Eu ainda me lembro bem. O mês era setembro e o ano, 1990. Estávamos eu e meu primo na minha casa, sintonizados na extinta TV Manchete. Assistíamos à transmissão do US Open.Tínhamos ouvido uma conversa, lá no clube onde jogávamos tênis,
que tinha um garoto fazendo sucesso no grand slam dos EUA. Diziam que o moleque sacava muito, fazia ace atrás de ace, só porrada. O garoto se chamava Pete Sampras. Estávamos curiosos para vê-lo em quadra. Ele enfrentaria o nosso ídolo Ivan Lendl pelas quartas-de-final do torneio. Sampras iniciando a carreira, aos 19 anos, e Lendl, já trintão, tentava avançar para sua nona final consecutiva de US Open.
Ivan Lendl foi o jogador dominante dos anos 80. Era um tenista clássico, com golpes potentes e elegantes do fundo de quadra. Jogava atacando o tempo todo, mas raramente se arriscava em subidas à rede. Tinha um belo trabalho de pernas, fruto das aulas de balé que fazia, visando aprimorar sua mobilidade. Foi o último romântico do tênis. Em setembro de 1990 era o número 3 do mundo, atrás dos serve-and-volleyers Stefan Edberg e Boris Becker, eles também tenistas clássicos, só que de outro estilo.
Pete Sampras todos conhecem, né? Ele foi o principal jogador dos anos 90. Um jogador quase completo que tinha no saque sua maior arma, principalmente no começo de carreira.
Mas os anos 90 estavam apenas começando e Sampras, apesar de número 12 do ranking mundial, era para mim apenas o nome de um cara que sacava muito forte. Só isso.
Sampras começou muito bem, não deixava Lendl entrar em jogo. O jovem americano venceu os dois primeiro sets. Eu ainda me lembro da cara embasbacada do meu primo a cada ace de Sampras. Mas, a partir do terceiro set, as coisas pareceram entrar novamente nos eixos. Lendl encaixou melhor seu jogo e venceu os dois sets seguintes com relativa facilidade. No final do quarto set meu primo disse: - Bruno, esse carinha é bom, mas o Lendl é o Lendl - e eu respondi, com a autoridade de um expert em tênis de 9 anos de idade: - Bom nada, ele não vai longe,não. Só sabe dar porrada. Não tem cabeça. O Lendl vai destruir esse moleque no quinto set.
Bom, eu estava ligeiramente enganado quanto ao resultado final do jogo e quanto ao futuro do "moleque". Sampras venceu o quinto set por 6X2. Fez um total de 24 aces naquele jogo. Essa foi a média de saques indefensáveis que ele conseguiu durante todo o torneio, algo espantoso para a época. Ele foi o campeão do US Open batendo, na semifinal, a lenda John McEnroe e, na final, o jovem número 4 do mundo André Agassi.
Para mim, aquela partida marcou o fim da hegemonia do tênis clássico e o início da do tênis-força. O outono do cool Ivan Lendl e o prenúncio da carreira vitoriosa de "Pistol" Pete. O tênis começou a ser jogado de outro modo a partir desse jogo. Sai o romantismo, entra a eficiência. Os consistentes baseliners deram lugar a tenistas que muitas vezes se preocupavam apenas em sacar bem e garantir os seus serviços. E o pior é que isso deu certo por muito tempo. A bem da verdade, até o início da hegemonia de Roger Federer, o tênis-força dominou os torneios jogados em quadra dura e em grama ( talvez por isso quem acompanha tênis há muito tempo tem verdadeira adoração por Federer). Ora, Goran Ivanisevic foi campeão de Wimbledon, lembram? O cara sacava como ninguém, mas não conseguia dar três passos sem tropeçar nas próprias pernas. No entanto, ele confirmava todos os seus serviços e ia para o tudo ou nada nos tie-breaks. O resultado do sucesso desse tipo de jogador foi que o tênis se tornou um esporte chato. Isso levou a ATP a cogitar mudanças para tornar os jogos mais atrativos, para que ocorressem mais trocas de bolas e menos aces: permitir apenas um serviço; diminuir a área de saque; murchar a bolinha; voltar a permitir apenas o uso de raquetes de madeira... Bom, felizmente os anos 90 chegaram ao fim e não foi necessária nenhuma mudança de regra. A própria preparação física e técnica dos atletas resolveram essa questão. Os jogadores de hoje ou são completos ou são engolidos. Os Goran Ivanisevic da vida não têm mais vez.
que tinha um garoto fazendo sucesso no grand slam dos EUA. Diziam que o moleque sacava muito, fazia ace atrás de ace, só porrada. O garoto se chamava Pete Sampras. Estávamos curiosos para vê-lo em quadra. Ele enfrentaria o nosso ídolo Ivan Lendl pelas quartas-de-final do torneio. Sampras iniciando a carreira, aos 19 anos, e Lendl, já trintão, tentava avançar para sua nona final consecutiva de US Open.
