sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Eu já fui um direitista

E dos empedernidos.

Até os dezesseis anos de idade eu fui capaz de cometer frases como esta, ao ser perguntado se eu era a favor ou contra a legalização do aborto: - Eu sou radicalmente contra, pois sou a favor da vida. Sou um conservador, e nós conservadores por princípio somos contrários a isso.

Sim, essa frase já saiu da minha boca. E minha família se deleitava: - Nós acertamos na criação desse menino. Ele é de ouro!

Eu era o orgulho da família, conservadora até a medula. Afinal, aos quinze anos eu já tinha lido os dois volumes de Lanterna na popa do Roberto Campos, que era meu ídolo àquela altura, defendia com ardor que o Brasil tinha avançado muito durante a ditadura militar e denunciava o esquerdismo que tomava conta da mídia brasileira. Ele é muito maduro para a idade, diziam meus parentes.

Com o passar do tempo, fui rapidamente me deslocando para a esquerda, e aos dezoito já me considerava um socialista. Por causa dessa mudança ideológica tão radical, associada à barba recém-nascida que eu orgulhosamente cultivava, ao cabelo que eu usava cuidadosamente desgrenhado e ao meu voto na chapa Lula-Brizola na eleição de 1998, minha família materna, berço de deputados estaduais, federais e senadores, pela ARENA e pelo antigo PFL, mandou um alerta a meu pai: - Esse menino enlouqueceu. Só pode estar usando drogas!, ao que ele respondeu: -Isso são os arroubos da juventude. Com o tempo ele põe a cabeça no lugar e volta aos eixos.

Já tenho 28 anos e ainda não voltei aos eixos.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Só faltava essa

Apesar de flamenguista (com muito orgulho!), torci muito para o Vasco hoje. Não, não foi porque eu pensava que o Flamengo tinha chances reais de brigar pelo título e que a derrota do São Paulo seria essencial para continuar sonhando. Eu já estava desencanado disso, estou mesmo preocupado é com a difícil disputa que meu time está enfrentando para conquistar uma vaga na Libertadores da América. E esse jogo entre Vasco e São Paulo não teria nenhuma influência nessa briga.

O motivo da minha sincera torcida pelo maior rival do meu time foi outro. Foi o medo dessa reação da torcida. Temo que se o Vasco da Gama for rebaixado, Roberto Dinamite, o atual presidente do clube, seja responsabilizado, injustamente, no lugar dos verdadeiros culpados: Eurico Miranda e sua herança maldita.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O filho eterno

Li sobre o livro O filho eterno pela primeira vez logo que ele foi lançado, no ano passado. Primeiro li críticas na imprensa. Até aí tudo bem, não acredito muito nela. Depois, artigos e posts de escritores. Sempre com críticas extremamente favoráveis ao livro. Aí, adepto da teoria da conspiração que por vezes sou, eu pensei: "Aí tem coisa. Esses escritores falam bem do Tezza, e ele retribui a gentileza quando eles lançarem seus novos livros" (sempre fico com um pé atrás quando um escritor se derrete por um livro de um contemporâneo). Então, vieram os prêmios: Jabuti,Portugal Telecom... "Prêmios não querem dizer nada", mas, por via das dúvidas, resolvi comprar o livro ( "não é possível que estejam todos participando de uma conspiração", pensei).

Eu tinha uma certa resistência ao livro. Achava que não era possível um escritor escrever sobre a relação entre um pai e seu filho com Síndrome de Down, ainda mais nessas circunstâncias (Cristovão Tezza tem realmente um filho trissômico, e usou muitos elementos autobiográficos no livro), sem cair na pieguice e/ou na autocomiseração. Por causa disso, deixei o livro na estante, na fila.

Aí, o Idelber e a minha blogueira favorita, Camila, na mesma semana, escreveram posts esclarecedores falando maravilhas do livro. Então, eu me dei conta de que estava bancando o idiota. Estava alimentando uma picuinha ridícula contra o livro, antes mesmo de tê-lo lido. Passei-o na frente da fila, e o li em duas noites.

