais atrativos, para que ocorressem mais trocas de bolas e menos aces: permitir apenas um serviço; diminuir a área de saque; murchar a bolinha; voltar a permitir apenas o uso de raquetes de madeira... Bom, felizmente os anos 90 chegaram ao fim e não foi necessária nenhuma mudança de regra. A própria preparação física e técnica dos atletas resolveram essa questão. Os jogadores de hoje ou são completos ou são engolidos. Os Goran Ivanisevic da vida não têm mais vez.

***
Esse jogo me veio à memória, porque no torneio de Roland Garros, que está se iniciando, o croata Ivo Karlovic bateu o recorde de número de aces em uma mesma partida. Ele fez 55 no jogo contra Lleyton Hewitt ( que diferença daqueles "espantosos" 24 aces de Sampras, hein!). Mesmo assim ele perdeu o jogo. Como eu disse, esse tipo de tenista, que aposta todas as suas fichas no saque, está em baixa. Tomara que definitivamente.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Simonal - Ninguém sabe o duro que dei



Como o prometido, vou falar um pouquinho do documentário "Simonal, ninguém sabe o duro que dei" que assisti no último fim de semana.
Quem ainda não viu o filme e pretende vê-lo, deve imediatamente parar de ler esse post.

O documentário se baseia em depoimentos de contemporâneos, adversários, amigos e familiares do cantor e em imagens de arquivo para montar uma espécie de biografia de um dos primeiros pop stars brasileiros.

Simonal era o cantor mais popular do Brasil entre meados dos anos 60 e início dos 70 graças à sua voz marcante, seu talento inquestionável e seu carisma raro. Era mais popular que Roberto Carlos, ou seja, era o cara! Em vez de cantar Tom Jobim ou Chico Buarque, preferia "Meu limão, meu limoeiro" e Carlos Imperial. Ele interpretava canções despretensiosas, nada engajadas, feitas para dançar. Foi o grande intérprete das canções de Jorge Ben.

Fazer músicas "para dançar" não seria um grande problema se não fosse o período turbulento que o Brasil vivia. Era o Brasil da ditadura, do AI5, da radicalização à direita e à esquerda. Ao que tudo indica Simonal não estava preocupado com política. Queria só saber de dinheiro, "carangos" e mulheres. Isso, lógico, incomodava a nossa esquerda. Posso imaginar o discurso: "Porra, os milicos matando todo mundo e o negão só andando de Mercedes, pegando os brotos e cantando Mó num patropí!"

E aí, bom, aí Simonal, no auge do sucesso, ganhando e gastando dinheiro adoidado, descobre que está quebrado. Ele achava que culpa não era da sua ostentação (o cara tinha 3 Mercedes!), mas do seu contador, que o estaria roubando. Então Simonal o despediu. Era o início do fim.

O contador então moveu um processo trabalhista contra Simonal, que ficou injuriado e pediu para uns amigos policiais darem uma prensa no ex-funcionário. Para piorar as coisas, ele foi levado para o DOPS, onde foi brutalmente torturado. Quando isso veio à tona e Simonal foi chamado a depor, ele, achando que estava sendo esperto, sapecou a seguinte frase: "Sou de direita e tenho muitos serviços prestados à revolução". E disse ainda que o cara fora levado ao DOPS porque era terrorista. Bom, Simonal se declarou de direita, denunciou uma pessoa ao DOPS, cantava musicas consideradas ufanistas... Ora, não havia dúvidas, Simonal era um informante dos milicos, um dedo-duro, um judas!

Depois desse episódio, Simonal começou a ser boicotado: não era chamado para programas de televisão, seus discos saíram das prateleiras, não era contratado para shows, era hostilizado por colegas, detonado pelo Pasquim... No fim das contas, não se falou em Wilson Simonal por quase trinta anos no Brasil. Ele era um pária. Morreu, aos 62 anos, vítima de cirrose hepática causada pelo consumo excessivo de álcool.

