Eu já disse aqui que acredito que o socialismo seja o modo de produção ideal para substituir o capitalismo. Vocês também já sabem que sou filiado ao PT. Ora, poderá alguém perguntar, você é socialista e é filiado a um partido que faz um governo social-democrata que você defende com entusiasmo? Você é pra lá de contraditório, hein!?
Estive refletindo muito sobre esse aparente paradoxo em conversas, no twitter e em comentários em blogs, com o
Hugo, a
Flávia e o
Alexandre. De fato, meu coração pulsa socialista. E também petista. E apesar de não ter superado o capitalismo (para Delfim Neto, Lula salvou o capitalismo), considero o governo Lula muito bom. Excelente até, em algumas áreas. Quando se compara com os anteriores os feitos de Lula ficam ainda mais extraordinários. Tenho uma admiração muito grande por ele, donde alguns podem me considerar lulista.
Em minha opinião, não se pode pretender implantar o socialismo, nem que seja o do “século XXI”, de cima para baixo. Poder, pode. O problema é mantê-lo depois sem um nível de autoritarismo muito acima do aceitável. E mesmo assim a chance de dar com os burros n’água é muito grande. Como diz o Hobsbawm: “(...) só o poder ilimitado não podia suplantar as vantagens e habilidades da autoridade: um senso público de legitimidade, um grau de apoio popular ativo, a capacidade de dividir e dominar e – sobretudo em tempos de crise - a disposição dos cidadãos a obedecer.(...) o século XX mostrou que se pode governar contra todas as pessoas por algum tempo, contra algumas pessoas por todo o tempo, mas não contra todas as pessoas todo o tempo”. Portanto, é preciso que as pessoas estejam convencidas de que há uma alternativa melhor que o capitalismo. Isso exige, no mínimo, que as pessoas sejam politizadas, que elas entendam que a política pode realmente interferir nas suas vidas, e que ela não é apenas disputas que alguns espertos travam para ver quem vai ter o direito de roubar o dinheiro público. A melhor estratégia que eu conheço para isso é a gramsciana de ocupar os espaços burgueses (e a internet, claro!) e criar uma nova hegemonia. Essa estratégia, no entanto, é sobremaneira dificultada pelo aburguesamento (Lênin já alertava para esse perigo no começo do século passado) e alienação progressiva da nossa classe trabalhadora.
O caminho, portanto, para se chegar a uma sociedade socialista “sustentável” pode ser longo, incerto e propenso a idas e vindas. Enquanto a revolução não chega, as pessoas precisam comer, ter acesso à saúde, ao lazer etc. Chegamos onde eu queria. A superação do capitalismo ainda não parece iminente, duas forças políticas disputam palmo a palmo poder no Brasil nas duas últimas décadas, o que fazer? Chorar e fazer biquinho? Apoiar uma “terceira via” fadada ao fracasso? Ou lutar para que o pólo de centro-esquerda vença o de direita e consolide as formidáveis conquistas dos anos Lula?
Fico com a última opção, claro. E é assim que lido com essa minha aparente contradição. Acho que a social-democracia não deve ser encarada como o inimigo a ser batido, como foi no passado (com razão, diga-se). Ela é aliada na medida em que é a única alternativa atualmente viável ao neoliberalismo. Além disso, vem mostrando resultados bastante razoáveis nos últimos 7 anos.
Resumindo: meu coração é socialista, petista e lulista. E não considero isso um paradoxo. É questão de estratégia e, claro, pragmatismo.