O livro é simplesmente sensacional (se quiserem uma análise mais aprofundada e apropriada, leiam esses links aí de cima. Eu sou apenas um leitor e faço julgamentos como tal). A maneira sincera e desprovida de lugares-comuns e sentimentalismos com que as reações do pai desde o nascimento até a idade adulta do "filho eterno" são narradas - o choque, a negação, a vergonha e, enfim, a vitória do afeto - nos levam a uma estranha empatia pelo personagem. As atitudes e pensamentos nem sempre louváveis, às vezes até cruéis, do pai são desculpados sumariamente. Ele é humano, ora bolas (ele é gente, diria Leonardo Quintão). Será que nenhum daqueles pensamentos passariam pela minha cabeça se eu estivesse no lugar do personagem? E na sua? A mente humana é uma fábrica inesgotável de crueldade. Se não fosse o superego... Com tudo isso, o resultado foi uma narrativa com características confessionais extremamente emocionante e sincera, que conseguiu evitar todas as armadilhas que os romances confessionais que se pretendem emocionantes e sinceros costumam cair.

Esse foi o primeiro livro que li do Cristovão Tezza. E ele deixou de ser para mim aquele escritor cujos livros ficam perto dos do Dalton Trevisan nas livrarias, para ser o autor de uma verdadeira obra-prima. Uma OBRA-PRIMA, na verdade (com maiúsculas mesmo). Você aí, que está lendo esse post e ainda não leu o livro, leia-o. Não perca tempo, leia-o urgentemente.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Qual será a do Pimentel?

Depois das últimas eleições, uma pergunta continua no ar: qual será o destino de Fernando Pimentel? Como todos devem saber, ele deixa a prefeitura de Belo Horizonte no final do ano. No seu lugar entra Marcio Lacerda, o poste que, apoiado por uma aliança Aécio-Pimentel, foi eleito o novo prefeito da capital mineira.

A fofoca aqui em BH é que Pimentel tem 2 destinos possíveis: ou será convidado por Lula para ser o novo ministro do Turismo, ou poderá aprofundar ainda mais a parceria com Aécio Neves, sendo o novo titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, cargo que fora ocupado por Lacerda antes da campanha vitoriosa.

Para ir para a Esplanada dos Ministérios, ele teria que vencer o poderoso grupo de pressão que defende o retorno de Marta Suplicy ao cargo. Além disso, o convite de Lula poderia ser dificultado pelo profundo mal-estar entre Pimentel e uma importante parcela do PT, decorrente da briga que o prefeito comprou com o partido para lançar a candidatura de Lacerda. O eventual convite de Lula seria a melhor saída para Pimentel, pois a segunda opção...

A segunda opção poderia se tornar o suicídio político do prefeito. Se ele for para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, logicamente teria que deixar o PT (o que se especula é que se filiaria ao PSB, partido do poste), como já aconteceu com Tilden Santiago, um dos fundadores do PT no Estado, que há alguns anos também deixou o partido ao aceitar o convite de Aécio para ocupar um cargo no governo estadual . Isso reforçaria o discurso dos críticos da aliança, que argumentam que ela servira apenas para entregar a prefeitura, que há 16 anos é administrada com sucesso por PT e aliados, de mão beijada para Aécio Neves, em nome do projeto pessoal de Pimentel, que teria forçado a barra para viabilizar a aliança, com a promessa de que seria candidato ao governo do Estado em 2010 com o apoio do atual governador. Em suma, na visão desses críticos, ele assinaria o atestado de "traíra". Agora, há um modo desse tiro não sair pela culatra: se Aécio for o candidato a presidente em 2010 pelo PMDB, com o apoio de Lula, e vencer . Aí vai ter gente dizendo que Pimentel foi o craque que anteviu a jogada!

