E dos empedernidos.
Até os dezesseis anos de idade eu fui capaz de cometer frases como esta, ao ser perguntado se eu era a favor ou contra a legalização do aborto: - Eu sou radicalmente contra, pois sou a favor da vida. Sou um conservador, e nós conservadores por princípio somos contrários a isso.
Sim, essa frase já saiu da minha boca. E minha família se deleitava: - Nós acertamos na criação desse menino. Ele é de ouro!
Eu era o orgulho da família, conservadora até a medula. Afinal, aos quinze anos eu já tinha lido os dois volumes de Lanterna na popa do Roberto Campos, que era meu ídolo àquela altura, defendia com ardor que o Brasil tinha avançado muito durante a ditadura militar e denunciava o esquerdismo que tomava conta da mídia brasileira. Ele é muito maduro para a idade, diziam meus parentes.
Com o passar do tempo, fui rapidamente me deslocando para a esquerda, e aos dezoito já me considerava um socialista. Por causa dessa mudança ideológica tão radical, associada à barba recém-nascida que eu orgulhosamente cultivava, ao cabelo que eu usava cuidadosamente desgrenhado e ao meu voto na chapa Lula-Brizola na eleição de 1998, minha família materna, berço de deputados estaduais, federais e senadores, pela ARENA e pelo antigo PFL, mandou um alerta a meu pai: - Esse menino enlouqueceu. Só pode estar usando drogas!, ao que ele respondeu: -Isso são os arroubos da juventude. Com o tempo ele põe a cabeça no lugar e volta aos eixos.
Já tenho 28 anos e ainda não voltei aos eixos.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
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