Tudo isso aí é contado no documentário. Em minha opinião, é um bom filme, cujo principal mérito é não julgar Simonal. Os diretores procuraram mostras os fatos, as versões, e os expectadores que tirem suas próprias conclusões. No entanto, senti falta de algumas coisas. O documentário toca somente en passant no nome de Carlos Imperial. Ora, quem conhece Simonal sabe da importância que Imperial teve, para o bem ou para o mal, para a sua carreira. Essa influência deveria ter sido mais bem explorada. A sua infância pobre e sua ascensão por meio da música também poderiam ter sido mais detalhadas. Para quem vê o filme, não fica claro como Simonal chegou lá, ao estrelato. Como começou a cantar na noite? Quem foi importante no início de carreira? Onde se apresentava antes de ir para o Beco das Garrafas? Tudo isso ficou sem resposta ou, pelo menos, sem resposta satisfatória. Mas, só pelo fato de colocar o nome de Simonal na boca das pessoas novamente, o documentário já desempenhou com louvor o seu papel.

***

Infelizmente, parece que o filme não anda muito bem das pernas, pelo menos aqui em BH.

Eu já tinha declarado aqui que Simonal ocupa um lugar de muito destaque na minha memória afetiva. Associo a sua música a momentos muito alegres da minha infância e adolescência. Quando ouço "Sá Marina" ou "Mustang cor de sangue" me lembro imediatamente das noites de sexta-feira em que meu pai tomava o seu Whisky, colocava Simonal para tocar e nós ficávamos dançando e conversando até de madrugada. O Simonal foi a trilha sonora dessa fase da minha vida.

Então, quando o filme estreou aqui em BH eu estava todo empolgado: - Agora, finalmente, vão redescobri-lo. Fui ao cinema no domingo, no BH Shopping, um dos mais movimentados da cidade. O cinema estava lotado, mas para assistir a "Anjos e demônios". Na nossa sala tinha apenas seis pessoas, três casais: eu e minha namorada-esposa, um casal de meia-idade e outro, de adolescentes.

Enquanto os adolescentes estavam na maior pegação, nós e o outro casal curtíamos o filme e principalmente as músicas. Estalávamos os dedos e batíamos os pés para acompanhar o ritmo da música: "Camisa verde claro, calça Saint-Tropez/e combinando com um carango, todo mundo vê/ ninguém sabe o duro que dei/ pra ter fon-fon trabalhei, trabalhei"... No final da sessão, trocamos olhares de cumplicidade.

Tomara que, apesar do aparente fracasso de público, o filme contribua para que Wilson Simonal seja finalmente anistiado.

Recordar é viver

Nelson Perez/valor


O presidente da Petrobras, Philippe Reischtul, em frente ao novo logotipo da empresa.
Foto que ilustra a reportagem da Folha de S. Paulo publicada no dia 27/12/2000, cujo título é "Petrobras muda o nome para Petrobrax".

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Um fato, dois enfoques

Dois enfoques diferentes para mesma notícia:

1º) Emprego formal sobe pelo 3º mês, com 106 mil novas vagas
Do "lulopetista" site do Estadão

2º) Criação de emprego com carteira assinada cai 94% no ano
Do "imparcial" site Uol/Folha de S. Paulo

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Wilson Simonal, o cara

Enfim volta-se a se falar em Wilson Simonal. Graças ao documentário "Simonal - Ninguém sabe o duro que dei". Eu ainda não o assisti, mas irei ao cinema vê-lo nesse fim de semana e depois falo do filme aqui no blog.

Aos 14, 15 anos, quando os meus amigos eram fãs do U2 ou sei lá quem, eu era doido pelo Wilson Simonal. Ele ocupa um lugar de destaque na minha memória afetiva. Depois eu conto melhor essa história.

Mas assistam aí esse vídeo até o fim, são pouco mais de 9 minutos. Vale muito a pena! Vejam que maravilha a interpretação de Simonal e Sarah Vaughan da "The shadow of your smile".

Meu caso com Juliana Paes

OK, ok.

Vocês conhecem meu caso com a Baby do Brasil, né? Se não conhecem, vejam aqui. Viram? Pois é, parece que as celebrities brasileiras não vão muito com a minha cara.