Aguardemos.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Nasce uma estrela

Essa foto do tenista escocês Andy Murray foi tirada há 2 meses, em Wimbledon, durante o confronto entre Grã-Bretanha e Áustria pela Copa Davis. O gênio que conseguiu essa bela imagem? Eu :-)

Esse jogo, que assisti, aconteceu poucas semanas depois de Andy Murray ter participado de sua primeira final de Grand Slam, no US Open, onde ele fez uma campanha excepcional, vencendo Rafael Nadal na semifinal. No entanto ficou um gosto amargo: fora derrotado por Roger Federer, de maneira humilhante, na final. E vocês sabem como são os tablóides ingleses...

Murray, apesar de já ter vencido vários títulos na temporada e de ter feito a final do Grand Slam americano, chegou a Londres sob uma pressão muito grande para enfrentar a Áustria. E ele mostrou que não tem medo de cara feia. Venceu todos os seus jogos convincentemente. Seus companheiros é que fizeram feio perdendo os outros 3 jogos. E o confronto ficou 3X2 para os visitantes.

Bom, esse longo preâmbulo foi para falar de um jogo fantástico que eu assisti hoje: Andy Murray X Roger Federer, pela última rodada da primeira fase da Masters Cup de Xangai. Esse é o último torneio do ano e reúne os 8 melhores tenistas da temporada (dessa vez o nono melhor substituiu o número 1, Rafael Nadal, que não está participando do torneio por estar lesionado).

O jogo começou muito equilibrado e assim ficou até o final do segundo set. Federer venceu o primeiro e Murray, o segundo. Antes do início do terceiro set, Federer, que já estava sentindo uma contusão há alguns games, pediu atendimento médico e começou o set decisivo irreconhecível. E Murray, que não é bobo nem nada, aproveitou-se disso muito bem e abriu logo 3 a 0. O suíço estava abatido e o jogo parecia se encaminhar para um final melancólico. E essa impressão ficou ainda mais forte quando Federer pediu novo atendimento médico. Mas o ex-número 1 do mundo não é de se entregar assim. Mesmo aparentando estar jogando no sacrifício, ele resolveu mostrar sua caixa de ferramentas. Começou a jogar como nos melhores momentos da sua carreira. Quando o adversário achava que vinha um lob, ele dava uma passada; quando esperava uma paulada, ele dava uma deixadinha... Murray, que achou que estava com o jogo na mão, ficou atordoado, e Federer virou para 4x3.

Aí, o escocês achou melhor também abrir a sua caixa de ferramentas, e novamente equilibrou o jogo. A partir daí, aproveitou-se de sua melhor condição física, teve cabeça para jogar bem os pontos decisivos e conseguiu sair com uma vitória que o classificou para uma das semifinais. Agora ele pega Davydenko ( número 5 do mundo). A outra semifinal é entre o showman Djokovic e Simon. Uma final entre Murray (nº 4) e Djokovic (nº 3) seria sensacional. Eles são os únicos tenistas do circuito atualmente capazes de fazer frente a Nadal (nº 1) e Federer (nº 2). Vou ficar de olho.

Murray tem talento, é jovem, tem um preparo físico impressionante e um volume de jogo enorme. Ele tem tudo para vencer algum Grand Slam no ano que vem. Se os 3 jogadores que estão à frente dele no ranking mundial não tomarem muito cuidado, o escocês pode se tornar o grande jogador de 2009. Anotem esse nome: Andy Murray.

Atualização: Foi só eu falar no cara e ele perdeu para o Davydenko! Murray esteve irreconhecível em quadra, provavelmente reflexo do cansaço da batalha de ontem contra Federer. Apesar desse fiasco, ele ainda é minha aposta para 2009.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Conversa de botequim

Conversa que ouvi ontem, numa mesa ao lado da minha, entre dois jovens engravatados, num tradicional boteco de Belo Horizonte:

- Você viu os policiais lá de Pernambuco zoando os presos?

-Eu vi. Mas só zoar não adianta. Eles tinham que ter descido o cacete também.

- Eu também sou a favor de bater nesses caras.

- Mas, lógico, sem causar lesões graves.