Ivan Lendl foi o jogador dominante dos anos 80. Era um tenista clássico, com golpes potentes e elegantes do fundo de quadra. Jogava atacando o tempo todo, mas raramente se arriscava em subidas à rede. Tinha um belo trabalho de pernas, fruto das aulas de balé que fazia, visando aprimorar sua mobilidade. Foi o último romântico do tênis. Em setembro de 1990 era o número 3 do mundo, atrás dos serve-and-volleyers Stefan Edberg e Boris Becker, eles também tenistas clássicos, só que de outro estilo.
Pete Sampras todos conhecem, né? Ele foi o principal jogador dos anos 90. Um jogador quase completo que tinha no saque sua maior arma, principalmente no começo de carreira.
Mas os anos 90 estavam apenas começando e Sampras, apesar de número 12 do ranking mundial, era para mim apenas o nome de um cara que sacava muito forte. Só isso.
Sampras começou muito bem, não deixava Lendl entrar em jogo. O jovem americano venceu os dois primeiro sets. Eu ainda me lembro da cara embasbacada do meu primo a cada ace de Sampras. Mas, a partir do terceiro set, as coisas pareceram entrar novamente nos eixos. Lendl encaixou melhor seu jogo e venceu os dois sets seguintes com relativa facilidade. No final do quarto set meu primo disse: - Bruno, esse carinha é bom, mas o Lendl é o Lendl - e eu respondi, com a autoridade de um expert em tênis de 9 anos de idade: - Bom nada, ele não vai longe,não. Só sabe dar porrada. Não tem cabeça. O Lendl vai destruir esse moleque no quinto set.
Bom, eu estava ligeiramente enganado quanto ao resultado final do jogo e quanto ao futuro do "moleque". Sampras venceu o quinto set por 6X2. Fez um total de 24 aces naquele jogo. Essa foi a média de saques indefensáveis que ele conseguiu durante todo o torneio, algo espantoso para a época. Ele foi o campeão do US Open batendo, na semifinal, a lenda John McEnroe e, na final, o jovem número 4 do mundo André Agassi.
Para mim, aquela partida marcou o fim da hegemonia do tênis clássico e o início da do tênis-força. O outono do cool Ivan Lendl e o prenúncio da carreira vitoriosa de "Pistol" Pete. O tênis começou a ser jogado de outro modo a partir desse jogo. Sai o romantismo, entra a eficiência. Os consistentes baseliners deram lugar a tenistas que muitas vezes se preocupavam apenas em sacar bem e garantir os seus serviços. E o pior é que isso deu certo por muito tempo. A bem da verdade, até o início da hegemonia de Roger Federer, o tênis-força dominou os torneios jogados em quadra dura e em grama ( talvez por isso quem acompanha tênis há muito tempo tem verdadeira adoração por Federer). Ora, Goran Ivanisevic foi campeão de Wimbledon, lembram? O cara sacava como ninguém, mas não conseguia dar três passos sem tropeçar nas próprias pernas. No entanto, ele confirmava todos os seus serviços e ia para o tudo ou nada nos tie-breaks. O resultado do sucesso desse tipo de jogador foi que o tênis se tornou um esporte chato. Isso levou a ATP a cogitar mudanças para tornar os jogos mais atrativos, para que ocorressem mais trocas de bolas e menos aces: permitir apenas um serviço; diminuir a área de saque; murchar a bolinha; voltar a permitir apenas o uso de raquetes de madeira... Bom, felizmente os anos 90 chegaram ao fim e não foi necessária nenhuma mudança de regra. A própria preparação física e técnica dos atletas resolveram essa questão. Os jogadores de hoje ou são completos ou são engolidos. Os Goran Ivanisevic da vida não têm mais vez.
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Esse jogo me veio à memória, porque no torneio de Roland Garros, que está se iniciando, o croata Ivo Karlovic bateu o recorde de número de aces em uma mesma partida. Ele fez 55 no jogo contra Lleyton Hewitt ( que diferença daqueles "espantosos" 24 aces de Sampras, hein!). Mesmo assim ele perdeu o jogo. Como eu disse, esse tipo de tenista, que aposta todas as suas fichas no saque, está em baixa. Tomara que definitivamente.
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