Ontem eu estava naquele andar de baixo do aeroporto de Congonhas, esperando meu avião para BH. Aquele saguão estava excepcionalmente lotado, não tinha uma cadeira vaga a não ser a do meu lado. Como não tinha ninguém em pé esperando para sentar, eu me levantei tranquilamente para ir comprar um pão de queijo, como um bom mineiro. Quando eu voltava para o meu lugar para saborear o meu pão de queijo, eu vi uma moça muito maquiada tomando o meu lugar. Era a famigerada Juliana Paes. Eu pensei, tudo bem, eu sento ao lado. Mas ela, não satisfeita, colocou uma mala e um casaco enorme sobre o único assento vago do saguão. Vocês podem imaginar a raiva que eu fiquei...

Mas a raiva aumentou ainda mais quando eu notei que aquele gesto de colocar a mala sobre o assento não era nada fortuito, era para guardar lugar para um cara que estava com ela. E eu tive que comer o meu pão de queijo em pé, encostado a uma pilastra.

Obviamente, fiquei ali, rogando pragas, remoendo. Ah, a vingança não tardou! Quando foi feita a última chamada para o seu voo, ela se levantou rapidamente, se desequilibrou, torceu o tornozelo e quase se estatelou no chão. Não caiu, mas saiu mancando. Bela vingança!

***
OK, ok.

Depois deste episódio, eu me pus a pensar no poder da televisão em glamourizar, em colocar uma aura nas pessoas. O que eu estou querendo dizer, trocando em miúdos, é que essa Juliana Paes não é isso tudo, não. Só lá no saguão do aeroporto tinha umas 10 mulheres mais bonitas do que ela. Se eu não a conhecesse e alguém me perguntasse: - E aí, Bruno, que tal aquela morena?, eu olharia e responderia: - É, gostosinha, né? (Ok,ok, pode descontar um pouco aí por causa da minha antipatia pela moça)

***
E ontem não era exatamente o que eu poderia chamar de "o meu dia". No avião, eu me sentei na poltrona do corredor, ao meu lado, uma daquelas 10 mais bonitas que a Juliana Paes e ao lado dela, um mané. Ele estava lendo uma revista e ela, um livro. Pensei, esfregando as mãos: - Beleza, vou dormir. Eu estava muito cansado. Pois foi só eu pegar no sono e o mané resolveu contar toda a sua vida para a moça. Eu não consegui prestar muita atenção à conversa, mas eu sei que ele disse a palavra empresa 100 vezes e upgrade, umas 80. Era eu cerrar as minhas pesadas pálpebras e ele grasnava: - Empresa! Upgrade!, o que prontamente me despertava. Ela, não sei como, parecia estar muito interessada na conversa mole do mané. Ela sempre respondia: - Legal, interessante.

O que me leva a supor que o mané da história não era o tal mané
:-)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Não diga, Clovis Rossi!

Clóvis Rossi fez uma revelação bombástica na sua coluna de hoje da Folha de S.Paulo. Ele estava defendendo o voto em lista fechada (sou contra, mas não vou entrar nessa discussão agora) e para justificar sua defesa ele soltou essa pérola: "Todos os protagonistas dos escândalos recentes, remotos ou dos que fatalmente ainda surgirão são filhos do voto nominal. Todos."

É realmente espantoso! Num sistema em que o voto é nominal, todos os parlamentares envolvidos em escândalos foram eleitos através de, adivinhe, voto nominal. É por causa de sacadas como essa que continua sendo "indispensável" ler jornais.

Será que vale a pena?


Pouco tempo depois do Kindle 2, a amazon lança agora o Kindle DX, para confundir mais a minha cabeça. Para mim, a grande, enorme vantagem do DX é que ele tem PDF reader, o que me faria economizar quilos de papel e litros de tinta de impressora. O aumento do tamanho não sei se foi uma boa ideia...
Enfim, o grande problema eu acho que é o preço: 489 dólares. Será que vale a pena?