- É, claro.

Ah, bom...

domingo, 9 de novembro de 2008

Eu aumento, mas não invento

Coisas engraçadas e/ou inusitadas me perseguem. Acontecem comigo diariamente. De vez em quando, mais de uma vez por dia. Tem gente que acha que eu invento essas histórias, mas eu juro que não. Eu aumento, mas não invento.

Ontem, quando saia para trabalhar à noite, encontrei com um porteiro do prédio que eu não via há um mês:

- E ai, Geraldo, beleza?

- Beleza, Bruno. E você?

- Tranqüilo.

- E ai, como está o Sadam?

- Que Sadam?

- Uai, o Sadam, seu cachorrinho...

- hehehe... Não é Sadam, é Fidel.

- Ah, sei lá, eu me confundo todo com esses comunistas!

-?!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Questão de sorte

Não deixem de ler essa matéria de Bob Fernandes publicada hoje no Terra Magazine.

Como vocês já devem saber, no momento em que escrevo esse post está sendo julgado no STF o mérito do habeas corpus concedido por Gilmar Mendes a Daniel Dantas. Bob Fernandes crava: "se o julgamento se concretizar, prevalecerá o habeas corpus". E justifica sua certeza enumerando várias "coincidências" que devem beneficiar o banqueiro nesse importante julgamento.

Não é motivo para espanto essa quantidade de coincidências. É questão de sorte. Costuma acontecer até com uma certa frequência, principalmente com banqueiros, parlamentares e congêneres. Quem não se lembra daquele cara que ganhou um monte de vezes na loteria? Pura sorte!

Atualização: O habeas corpus concedido a Dantas acaba de ser mantido pelo STF. E ainda temos que ouvir Gilmar Mendes dizer que "estamos virando a página de um juiz que constrangeu um ministro", referindo-se, é claro, ao juiz De Sanctis. É para chorar!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Agora a história é outra



Não há como de referir a esse momento, ou sequer pensar nele, sem emoção: Barack Obama foi eleito de maneira categórica o 44º presidente dos EUA.

Amigos, estamos vendo a história sendo escrita. Os americanos, cansados de 8 anos de escuridão, dão uma chance à esperança. Elegeram um negro, o primeiro a governar a maior potência econômica e militar do mundo. E isso pouco mais de quarenta anos depois de outro negro ser morto por ousar dizer que todos deveriam ter direitos iguais independentemente da cor de sua pele.

Como não se deixar levar pela emoção vendo essa cena?


Como não encher o coração de esperança ao ver um presidente eleito de maneira tão incontestável e com uma vitória tão cheia de simbolismos fazer um discurso da vitória assim, sem ódio, sem arrogância, sem revanchismo?

A eleição de Barack Obama é um daqueles momentos em que mesmo não tendo nenhuma participação importante e decisiva eu me sinto um verdadeiro vitorioso. Sinto-me fazendo parte da história. Em relação a política só lembro de ter me sentido assim duas vezes: nas eleições de Lula em 2002 e 2006.

Agora o mundo volta a olhar para os Estados Unidos com outros olhos. Com mais respeito e admiração. Com esperança de mudança no Oriente Médio, na relação dos EUA com o resto do mundo e no fim do embargo econômico à Cuba.

Os EUA mudarão e o planeta mudará, com certeza para melhor. Resta-nos esperar para ver a magnitude da mudança, mas ninguém pode negar: o mundo será um lugar muito mais seguro para se viver com Barack Obama no lugar que hoje é ocupado por George W. Bush .

* Desculpe pelo texto emocionado. Eu não saberia escrever de outra forma sobre essa eleição que eu acompanhei com tanta emoção e torci com tanto entusiamo.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

It's time


Vixe! Só hoje eu vi. A revista marxista-leninista The Economist endossou a candidatura de Barack Obama . Isso aumenta muito a esperança de John McCain de virar o jogo no finalzinho, pois agora ficaram claras as inclinações socialistas de Obama :-)