 Vai chegando o final de 2008 e com ele as listas de melhores do ano. Como eu as adoro, resolvi fazer a minha, uma pequena seleção dos melhores livros de autores brasileiros que li nesse ano. Para isso precisei antes estabelecer algumas condições:
 Vai chegando o final de 2008 e com ele as listas de melhores do ano. Como eu as adoro, resolvi fazer a minha, uma pequena seleção dos melhores livros de autores brasileiros que li nesse ano. Para isso precisei antes estabelecer algumas condições:1) Não entraria releitura. Nesse ano reli Capitães de areia, A morte e a morte de Quincas Berro d’água, Angústia, Vidas Secas..., livros que, não fosse essa cláusula, fatalmente estariam na lista.
2) Daria prioridade a livros mais recentes. Na seleção final entrou apenas um livro anterior a 2006, e logo vocês conhecerão o motivo.
3) Só entrariam livros sensacionais, só ser bom não bastaria.
4) Teria que estar aqui em casa para sair nessa foto acima (ora bolas). Quando tenho a oportunidade de ir à casa dos meus pais, no interior do Estado, eu aproveito e levo os livros já lidos para serem guardados lá, pois o meu apartamento aqui em BH é, digamos, minúsculo. Por isso, a grande maioria dos livros selecionados foi lida na segunda metade do ano.
Esclarecidas as condições, confesso que um tanto aleatórias, vamos aos selecionados:
Órfãos do Eldorado: Esse romance é quarto de um dos maiores escritores em atividade no Brasil, o amazonense Milton Hatoum. O primeiro livro que li dele foi Dois Irmãos, em 2001. Este é ainda o melhor romance dele na minha opinião – já li todos os 4 - e um dos melhores, se não o melhor, livros de autores brasileiros publicados nesse século. Órfãos do Eldorado é ambientado no Estado do Amazonas e utiliza tipos e especificidades locais para tratar de temas universais, o que é uma constante na obra do autor. Hatoum é um tipo raro de escritor: escreve pouco e o pouco que escreve se destina a se tornar uma obra-prima ou, no mínimo, um excelente livro. Com Órfãos do Eldorado, ele fez o que se poderia esperar dele: mais um livro sensacional para o seu currículo.
Baú de Ossos: Esse livro é o único da lista que desobedece a alguma das minhas condições. É de 1972 e foi lido no começo do ano (não sei por que ele ficou aqui no meu apê, talvez porque eu, na época, tivesse ficado tão encantado com o ele que pensava relê-lo em breve). Baú de ossos é o primeiro livro de memórias de Pedro Nava, considerado o maior memorialista do Brasil, e foi escrito já na sua maturidade, quando já era um médico reumatologista muito respeitado. No livro, ele vai contando a história de sua família, desde seus bisavós maternos e paternos até chegar à sua própria infância, tudo bem mineiramente. Outro importante personagem dessa história é Minas Gerais, que tem todas as suas regiões e fases históricas descritas de maneira deliciosa. Enfim, é um livro apaixonante de um escritor sensacional. Ah, por que eu abri exceção para um livro que não atendia a alguma das minhas condições? Porque não consegui deixar de fora o principal livro de um autor que eu li pela primeira vez nesse ano e me apaixonei à primeira lida.
A utopia brasileira e os movimentos negros: Antônio Risério escreveu o que é considerado por muitos o principal livro que trata de raça e racismo no Brasil. Dele, eu só tinha lido um livro de poemas chamado Brasibraseiro, escrito em parceria com Frederico Barbosa, e até esse ano eu não sabia o quão arguto pensador ele era. Em A utopia... Risério faz uma análise muito interessante sobre a inserção dos negros na sociedade brasileira e na americana, desde a chegada dos primeiros negros da África até hoje, destaca as flagrantes diferenças e especificidades e concluí que é um erro o movimento negro brasileiro querer imitar o americano, como vem acontecendo há alguns anos. No decorrer do livro, ele analisa o racismo à brasileira, o papel dos negros no desenvolvimento do futebol e da cultura brasileira, o papel da mestiçagem na integração do negro na sociedade, o erro do conceito de “democracia racial”, que erradamente é atribuído a GilbertoFreyre, e muito mais (nem de longe dá para resumir esse livro em poucas palavras aqui. É preciso lê-lo. É quase que obrigatório). Além do conteúdo, Risério se preocupa muito com a forma. Foge de academicismos e escreve numa linguagem límpida, com um texto saborosíssimo.
O filho eterno: Escrito por Cristovão Tezza, ele ganhou quase todos os prêmios literários esse ano: Jabuti, Portugal Telecom, APCA, Prêmio São Paulo de Literatura, Prêmio Bravo!...Não há muito mais a dizer desse livro além do que já foi dito. Sobre ele, escrevi um post que é um dos mais lidos do blog.
Veneno remédio: Muito acreditam que no Brasil se joga o melhor futebol no mundo. No entanto, ele, o futebol, é pouco representado no nosso cinema, na nossa literatura, e pouco pensado por nossos intelectuais. José Miguel Wisnik deu um grande passo para sanar esta deficiência. Com a "desculpa" de analisar o futebol, ele fez um amplo estudo da sociedade e da cultura brasileira do século passado. Para quem gosta de futebol, e talvez até para quem não gosta, é um livro imperdível, dos mais significativos publicados nesse ano.
Um defeito de cor: Ainda estou na metade do livro, mas já deu para notar que tudo o que disseram dele é verdade. Já é um clássico. Daqui a vinte ou trinta anos, os professores de literatura estudarão esse livro minuciosamente com os seus alunos, assim como os meus professores fizeram com Grande Sertão: Veredas ou São Bernardo. Ana Maria Gonçalves, a autora, narra a história de Kehinde, negra que foi capturada na África ainda com oito anos de idade para ser escrava no Brasil. E reconstitui o Brasil do século XIX, com seus sinhôs e sinhás e escravos, suas relações, as diversas etnias africanas que chegaram ao Brasil naquela época, suas religiões e sincretismos, seus orixás e voduns, suas revoltas, enfim, faz um baita painel da sociedade brasileira daquela época. Esse é aquele tipo de livro que te põe num dilema: você fica doido para ler e saber o que vai acontecer, mas você não quer que ele acabe nunca!
PS: esse post não tem nenhuma pretensão de ser uma crítica literária. São apenas impressões de um leitor comum.
Bruno, passei aqui para te mandar um abraço, foi um prazer te conhecer. Acrescento que gostei muito do seu blog, você tem é de dar um jeito de divulgá-lo mais, porque conteúdo não lhe falta.
ResponderExcluirPaulo, foi um grande prazer para mim também conhecer você e a sua esposa. A noite foi sensacional, o problema foi a ressaca hoje:-)
ResponderExcluirMuito obrigado pela visita e pelos elogios. Vindos de você, fico muito honrado.
Quando vier de novo a BH, me dá um toque para a gente combinar alguma coisa... (brunopinheiro10@hotmail.com)
Um abraço
li o 'Órfãos': maravilhoso.
ResponderExcluirli tmb alguns do Tezza, mas não 'O filho eterno'. você é mais um a indicá-lo. tenho que ler urgentemente.
abraço.
Daniel, você tem que ler urgentemente mesmo!
ResponderExcluirBruno, foi ótimo conhecê-lo no Kaldos, em companhia de outras tantas figuras interessantes. Valeu a noite. Gostei de sua lista e compartilho sua opinião sobre Um defeito de cor, da Ana. Abração, Feliz Natal e... que venham outros encontros. Agora vou passear no seu blog.
ResponderExcluirValeu, Dr Claudio. E que venham outros encontros mesmo...
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